Quando eu voltei ao Brasil tive uma noção de que financeiramente as coisas seriam mais difíceis do que quando eu vivia na Ásia, mas só não fazia ideia do quanto!
Parece lei de Murphy (aquela que diz que se algo pode dar errado, dará) mas quando vivíamos fora do Brasil e recebíamos em dólar, o dólar estava em baixa. Daí quando voltamos ao Brasil e voltamos a ganhar em reais, o dólar…TRIPLICOU e a inflação subiu de forma galopante.
Em um ano aqui gastamos todas as economias que juntamos em seis anos de trabalho no exterior. Boa parte desse desequilíbrio econômico se deu por conta dos gastos com educação. Aqui em casa ninguém faz questão de luxo, frescura ou restaurante caro, mas de escola e cultura, isso não abrimos mão.
Apesar de sabermos que em Brasília há excelentes escolas públicas, chegamos aqui no meio do ano letivo, o que inviabilizaria um início imediato nas aulas, e como a nossa filha chegou aqui falando inglês teria uma certa dificuldade de se adaptar de imediato a uma escola completamente brasileira, tanto pela língua como pela cultura.
Não tem jeito, crianças que vivem fora voltam para casa em uma outra “radiofrequência”, por isso não hesitei em comprometer metade do salario do meu marido para pagar a melhor escola que encontrei. Esse investimento garantiu a ela um ensino bilíngue com abordagem internacional e forte enfoque em valores humanos e arte.
Com quatro anos, minha filha sabe quem é Klimt, Van Gogh e Frida Kahlo e não corro o risco dela voltar pra casa rebolando e cantando o funk das poderosas, um hit em várias escolas de educação infantil (sim, acredite se puder!)
O choque econômico quando a gente voltou foi terrível.
Saímos de um apartamento enorme, em um condomínio que tinha quadra de esportes, piscina, playground, spa, etc e mudamos para um apartamento minúsculo sem nenhum benefício extra pagando quatro vezes o valor do imóvel anterior.
Ficamos ainda mais limitados porque não trouxemos mobília nem eletrodomésticos, o que nos obrigou a alugar um apartamento mobiliado, que é muito mais caro do que um vazio. Aliás fica aqui um conselho muito importante: traga tudo que você puder. Mesmo que o envio pareça muito caro, sairá muito mais caro comprar tudo de novo aqui.
Moradia consome praticamente o resto do salário, então desde que voltamos, diversos “luxos” já foram cortados do nosso orçamento: shows, livros, aulas de pintura e o mais doloroso de todos – viagens! E minha síndrome do eterno viajante, como fica?
De acordo com um ranking realizado pelo site colaborativo Expatistan, entre as 230 cidades mais caras de todo planeta, 15 estão no Brasil, sendo a campeã o Rio de Janeiro. Já o site Custo de Vida, que conta com a ajuda de internautas para manter atualizados os dados sobre o custo de vida nas diversas cidades brasileiras, as cinco cidades mais caras do Brasil são: São Paulo, Santos, Barueri, Brasília e Rio de Janeiro, nessa ordem. No entanto, de acordo com dados de uma pesquisa realizada pelo Banco Central, Brasília é a cidade com o maior custo de vida do Brasil. De acordo com esses dados, a campeã na alta do custo de vida seria Brasília, com cerca de 15%, seguida por São Paulo com cerca de 9%.
Morar no Brasil é caro e viver em Brasília, caríssimo.
O aluguel de um quitinete mobiliado no plano piloto de Brasília pode custar entre 1.500 e 2 mil reais por mês, fora o condomínio, praticamente o mesmo preço de um apartamento quarto e sala sem mobília.
Um apartamento de dois quartos sem mobília pode custar de 2 mil a 3.500 reais, dependendo da localização.
Em Água Claras e no Guará, cidades satélites do Distrito Federal, esse preço cai bastante.
De acordo com o site Custo de vida, o investimento em educação é mais ou menos assim: mensalidade pré-escola, cerca de 850 reais, ensino fundamental, 950 e ensino médio 1.250 reais. Esses valores praticamente triplicam no caso de escola internacional.
O gasto com alimentação também é um vilão no orçamento doméstico. Em alguns locais com alta concentração de trabalhadores, como em frente a alguns ministérios ou grandes empresas, é possível encontrar marmitas por até 10 reais, mas se você não tiver essas opções pode pagar até 50 reais em uma refeição mediana em um restaurante por quilo.
A situação econômica está desconfortável, mas em compensação, trabalhamos no que amamos, comemos pão de queijo todo dia, temos o pôr do sol mais lindo do mundo, uma casa cheia de gente barulhenta e feliz e o privilégio de morar num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza – mas que beleza!
23 Comments
Não sei em Brasília, mas quando eu dava aulas em escolas publicas meus alunos sabiam quem eram Portinari, Tarsila do Amaral, Villa Lobos…
E se fosse comprar um apartamento próximo de Brasilia, acho que escolheria Aguas Claras, que é o lugar mais parecido com o ABC Paulista, e fica mais familiar para mim, rs…
É também mais em conta e tem condomínios mais humanizados, o problema é que quando chove o bicho pega! rs
O Brasil está numa adolescência atípica, me parece! Oscila entre ter e não ter moeda forte, entre ser acolhedor e país hostil, entre democracia e democradura. Vagar por esses tempos traz esse baque: ver um dólar comer 4 reais por vez, ver um custo de almoço equivaler a 1/4 de combustível, sofrer na pele a desvalorização daquilo que é essencial. “Todo mundo vê as pongas que eu tomo, mas não vê os tombos que eu levo”. Linda reflexão, Fabi!
