Se você não acompanhou a parte 1 desse post, veja aqui Arábia Saudita – Coisas boas e ruins – Parte 1
Na parte 1, falei sobre as coisas que acho boas de morar na Arábia Saudita, mas como nem tudo são flores, agora vou falar um pouco das coisas ruins do dia a dia que podem afetar o seu humor se sua decisão for morar por aqui.
1. Crise – Não existe uma crise anunciada, mas o país está lentamente acordando para o fato de que o petróleo não é garantia de riqueza infinita. A gente já começa a perceber demissões e cortes de gastos. Já noticiam que em 2018, começaremos a pagar impostos. Pois é, até lá não se paga imposto nenhum.
A gasolina e a eletricidade, por mais baratas que ainda sejam, sofrem aumentos constantes. Na virada de 2015 para 2016, a gasolina, por exemplo, teve aumento de quase 70%, passou de 37 centavos de reais para 63 centavos por litro. (Valores considerando o câmbio de Março/2017).
Pode parecer bobagem, mas é algo que estamos vendo acontecer. Lojas com promoções praticamente o ano todo e mercados que não repõem mais o estoque. O consumo, está caindo e ainda assim, parte da população continua bem consumista.
2. A Reza – A hora da reza é um problema. Se você não se programar para sair de casa, dança! Todos os lugares fecham por volta de meia hora durante a reza. Lojas, serviços, bancos… Quantas vezes saí de casa, sem olhar o horário e dei de cara com o lugar fechado e por conta disso, ser praticamente mandada embora de uma loja no shopping, porque eles fecham e não permitem que ninguém fique dentro até abrirem de novo. A raiva é tamanha que muitas vezes desisti da compra que ia fazer.
Ah, e o horário não é fixo, a cada dia pode ser uns minutos a mais ou a menos. Então, temos um aplicativo no celular que informa.
No fim da tarde, tem duas rezas que tem um intervalo de uma hora e meia entre uma e outra. Essa é a que me incomoda mais, pois não dá pra planejar nada muito prolongado sem evitá-las.
Só pra constar, são 4 rezas durante o dia, a quinta é na madrugada.
3. Abaya – A vestimenta que temos que usar pra sair na rua muitas vezes eu classificaria como uma coisa boa. Pensa, você está de pijama em casa e precisa ir ao mercado, joga a abaya por cima e vai! Mas pra muita brasileira, a abaya é uma parte ruim, muitas vezes uma das piores partes. Eu me incomodo com ela pois já tropecei, já passei calor e odeio o fato delas não terem bolsos, mas tem que usar, não tem choro.
Porém, percebo que desde que cheguei elas andaram sendo modernizadas. Já temos abayas coloridas na cidade em que eu moro, abayas meio abertas onde dá pra ver um pouco a roupa que está por baixo e por aí vai.
4. Inshallah – Essa palavra foi uma das primeiras que aprendi e ouço diariamente, inúmeras vezes. Significa algo como “se Deus quiser”.
Por um lado, parece bonitinho e tal, mas eles usam pra tudo mesmo. Você vai no banco ou solicita um serviço, pergunta qual é o prazo ou quando fica pronto: a resposta é sempre inshallah. Inshallah amanhã, inshallah semana que vem, no entanto, eles falam de um jeito que parecem realmente estar colocando o prazo nas mãos de Deus e fugindo do compromisso. Você nunca recebe uma resposta concreta e quase sempre, o prazo é o que “Deus quis”, um pouco além do que foi falado e isso, nos leva pro próximo tópico.
5. Demora – A demora nos serviços é de lei. Eles são enrolados, burocráticos, as regras e as leis estão em constante mudança e é bem possível, que a pessoa que o atender não esteja bem atualizada. Quando isso acontece, dizem que o problema não tem solução e te mandam embora. Já vivemos muitas dessas situações com o serviço de telefonia móvel. Às vezes, é só trocar o atendente e aquele problema sem solução, passa ser resolvido em menos de 5 minutos. Outra coisa, quando chega sua vez de ser atendido e você dá o azar de os atendentes estarem conversando ou contando alguma piada entre eles. Eles vão te ver ali, mas só vão realmente ligar pra você quando o assunto deles acabar. E isso não significa que vão apressar o assunto entre eles.
6. Trânsito – O trânsito é caótico. Ninguém sinaliza com o pisca, cortam a frente sem pensar, mudam de ideia em cima do cruzamento e não desgrudam do celular. Não à toa, os carros que circulam estão sempre arranhados, amassados ou quebrados, literalmente caindo aos pedaços e às vezes, até sem vidro, mas continuam circulando. A polícia existe, mas não vejo muita efetividade. É só cruzar a fronteira com o Bahrain pra notar a diferença de um trânsito um pouquinho mais civilizado.
