Cerveja bem, caros leitores:
Que a Bélgica é o país da cerveja, todo mundo sabe. Que o brasileiro gosta muito de cerveja também não é mistério pra ninguém. E o brasileiro na Bélgica, o que acontece? Cria-se um exército de experts e mestres cervejeiros que conseguem realizar um sonho antigo: fabricar sua própria cerveja.
Quem nunca em uma mesa de bar já não disse: a gente podia fabricar nossa própria cerveja, né? Principalmente diante de uma conta astronômica depois de horas bebendo com os amigos. Eu não sei no resto do Brasil, mas em Minas Gerais, mais conhecida como a Bélgica brasileira, posso chegar a afirmar que em cada grupo de amigos, alguém já sonhou e pensou em fabricar sua própria cerveja. No meu grupo de amigos de Viçosa, o Levizão lá em 1900 e guaraná de rolha disse que realizaria dois feitos maravilhosos; o primeiro seria a criação de um cartão de telefone infinito e o segundo seria a fabricação de cerveja artesanal. Farmacêutico de formação e sonhador de carteirinha, meu querido amigo Levi não foi levado a sério por nós, ainda que tivéssemos uma pequena esperança de que suas engenhocas chegassem a funcionar. Orelhões já não existem, não é mesmo? E de repente, o que tem surgido de cervejas artesanais não é brincadeira. E está dando muito certo. É Levizão, você foi um visionário, amigo.
Voltando à Bélgica, um grupo de amigos brasileiros resolveu colocar essa ideia em prática. Inspirados pela oitava maravilha do mundo – a cerveja belga – criaram a “Bierbeek Brewery”. Parte dos idealizadores da Brewery moram na rua Bierbeek – sim, a república deles fica nessa rua, na histórica cidade de Leuven, berço e fábrica da Stella Artois. Há dois anos, o grupo formado por doutorandos e pesquisadores de diversas áreas realizou o sonho de muitos brasileiros e criou sua marca própria de cerveja artesanal. A história de como tudo começou é incerta. Cada um tem sua própria versão sobre o fato, mas todos estão de acordo que a ideia surgiu numa noite regada a muitas cervejas belgas no famoso Café Belge.
São vários os que dizem ser os que tiveram a ideia original, mas Ricardo, Pedro, Oscar, Giancarlo e Cássio, fundadores e produtores da cervejaria têm muitas histórias para contar. Segundo eles, a ideia é fazer cerveja para o consumo próprio e aprender mais sobre o assunto. Quando precisam ampliar ou melhorar os vasilhames eles fazem festa com os amigos e acabam arrecadando o dinheiro. A parte divertida é criar vários tipos e sabores. Além disso, chegaram a produzir cidra. O que descascaram de maçã não foi brincadeira. Então não pense que é fácil; dá muito trabalho. Lavar as garrafas e engarrafar é a pior parte. Até hoje, quem chega lá eles oferecem uma tal de cerveja Tigre e obrigam todo mundo a tomar pelo menos uma. Por que? Para utilizarem a garrafa na produção da cerveja própria.
O que eles não contam é que essa cerveja tailandesa tem uma procedência duvidosa e as más línguas dizem que está vencida há dois anos. Mas eles afirmam que ninguém sofreu danos colaterais até hoje. Bem, não mais que os normais. Além disso, já chegaram a perder duas brassagens por contaminação e outras pelo valor etílico. Mas não pense você que eu estou falando no valor etílico da cerveja, é no sangue mesmo desses meninos. Isso porque toda vez que vão produzir a cerveja é uma desculpa para fazer um churrasco e beber mais cerveja. Giancarlo conta que teve uma vez que erraram em 100 vezes o valor de um ingrediente. Bem pouco, não é mesmo? Mas como ele é gaúcho, os churrascos são impecáveis, garante.
O sul-mato-grossense Cássio explica que na marca do logo da cervejaria impressa nas taças (obrigatório na Bélgica, aqui cada cerveja tem seu próprio copo ou taça) ele escondeu palavras misteriosas o que foi uma surpresa para os outros integrantes. E confessa que tentou de todo jeito que a cervejaria chamasse “Cerveja bem” (você veja bem…), mas que nem todo mundo entendeu esse humor tão refinado. Eu teria apoiado na hora.
Outro querido amigo também montou sua pequena fábrica. Casado com Marisa, Belo Horizontina, Andersen é uma das pessoas mais famosas de São João Nepomuceno, grande pequena cidade mineira. Em Bruxelas desde 2008, finalmente no ano passado resolveu realizar o sonho de produzir cervejas artesanais em casa. Sua marca, Cat’s paw (pata de gato) foi batizada em homenagem a Bambina e Loupie, seus dois gatinhos. Andersen é muito criativo e na hora de escolher o nome das cervejas não poderia ser diferente. Ele já produziu 3 brassagens: a cerveja Selina Kyle (a mulher gato), que é uma American Amber ale; a Monsieur L, uma porter em homenagem ao Loupie, em suas palavras “pretin igual a ele”; e Madame B, Belgian Blond ale, em homenagem a Bambina. Segundo Andersen, fabricar cerveja na Bélgica é muito fácil. Inclusive ele já tinha feito com um kit – pasmem senhores – que vende no supermercado. Atualmente, ele consegue comprar tudo pela internet, todos os materiais necessários e os preços são acessíveis. É aquela coisa, quanto custa realizar um sonho?
Fonte: Bambina, arquivo pessoal.
Se inspirou? Estou até já pensando em nomes para minha fábrica… E para as cervejas…
E aí Levizão, quer uma sócia?
Até!