Mês passado, quando contei um pouco sobre o lado bom e o outro nem tanto de viver em Buenos Aires, falei do sonho que eu tinha de morar aqui.
É verdade, lá nos anos 90, quando fiz uma viagem de férias pelo sul do Brasil, Uruguai e Argentina, fiquei tão encantada pela cidade tão linda, limpa e encantadora, que resolvi um dia, quem sabe, viver uma experiência “porteña”.
Mas logo depois veio a crise de 2001 (quem se lembra?) e a Argentina quase foi à falência. Todos tiveram, de alguma maneira, que se reinventar para se reerguer e seguir em frente.
Muitos foram para a Europa, outros chegaram, juntaram-se com os que ficaram e mudaram radicalmente a cara da cidade… pelo menos para mim.
Eu me lembrava de uma Buenos Aires de “ar europeu”. Arquitetura, restaurantes, doces (confeitarias, tortas, sobremesas) e os cafés. E quando cheguei de mala e cuia, encontrei outra, completamente moderna.
Desta vez sob forte influência dos EEUU (EUA), como dizem por aqui. São jovens empreendedores que se instalaram no bairro “cool” (expressão usada para se referir à alta popularidade do bairro) de Palermo (comparável ao Soho e a Hollywood principalmente) e ditam as regras “hipsters”.
Em sua grande maioria são profissionais independentes na faixa dos 30 e poucos anos, vegetarianos (e alguns veganos), ciclistas, recicladores, consumistas conscientes, que procuram manter um equilíbrio entre vida pessoal x profissional x social, em prol de uma boa qualidade de vida.
Uma das coisas boas que chegou junto com essa galera da geração – nem sei qual a letra – foram os novos tipos de estabelecimentos gastronômicos.
Passeando a pé ou indo de “Ubber” pelos bairros mais finos e populares, podemos ver confeitarias, “foodtrucks” (uma espécio de caminhão-restaurante), cafés e “delis” (delicatessens), além de estabelecimentos onde você pode comprar comidas e bebidas para viagem (“takeaway”), como “coffee to go” (café para viagem) e “farmers markets” (em tradução livre eu diria “mercado de fazendeiros”) bem ao estilo “LES” (Lower East Side) de Nova Iorque.
Um deleite para pessoas que, como eu, gostam de novas experiências.
Daí você me pergunta:
“-Mas a Argentina não é mundialmente conhecida por ter uma boa carne?”
E eu te respondo:
“-Sim, é verdade, ainda vem muita gente para cá em busca dos famosos “bifes de chorizo” (lê-se tchoriço, ok?).
Mas o fato é que, como toda cidade, os costumes mudam. E hoje, cada vez mais porteños são vegetarianos. Assim, o que antes se resumia a lugares de doces, pizza, pasta, empanada e milanesas com batata frita, hoje oferecem pelo menos uma opção feita só de “verduras”.
E as mulheres também estão contribuindo muito para um resgate importante, que é o de voltar para a cozinha e preparar as próprias refeições. São aulas particulares de receitas de famílias, livros mais vendidos, receitas em revistas de moda e programas na TV.
Não que os homens não estejam participando, ao contrário, pelo meu pouco conhecimento sociológico e demográfico, eu arriscaria um palpite de que os porteños cozinham mais do que os paulistas. Mas a figura feminina, de tanto poder dentro de casa, está marcando uma história bastante relevante nesse sentido.
Veja o caso da Paola Carosella – jurada do Masterchef Brasil. A postura que ela tem nos argumentos e nas avaliações eu vejo em muitas cozinheiras amadoras daqui também. Acredito que em parte pela herança italiana (berço do slow food) e em parte pela educação que receberam.
Outra fonte de inspiração é a cozinheira Juliana Lopez May. Com vários livros publicados ela trava uma luta incessante na TV e nas revistas por receitas de comidas mais saudáveis e que respeitam os tempos da natureza. Vale a pena conhecer seu trabalho.
Que fique muito claro, este texto não tem intenção alguma de converter as pessoas ao vegetarianismo/veganismo, ok? Só estou comentando algo curioso do lado “underground” e que muitas pessoas nem imaginam que Buenos Aires tem.
Agora é hora de lápis e papel na mão (ou seria “smartphone”?) para anotar todas as dicas “veggies” da cidade!
Buenos Aires lado B
- Feiras de Produtos Orgânicos e Comida Pronta para Vegetarianos e Veganos
- Uma vez por semana, em dias específicos pela cidade (geralmente sextas, sábados e domingos), sempre tem feira de produtos frescos, orgânicos e de boa qualidade. As que eu mais recomendo? Sabe la Tierra e Buenos Aires Market.
- Sites de “verdulerías” (quitandas) online
- Produtos orgânicos diretamente da internet para a minha casa. Ótima opção para o meio da semana que estou cheia de coisas para fazer e não consigo tempo para ir à feira. Os que eu mais gosto são: Tallo Verde e Pimiento Rojo.
- Comida rápida, já pronta , “Al Paso”
- Green Eat é o meu lugar favorito para escolher, pegar, pagar, sentar e comer nos dias mais atribulados.
- Opções bacanas para…
- …sair num fim de semana: Sunae Asian Cantina, Green Bamboo, e Bio Solo Orgánico.
- …um gostoso lanche da tarde ou café da manhã: B-blue, Tea Connection e Le Pain Quotidien.
- …pães doces e doces gostosos: Sablée Vegana.
- …enfiar o pé na jaca, mas nem tanto assim: Spring é um restaurante “tenedor libre” que significa, você paga um preço fixo e come até não aguentar mais.
Será que eu deixei algum lugar de fora? Você pode me ajudar a incrementar esta lista!
4 Comments
Maraaaa, adorei!!
😉
Bom dia!!!!
Me chamo Juliana, estou estudando a história da gastronomia Argentina. Estou querendo adaptar as comidas tipicas para a culinária vegetariana. Adorei seu blog.
Fico feliz!
Qualquer dúvida pode me escrever 😉