7. Falta de cuidado com o próximo e com o ambiente – O que vejo é uma total falta de cuidado com o próximo. Eu canso de ver, principalmente mulheres, passando no mercado e derrubando coisas sem querer, mas jamais vi alguma dessas abaixar pra juntar o que derrubaram. Tenho a impressão de que o pensamento é o seguinte: “se isso não é meu trabalho eu não tenho que fazer”. Por que juntar uma laranja que derrubei se tem funcionários no mercado para fazer isso? Quanto ao meio ambiente, no início era muito dolorido ter que fazer certas coisas que hoje já me conformei em acostumar. Reciclagem não existe, consumo de plástico é absurdo. No mercado, algumas coisas são embaladas em duas ou três embalagens diferentes, sem muita lógica. Com isso, sacolas e mais sacolas ficam sendo acumuladas em casa.
8. Lixo – Para coroar a falta de cuidado, lixo por todos os lados. Com exceção das áreas nobres, no geral as ruas são mal cuidadas, pavimentação precária, abrem-se buracos no asfalto que são tapados de qualquer jeito sem que refaçam todo o trecho, resultando em ruas recortadas e desniveladas.
Não existe uma urbanização bonita e, fora dessas áreas nobres, em todo o resto se vê lixo espalhado. Os terrenos baldios também não são limpos e as obras são um verdadeiro caos de sujeira e materiais de construção espalhados de qualquer jeito.
Então, essa é a minha visão das coisas boas e ruins do país que moro. Se você está pensando em vir pra cá, espero ter ajudado, lembrando que a vivência e a experiência de cada um é única.
Qual desses pontos seria difícil pra você? Deixe um comentário contando.
Até o próximo post!
6 Comments
Que legal! gostaría de visitar algúm dia e ver todas essas coisas com meus olhos, tristemente é práticamente impossível ir lá de visitar e achar trabalho também é muito difícil…
Oi Juliana,
Em breve o governo vai liberar vistos de turismo, especialmente pra área do Mar Vermelho.
Muita coisa está mudando por aqui, inclusive na parte de trabalho. Eles estão dando preferencia para os locais, tentando trocar a alta mão de obra estrangeira e gerar emprego para os sauditas. Então de fato, a não ser que tenha um currículo bem pesado, cada vez fica mais dificil arrumar trabalho por aqui. Mas quem sabe né?
Ola Gabriela! Obrigado pelo relato, nos ajuda e muito a abrir um pouco a mente e entender como a vida realmente funciona por aí.
Sobre os impostos, agora que estamos em dezembro de 2017, soube de alguma novidade? Estou negociando uma proposta de emprego mas não sabia da possibilidade de ter de pagar impostos.
Obrigado! Tudo de bom!
Oi Paulo.
Pois é, muita coisa aqui vem se transformando, ano que vem o país será outro. Muitas medidas novas estão sendo tomadas e elas vem meio que sem aviso prévio.
Desde já te falo que energia eletrica e gasolina vão subir ano que vem. Quanto ao imposto, serão 5% sobre bens e serviços se não me engano, mas essa taxa não será aplicada à renda. Aparentemente, salários ainda deverão ser tax free, bem como transferencia de dinheiro, pelo que tenho lido. Porém supermercado, eletronicos, etc, esses sim vão sofrer um aumento no preço.
No geral, ainda é bem interessante financeiramente passar um tempo por aqui, além da experiência cultural.
Se vieres com família, vão poder ver de perto as mudanças no que se refere às liberdades da mulher por aqui. Já estamos até cogitando andar de bicicleta! hahahahaha
Oi, Gabriela! Tudo bem? Tenho interesse de trabalhar também como Personal Trainer por aí. Como é o mercado, como está o mercado? O salário banca uma casa? Sei que eles gostam muito de brasileiros…
Oi Guilherme.
Eu tenho recebido muitos contatos de brasileiros que estão recebendo propostas de trabalhar aqui em academias. Tudo depende do quanto vc ganha no Brasil pra saber se vale a pena vir pra cá.
De antemão te digo que a maioria das pessoas que conversei, os empregadores oferecem moradia, mas é dividindo com mais pessoas, ou coisas simples, sem as facilidades de compounds.
Dificilmente vai ter uma proposta irrecusável, daquelas que você vai ganhar rios de dinheiro e viver no luxo, as pessoas acreditam muito nisso. Você poderá ganhar bem e viver bem, mas tem que levar várias coisas em consideração. Vai vir sozinho, vai vir com a família… tem que ver se o empregador está disposto a trazer a família também.
Não sei dizer se o mercado está interessante, se vale a pena abrir mão das várias liberdades que você tem no Brasil, tudo depende da proposta e de como a é a sua vida aí no BR.
Agora, que vale a pena passar um tempo em um lugar diferente para ter novas experiências isso sim vale muito.