Por que eu e a minha mulher estamos nos sentindo em casa no Canadá ? Ou mais precisamente, como embarcamos juntas atrás de um sonho de morar na cosmopolita e gay friendly Toronto?
Se você está pesquisando sobre vir para o Canadá, certamente já ouviu falar sobre como eles aqui são inclusivos e respeitadores em relação às minorias. Agora, se você nunca pensou em vir para Toronto por ser muito frio, repense. Você pode estar perdendo uma grande chance de descobrir uma cidade fantástica, onde cada um pode ser o que quiser mesmo. Aqui ninguém vai te julgar por isso.
O primeiro indício de que a questão LGBT não era apenas uma bandeira política sustentada alegremente pelo nosso primeiro ministro bonitão Justin Trudeau durante as paradas gay canadenses, foi de fato quando confirmamos que a imigração canadense aceitava, para fins de vistos, casais do mesmo sexo . Sendo assim, para conseguir os nossos vistos de estudo e trabalho atrelados, precisamos apenas comprovar que a relação existia há pelo menos um ano. E a gente nem precisou se casar, bastou juntar um formulário e comprovantes de mesmo endereço.
Tudo muito simples depois, chegamos em Toronto em pleno verão escaldante. E quando eu digo escaldante, eu sei do que estou falando; afinal, viemos do Rio de Janeiro. Cidade em polvorosa, todo mundo nas ruas, parques floridos. Dezenas de bandeiras do arco-íris nas janelas e não é apenas no bairro gay . No primeiro momento, achamos que era apenas por resquícios da parada gay, que acontece sempre em Julho. Mas não, muitas casas e famílias fazem questão de usar as bandeiras o ano todo.
Aliás, aqui em Toronto, a coisa anda tão avançada que o que se discute já tem outro gênero. Ou melhor, às vezes nem tem. Explico. Aqui tem tanta diversidade de sexualidade e de pessoas que se indentificam com a questão de um outro gênero, que o governo de Ontário decidou abolir no formulário de solicitação da carteira de identidade e de motorista a obrigatoriedade de se afirmar ser do gênero feminino ou masculino . Eles simplesmente não perguntam mais. Afinal de que importa o sexo dos anjos?
A liberdade da vida em Toronto floresce aos olhos vivos, em demonstrações de carinho nos parques, em longos beijos nas saídas dos bares, e na vizinhança colorida das bandeiras ogulhosas nas janelas. Tudo é muito normal, mais do que isso, natural. De verdade, falo com um espanto singular e confortante: ninguém sequer olha. Dá uma emoção danada, poder se sentir livre e respeitada. A gente está se sentindo em casa. Não há medo, há apenas amor em todas as suas cores.
Mas cuidado, nem todo mundo que pareça gay aqui seja gay. Talvez porque, para o resto do mundo onde a gente vivia, ser gay é viver dentro de guetos, é ser diferente, é usar roupas e cabelo diferentes. Se você estiver esperando estereótipos, não venha; aqui qualquer criança, yuppie ou vovozinho parece mais cool e gay do que isso. Toronto é uma cidade onde fica muito difícil fazer generalizações, cabelos coloridos, pessoas coloridas, por dentro e por fora. “What a nice place to live” ~ Que lugar mais legal para viver”
A diversidade aqui é levada a sério. É uma coisa a ser respeitada, estudada e até incentivada. Nas universidades, são dezenas de cursos sobre a questão e centenas de publicações, pesquisas e projetos de inclusão. Para se ter um exemplo, bancos e diversas companhias investem tempo e dinheiro para promover festivais e palestras sobre o tema. Até mesmo no antes imaginado ramo bancário. Enquanto o TD Bank coloca sua marca em bicicletas pride para o aluguel de turistas, o RBC Bank patrocina o festival de cinema gay. Sem contar que eles fazem questão que você se assuma e seja bem recebido no ambiente de trabalho.
Desde que chegamos, há um mês atrás, não ouvimos um xingamento sequer, não tivemos um olhar torto. Muito pelo contrário. Somos tratadas com muito respeito, empatia e dignidade. Acho que todo Torontoniano tem pelo menos um amigo gay. No prédio para onde nos mudamos, o síndico e a nossa vizinha de porta são gays. Por enquanto só eles. É por que aqui, eles verdadeiramente não se importam com os rótulos. O que conta é ser feliz.
Na cidade, onde mais de 50% da população veio de outros países, ser gay é o de menos. Ser diferente é ser mais do que normal. Toronto está tão perto de NY, e por isso também tão parecida na maneira de desprezar qualquer tipo de assédio, moral ou sexual. Aqui as coisas tem um limite mesmo. Se você olhar duas vezes para alguém de maneira errada pode perder o emprego. E nos campus das escolas, eles pedem para cada aluno vigiar e pedir ajuda caso alguém pense em invadir o sagrado espaço do outro. Em Toronto, não importa qual for seu gênero, nome, cor, credo, ou status, aqui sexo só com consentimento.
É mais ou menos por essas pequenas grandes coisas que eu e minha namorada estamos muito felizes por aqui. Mas é claro, se você não for nem lésbica, nem gay, nem transsexual, pode vir também, Toronto só te pede que sejas simpatizante.
5 Comments
viva as diferenças ! <3
Que texto! ????
Muito orgulho das minhas meninas! Que maravilha , Tati!
Parabéns pras duas! Vivam a felicidade! E sem olhares avessos!
Por aqui, a coisa continua preta! Rsrsrs
Bjussssssss, saudades!!!
Obrigada Laura ! Vamos sendo a resistência.
Vamos sendo a mudança que queremos no mundo !
Oiii Tati,
Bem vinda ao BPM! Sou a Elisa, escrevo para o blog tbm! Moro em Edmonton e vejo essa aceitação pela comunidade gay em todos os lugares aqui tbm. Na universidade que eu estudo tem vários banheiros com a plaquinha “all gender restroom”.
Parabéns pelo post! Beijão
Pois é né, muito bacana mesmo, Dá até um alívio no peito e faz a gente acreditar que a humanidade ainda tem jeito.