BRASCON e o Empoderamento da Comunidade Científica Brasileira.
Em meu primeiro post como colaboradora do BPM falei sobre ser enfermeira e cientista cursando doutorado nos EUA. A vida de expatriado nos faz olhar para nosso país de uma forma diferente. Num primeiro momento, queremos nos inserir totalmente ao estilo de vida do novo país. Aqui nos EUA, por exemplo, a gente chega querendo ter amigos americanos, ir ao mercado e aprender a cultura para nos inserir completamente ao estilo de vida americano. Após esse primeiro momento de empatia, passamos a notar diferenças marcantes no dia a dia. Nessas horas em que tudo parece estranho e desconexo, nada melhor do que ter um brasileiro por perto.
Isso também vale para a comunidade científica. Diante das dificuldades na adaptação, saudade da família e amigos ou problemas acadêmicos, bate aquela vontade de sentar com um amigo brasileiro para desabafar e buscar apoio. É possível notar isso numa simples caminhada pelo campus das universidades. Indianos andando com indianos. Chineses com chineses. Se você der sorte de estar numa universidade com um grupo grande de brasileiros, irá grudar neles também. Foi assim comigo quando cheguei por aqui. Posso acrescentar também os grupos no WhatsApp e Facebook que funcionam como um suporte para tirar dúvidas e para amparar mesmo que seja à distância.
O que é a BRASCON?
O que isso tem a ver com a BRASCON? A BRASCON (Brazilian Students and Scholars Conference) surgiu da necessidade de conectar os estudantes de pós-graduação brasileiros espalhados pelos EUA. Tudo começou num encontro para estudantes do Programa Ciências sem Fronteiras organizado pelo Consulado Brasileiro em Nova Iorque aonde a Gisele Passalacqua e eu nos encontramos pessoalmente após aproximadamente um ano de conversas nos grupos de brasileiros bolsistas da CAPES pelo Facebook e WhatsApp. Nesse encontro, fomos convidadas a falar da experiência com a CAPES e a LASPAU. O encontro foi excelente, mas percebemos que a maioria dos participantes cursavam a graduação ou faziam intercâmbio e não permaneceriam muito tempo nos EUA, ao contrário de nós (já que o doutorado dura pelo menos quatro anos).
Leia também: Apostila de Haia, onde e como fazê-la
Ficamos nos sentindo meio desoladas, pensando “poxa vida, não vamos conseguir nos encaixar”. Até que a Gisele, iluminada, disse: “e se a gente criar uma conferência?” Eu topei na hora. A Gláucia Ribeiro da LASPAU se prontificou a ajudar. Em seguida, a Gisele postou no grupo do Facebook e WhatsApp e a Vanessa Dias e a Camila Zanette se juntaram a nós. Coincidentemente, só mulheres responderam a este primeiro chamado para organizar a conferência apesar de muitos se mostrarem interessados em participar do evento. Cada uma de nós colaborou com o que sabia, aprendeu uma com a outra e a coisa foi crescendo.
Entendemos que fazer um encontro não seria suficiente. Para alcançar o empoderamento necessário, precisaríamos de palestras, discussões, debates e apresentação de trabalhos. Precisaríamos dar espaço e voz para os pós-graduandos e também aprender com a experiência dos cientistas que nos antecederam. O time BRASCON, naquele momento era composto por mim, Gisele e Vanessa com suporte da Gláucia. Abrimos vagas em marketing, recrutamento, finanças, entre outros para aumentar o time e estabelecermos um plano de ação e novas metas. Enviamos e-mails, mensagens no WhatsApp, posts no Facebook e sinais de fumaça!
Pentelhamos os amigos, maridos, namorados, conhecidos para nos ajudarem com tarefas que não dominávamos. Viramos noites dando conta dos compromissos da BRASCON e estudando para as provas da faculdade. Fizemos reuniões aos sábados, domingos e feriados. Ligamos uma para a outra de madrugada. Dormimos debruçadas sobre o material, mas acima de tudo, compartilhamos os mesmos sonhos, a mesma vontade de fortalecer a nova geração de cientistas brasileiros e conseguimos “contaminar” outras pessoas com esse “vírus” da BRASCON. O time de três mulheres sonhadoras virou um esquadrão de 20 pessoas espalhadas por 14 estados americanos. As reuniões passaram a ser divididas por área e fuso horário. Batemos nossas metas e após 2 anos de MUITO trabalho, tivemos a primeira conferência.