Pois é bem isso! Difícil de lidar como em toda a adolescência, né?
bjs flor, e obrigada pela visita!
Bem por ai mesmo Fabi!!! uma realidade, mais a beleza desta terra , compensa mesmo.
E a beleza de nossa gente também né?
Texto esclarecedor, Fabi! Eu é que sei o custo de uma quitinete no Plano Piloto. Porém, Brasília tem suas compensações (apesar do preço a ser pago…e que preço). Não posso reclamar do valor do curso superior (aproveitei para me matricular em uma universidade à distância). Quanto ao lazer, a carteirinha de estudante “me salva” em função da meia-entrada. Grande beijo.
Pois é, eu que não tenho carteirinha fico indo atrás de atividades gratuitas, como o Luiz Melodia no último sábado. 🙂
Oi Fabi, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro realiza concertos todas as terças feiras,e eles são sempre gratuitos. Em janeiro a orquestra está de recesso, mas a partir de final de fevereiro os concertos são sempre retomados.Pelo motivo do teatro estar interditado/em reformas, eles estão sendo realizados no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, ou no Oratório do Soldado. A Casa Thomas Jefferson(906 sul) também realiza, todas as sextas feiras, a partir de março, recitais de música de câmara totalmente gratuitos. A Caixa Cultural costuma apresentar espetáculos teatrais de bom, nível a preços módicos, meia a 10inteira a 20 reais.Um abraço!
Muito boa a matéria, relata a pura realidade que vivemos!
Muito obrigada querida! Valeu pela visita!
Incrível amiga Fabi Mesquita, bem o que penso e sinto sobre o nosso Brasil.
Muda tudo quando a gente sai daqui né? Saudades
bjs
Meu sobrinho trabalhava na embaixada do Brasil na Indonésia . Foi transferido para Paris e está sentindo este ” baque”. Recebe em dólar e gasta em euros . Está louco para voltar para o Brasil. Vai ser outro susto
Vai ser mesmo puxado! Tenho vários posts sobre a difícil adaptação na volta pra casa. Dá uma olhadinha lá! bjs e obrigada pela visita 🙂
Com certeza Brasília é a mais cara…e de longe a mais cara!
Saí de Santos e moro em Brasília. Em Santos aluguei meu ap. novo, varanda gurmet em condomínio com lazer completo quase pela metade do preço do que tive de alugar um em Brasília, velho, cujo unico lazer é sai caminhando/tropeçando pelas calçadas públicas. Sem falar que é a metade do tamanho do de Santos…mas viver em Brasília é mais emocionante….rs
Hahaha otimismo é tudo
Só não sei se emocionante é o termo ….rs
Legal a constatação de que BSB é mais cara. Sou paulistana, região da Bela Vista, também cara, mas com oferta de diferentes estilos de vida, com os quais podemos dialogar, coisa que em BSB é praticamente impossível. Posso dar o exemplo do acesso à vida cultural. Em Sp há dúzias de opções todos os dias e por mais limitado que pareça o perímetro alcaçado pelo transporte público, você chega. Agora, devo discordar do comentário sobre o funk na criação de uma criança que tem tudo para ser plural e aberta às diversidades. Estou morando no Rio e reconheço que é um estilo musical distante para mim, mas repleto de significados para as mulheres, inclusive, no trato das sexualidades. Abraço 🙂
Eu também concordo que o funk, assim como o rap, tem uma infinidade de significados, mas acho que a maneira como a coisa rola, trata as crianças em um âmbito de erotização precoce que me incomoda…
Bem dido, Fabi! Amo Brasília, eu me sinto em casa aqui, mas realmente o custo de vida é ALTISSIMO. O preço é alto para morar no plano piloto. Entretanto, como antes do Brasil eu estava em Londres, lá é ainda mais complicado, então eu não posso nem reclamar tanto, vivia em um micro apt, no centro da cidade e pagava caríssimo! Aqui isso não mudou muito, porém, temos o calor tropical 😛
O calor até ajuda, já a secura! hahahah obrigada pela visita! bjs
Bom dia Fabi, gostei de tudo que vc escreveu, parabéns. Tenho muita vontade de arrumar um emprego no exterior, já estou cansado de tanta dificuldade financeira, e sem falar na violência q toma conta da minha cidade, onde bandidos invade as casas com moradores dentro e muitas vezes matam e estrupam e as autoridades fecham os olhos e viram as costas. Temo pela minha familia q passa o dia sozinha em casa, tenho só um filho de (01) um ano. Mas se aparecer qualquer trabalho fora do brasil eu vou.
Oi, obrigada pela tua mensagem
Realmente a vida não está facil, mas não está facil em lugar nenhum, a vida de um expatriado por vezes pode ser ainda mais difícil fora do Brasil, emm outra cultura e lingua, do que no seio de sua própria família. Desejo boa sorte pra vc