Redes Sociais: A privacidade das crianças na Alemanha.
Eu pensei muito se deveria escrever algum texto sobre este tema, mas ontem decidi que já era hora. Há poucos meses, eu conheci o filho de dois anos de uma conhecida minha. Estávamos em uma tarde agradável todos juntos, mas de repente o menino parou. Ele ficou realmente congelado como o Chaves naqueles episódios em que tinha medo. Eu fiquei sem entender até a mãe me explicar que ele ficava assim sempre que um homem chegava perto. Ela não quis me dar muitos detalhes, mas a cena me chocou de uma maneira que eu tive problemas para dormir naquela noite. Percebi também que o garotinho queria ir até a mãe, mas deixava de fazê-lo porque um homem estava próximo dela. Na cama, horas mais tarde, eu ficava me questionando o que poderia ter acontecido e quem poderia ter feito alguma maldade com um menino tão doce e pequeno. Minha cabeça não parava um só instante. O ponto no qual a sociedade chegou me deixou triste.
Dias depois continuei observando o comportamento dos outros. Então, veio uma reportagem em um noticiário daqui informando que um mágico alemão havia sido preso nos Estados Unidos por causa de pornografia infantil. “Que mundo doente”, pensei. Nós não conhecemos todos ao nosso redor profundamente. Será que todos os amigos e familiares deste mágico sabiam que ele mexia com pornografia infantil? Bem, eu aposto que não. Após observar estes dois fatos, mudei minha concepção sobre a nossa privacidade e de nossas crianças. Principalmente a delas.
Todos nós sabemos (ou deveríamos saber) que um comentário ou uma postagem nas redes sociais pode ter fortes consequências. Até para nós, adultos, refletir sobre nossas palavras e fotos pode ser algo por vezes complicado. Especialmente na hora de ataques de ódio ou paixão, que são fortes emoções que cegam as pessoas e encobrem as consequências dos atos. Imagina agora o quão delicado é este assunto quando se trata de crianças. Estas não têm amadurecimento para refletir sobre o nível destas consequências. Por isso, eu sou contra crianças usarem as redes sociais. Recentemente, um pedófilo fez um perfil do cantor Justin Bieber para conversar com menores e pedir fotos. Nós não temos certeza de quem está por trás de todos os perfis.
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Outro grande problema são as publicações dos próprios pais. Sem brincadeira, eu já vi foto de filhos pelados de amigos, de bikini, com uniforme escolar mostrando onde estudam e até sentados no vaso sanitário. Agora me diz, você colocaria uma foto sua sentado no banheiro lendo um jornal? Por que então expor o filho a tal coisa? Lembre-se que eles nem imaginam as consequências destas postagens e você nem conhece profundamente todos os seus amigos. Algumas pessoas não costumam mostrar os seus lados mais sombrios. Já ouvi gente dizer que em certas redes sociais estaria tudo bem postar fotos. Não, não está.
Podemos responder estas duas perguntas: você colocaria uma foto sua desta maneira na internet? Se seu filho fosse mais velho, ele gostaria que você postasse isso? Se alguma das respostas for negativa, melhor deixar a postagem de lado. As crianças não são responsáveis pelas postagens dos adultos. Está no momento de aprendermos a preservar mais as nossas crianças.
Alguns dos meus amigos raramente postam fotos de si mesmo, mas enchem seus perfis com fotos de suas crianças. Claro que os adultos podem ficar orgulhosos delas, mas internet é coisa séria, mesmo que usemos muitas vezes para nos descontrair. Se quiser mostrar seu filho, mande diretamente a foto para a pessoa de confiança ou poste apenas algumas, mas não escancare a privacidade deles.
Recentemente aqui na Alemanha, alguns pais descobriram que fotos de seus filhos foram usados ilegalmente em sites com os quais não tinham a menor ligação. Estas fotos haviam sido roubadas das redes sociais. Cuidado também com hashtags marcadas nas fotos dos pequenos. Os especialistas falam que publicar fotos e outros conteúdos apenas para amigos não garante segurança, afinal eles ainda podem copiá-las no computador e enviar para outros.
De acordo com um artigo do site alemão T-Online, as mulheres que se sentem mais pressionadas pela sociedade em ser boas mães, são as que mais postam fotos de seus filhos. Após o parto, as mães que têm mais atividades deste gênero nas redes sociais, apresentam mais sintomas de depressão do que aquelas com menos postagens.
Na Alemanha, os pais respondem legalmente pelas fotos dos filhos com menos de 14 anos. Isso é, se algum site quiser publicar a foto de seu filho, é necessária sua permissão. Crianças mais velhas respondem por si mesmo. Por exemplo, se a creche ou escola quiser publicar a foto de uma criança ou um grupo de crianças, será necessária uma aprovação de cada pai/mãe. Se os pais quiserem postar as fotos da festa de aniversário do seu filho, eles devem pedir aprovação dos responsáveis pelas outras crianças que saíram nas fotos.
Na França, os filhos já podem processar (até 45 mil euros) os próprios pais por fotos postadas nas redes sociais. É uma tendência que isso se amplie a outros países. A seguradora privada alemã R+V informa em seu site que de acordo com um estudo realizado, 67% das mães na Alemanha já postaram alguma foto de seu filho. A França e a Alemanha estão entre os países que mais atentam à privacidade dos filhos com relação às fotos publicadas na internet. No Brasil, este número é de 94%. A dica da R+V é que os pais coloquem as fotos em um aplicativo como o Google Drive e compartilhe o link das fotos apenas para as poucas pessoas de sua confiança.
Portanto, queridos pais que leram até aqui, postem com consciência no futuro e lembrem-se de preservar a privacidade dos pequenos. Verifiquem quais fotos vocês têm deles nas redes sociais, deletem qualquer coisa comprometedora como fotos na praia, tomando banho e etc. Se sua criança tem o próprio perfil, converse com ela sobre as consequências de postar na internet e ter contato com desconhecidos. Este tema parece bobo, mas não é. Claro que cada um sabe de si e do que deseja postar, mas a segurança vem em primeiro lugar.
4 Comments
Excelente texto ! Penso da mesma forma …
Nunca fomos d expor a vida do nosso pequeno, sou super contra tbm, tem um ano e dois meses e nunca d fato publicamos seu rosto nas redes sociais, pensando justamente assim em manter sua imagem longe de tanta maldade , porque por trás de tantos perfis não conhecemos um terço se quer !
Quem realmente quer saber como vai, e fotos temos intimidade para mandar, sem necessidade de expor e publicar.
Parabéns pelo texto ??????
Olá, Luciana!
Obrigada pelo elogio ao texto e seu comentário!
Tudo de bom para vc e seu pequeno.
Que texto maravilhoso. Esclarecedor
Olá, Sampaio! Obrigada por sua visita aqui e elogio ao texto! Em tempos de ódio na internet, é muito gratificante ler comentários assim. Um abraço