As Conferências
A primeira edição da BRASCON aconteceu em 12 e 13 de março de 2016 em Harvard. Tivemos a presença dos Drs. Miguel Nicolelis, Marcelo Gleiser, Cristina Caldas, Leonardo Maestri, entre outros. Foram dois dias de palestras, networking e muito trabalho. Mais de 30 trabalhos na sessão pôster e 10 apresentações orais, com premiação para os melhores de cada categoria.
A segunda edição da BRASCON aconteceu em 11 e 12 de março de 2017 na University of Southern California, com a presença dos Drs. Roberto Alvarez, Angela Olinto, Marcus Dutra e Melo entre outros. Além das palestras, painel de discussão, apresentação de trabalho e premiações, tivemos workshop para desenvolvimento profissional com a Cia. de Talentos e feira de oportunidades. A terceira edição da BRASCON será em junho de 2018 na Ohio State University.
Empoderamento
Quem participa da BRASCON se sente empoderado e acolhido. Sai da conferência com novos amigos, parceiros para colaboração profissional, opções para trabalho e estágio. Conversei frente a frente com cientistas brasileiros bem-sucedidos que superaram os problemas da fase de adaptação. É uma grande fonte de inspiração. Acima de tudo, quem participa da BRASCON entende o senso de comunidade científica e como é importante contribuir para o fortalecimento deste grupo.
A BRASCON é fruto do trabalho voluntário de um time de jovens cientistas engajados em contribuir para uma comunidade de grande impacto na ciência, tecnologia e empreendedorismo. Durante o ano, nos desdobramos para organizar os dois dias de conferência que incluem palestras, workshops, apresentação de trabalhos, premiação e feira de oportunidades. Nosso pagamento é o empoderamento da comunidade científica brasileira.
Agradecimentos
Quero encerrar este texto com agradecimentos. Agradeço, em primeiro lugar, minhas companheiras de fundação da BRASCON – Gisele Passalacqua, Vanessa Dias e Gláucia Ribeiro. Gratidão e carinho por cada uma de vocês.
Agradeço também aos colegas que doaram seu tempo para a BRASCON 2016 e 2017 acontecerem. Felizmente foram muitos voluntários, mas destaco, entre voluntários e parceiros: Raquel Rocha, Karina Esparza, Jessica Akemi, Fernanda Gushken, Tassia Pereira, Flavio Cruz, Silvia Nishioka, Cristiano Reis, Luiz Felipe Ungericht, João Vogel, Guilherme Rosso (Rede CsF e agora Emerge) e Frederico Menino. Nossos parceiros da BRASA, SciBr, COURB, CAPES e LASPAU (Glaucia, Erik, Jamima, Aline).
Agradeço a Paula Martins da BRASA OSU e a Jane Aparecido do Brazil Gateway pela parceria para BRASCON 2018. Ao Dr. Roberto Alvarez pela consultoria. Agradeço a Embaixada dos EUA, ao Consulado Brasileiro de Nova Iorque e Los Angeles; e a Lorrane Nascimento e a Sra. Luciana Mancini da Embaixada do Brasil em Washington, DC pelo apoio.
Agradeço ao time da BRASCON 2018 e os parceiros Karin Calvinho e Pedro Tonhozi que encabeçam a liderança comigo. Desculpem se esqueci de alguém! Meu agradecimento especial para os palestrantes, instituições, empresas e participantes das edições 2016 e 2017 e para os que virão nas próximas edições!
Encerro este texto com um convite para participar da BRASCON 2018. Venha apresentar seu trabalho, participar de palestras, workshops e feira de oportunidades, fazer networking com a comunidade científica brasileira e contribuir com sua experiência. Vem pra BRASCON!