Era uma noite de inverno em São Paulo e eu assistia televisão debaixo das cobertas quando um comercial me intrigou. Nele havia cores, músicas e piruetas que eu jamais havia visto na vida. Fiquei encantada com aquele circo de nome estranho, o Cirque du Soleil.
Curiosa, no dia seguinte pesquisei na Internet para saber do que se tratava aquele espetáculo, de nome Saltimbanco – saltimbanco é um dos integrantes de um grupo de atores nômades que vão de um povoado a outro fazendo exibições de circo e comédia em troca de dinheiro ou comida e hospedagem, de acordo com o dicionário da língua portuguesa – e então encontrei os bilhetes à venda por um preço exorbitante. Pensei comigo mesma: “Esquece, muito caro!”. Apesar do desapontamento com os preços, continuei minhas pesquisas e descobri que se tratava de um circo reconhecido mundialmente, com diferentes shows itinerantes ao redor do mundo, e alguns outros fixos nos Estados Unidos. Escutei algumas das músicas mais conhecidas e me apaixonei pela diversidade dos sons e histórias de cada um dos shows. Ali nasceu uma fã do Cirque du Soleil.
Passados alguns dias e eu, com meus dezoito anos recém completados – o que me dava o direito de trabalhar com carteira assinada-, recebi um telefonema de uma amiga querida do colégio no qual eu havia me formado há alguns meses e que trabalhava em uma agência de marketing que contratava equipe para eventos. Ela me perguntava se eu estaria disponível para começar um contrato temporário no dia seguinte. Sem saber muito bem do que se tratava mas precisando de dinheiro, disse que sim! Fui até a agência com mais duas amigas e após uma breve conversa com a pessoa que estava encarregada do processo de contratação, ela nos disse para estarmos no dia seguinte em frente à tenda do Cirque du Soleil e procurarmos por uma pessoa chamada Ferran. Pensei: “O que? Ela disse Cirque du Soleil? Ferran? Que nome diferente…”. Como eles precisavam de muitas pessoas para completar o time, indicamos algumas pessoas, e foi assim que meu irmão e alguns outros amigos também conseguiram fazer parte desta aventura.
No dia seguinte chegamos no portão e fomos recebidos por Ferran, um espanhol que arranhava um portunhol e que sem muitas explicações nos levou à temps tent, a tenda dos temporários. Lá estava todo o pessoal considerado staff (equipe) local esperando para serem chamados para trabalhar e começar a fazer aquele show acontecer. Descobri que eu seria usher, mas não fazia ideia do que isso significava. Eu e minhas amigas estávamos perdidas ali no meio daquele pessoal todo vestido de preto. Eis que de repente, no meio de nós surgiu uma figura maquiada e vestida com roupas engraçadas. Seu nome era James, um dos personagens principais do Saltimbanco – americano, grande, engraçado e humilde.
Fomos chamados para começar a trabalhar e durante a primeira semana trabalhamos na Concession tent. Lá, éramos a porta de entrada do circo. Recebíamos clientes, verificávamos seus bilhetes e lhes indicávamos suas respectivas portas de entrada para a grande tenda, mais conhecida como Big Top.
Após uma semana trabalhando “do lado de fora” do show, finalmente tivemos a chance de entender o brilho no olhar das pessoas que saíam da Big Top contentes e com um sorriso no rosto… Iríamos trabalhar dentro de onde o show acontecia. Nossa função lá dentro era de ajudar os clientes a se acomodarem em seus respectivos assentos e impedir que tirassem fotos dentro da tenda. Confesso que no primeiro dia trabalhando lá dentro, não consegui prestar muita atenção nas câmeras, os meus olhos ficaram hipnotizados com todas aquelas cores e acrobacias. Tudo era perfeito e eu me apaixonei por aquele mundo mágico.
Todos os dias, eu ia trabalhar feliz e satisfeita de estar ajudando àquele show tomar forma, de estar de alguma forma, mesmo que pequena, contribuindo para que aqueles clientes saíssem do show com o mesmo sentimento e magia que eu tinha dentro de mim.
Os artistas e técnicos eram super acolhedores e nos faziam sentir parte do show. A grande maioria deles se acomodava para comer perto de nós, já que a cozinha do circo era do lado da temps tent, e lá batíamos muito papo bom e aprendíamos palavras novas em muitas línguas com as pessoas de mais de 30 países diferentes que trabalhavam no show ou no backstage. Também ensinávamos português, e olha que um de nossos amigos aprendeu rapidinho, ele era americano e com um mês de estudos e curiosidade para aprender nossa língua, ele o fez. Conseguia entender e conversar em português com a gente, e isso pra mim foi como um chacoalhão do tipo: “Mirella! Acorda pra vida, um americano aprende português em um mês, mas você estudou inglês no colégio e não fala quase nada!”. Foi ali que comecei a me interessar em aprender inglês de verdade.
Foi ali, conhecendo gente do mundo inteiro, que nasceu uma vontade incessante de conhecer novas culturas e explorar lugares diferentes…
No mês que vem continuo a minha aventura com esse mundo mágico que é o Cirque du Soleil!
2 Comments
Que texto gostoso de ler =) Amo o Cirque du Soleil. Estou ansiosa para a parte II
Olá Thais, fico feliz que tenha gostado. Em breve teremos a continuação dessa aventura 😉