Hoje no Clube do Bolinha o entrevistado é o caríssimo Carlos Mellinger, presidente da Casa do Brasil em Londres, na Inglaterra, que vem ajudando e dando apoio jurídico a tantos brasileiros no Reino Unido.
Fale um pouco sobre a sua trajetória.
CM: Em 2005 desenhei um projeto para formar uma associação assistencial à comunidade brasileira no Reino Unido. O projeto foi apresentado na Embaixada do Brasil, que passou a ceder espaço para reuniões de um comitê de formação da futura organização. Em 2006, com mais três diretoras formei a primeira associação exclusivamente brasileira de natureza assistencial do país. Em 2009, já mais na diretoria da organização e com impressão de que aquela já não seguia o projeto inicial que eu havia idealizado, qual seja, sem fins lucrativos e neutra de cunho comercial, político e religioso, formei a Casa do Brasil em Londres. Em 2010 fui eleito Conselheiro (totalmente voluntário) do CRBE para representar as comunidades brasileiras na Europa junto ao Itamaraty. O mandato se estendeu até 2012 e com orgulho posso afirmar que fui o único do mundo que apresentou prestação de contas de todos os semestres do mandato. O trabalho voluntário pelo CRBE, que sequer reembolsava despesas de viagem, foi desgastante e prejudicial à Casa do Brasil por conta das minhas ausências. Como não sou dono de igreja e nem de comércio, não me beneficiava do cargo, mas sentia-me feliz por estar tentando entender e ajudar comunidades brasileiras em vários países europeus. No final do mandato em 2012, fui à Brasília e sugeri uma remodelação do sistema do CRBE através dos Conselhos de Cidadania, projeto adotado e em funcionamento nos dias de hoje.
A Casa do Brasil vem ajudando vários brasileiros desde que abriu as portas. Que tipo de apoios são oferecidos e qual é o mais procurado?
CM: O carro chefe sempre foi e deverá continuar sendo o aconselhamento jurídico, principalmente na área de imigração. Até 2013 a própria Casa do Brasil atendia a população brasileira, mas com o crescimento da demanda e com a preocupação de não ter este importante papel sem substituto dentro da organização, firmei contrato com a Nabas Legal para atender nossos associados. Além disso, contamos com psicólogos, tradutores, intérpretes, auxílio na busca de trabalho, acomodação e escolas, entre vários outros serviços.
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As leis sobre imigração no Reino Unido vêm mudando rapidamente nos últimos anos. Como isso tem afetado os brasileiros que não têm passaporte europeu?
CM: Naturalmente, com o crescimento da imigração no país – que não é exclusividade nossa – o governo tem tomado medidas de contenção e dificultado ao máximo a migração e o acesso à justiça social, e claro que isso afeta também nossa comunidade. Nosso papel é vital para prevenção de crime e a constante procura da legalização de residência no Reino Unido.
Tem se visto muito preconceito contra imigrantes no Reino Unido. Em que categoria se encaixam os brasileiros?
CM: Da parte do governo e autoridades, sim, mas não do povo britânico. Ainda somos muito queridos pela maioria. Isso se estende à vísivel preferência pela mão de obra brasileira, mais limpa, mais competente, mais habilidosa e mais rápida que muitos outros concorrentes às vagas de trabalho no país.
Que posição você gostaria de ver do governo inglês em relação aos imigrantes, em particular os brasileiros?
CM: Eu creio que deveriam adotar uma política de legalização para quem está no país há mais de dez anos. Hoje em dia são necessários 20 anos de residência irregular (sem visto), sem ter deixado o país para permitir um requerimento de residência ao Home Office. Além disso, seria excelente não culpar os imigrantes por todas as falhas na política econômica do país, acusando-os de roubar empregos e causarem carga excessiva no sistema de saúde, educação e moradia. Ora, somos migrantes econômicos, trabalhamos e pagamos impostos, portanto o que falta é competência do governo em aproveitar a imensa contribuição de imigrantes neste país. Estamos cansados de sermos ‘objetos’ de campanhas políticas de administradores fracassados.
Que apoio a Casa do Brasil oferece às mulheres, especialmente em caso de risco, como vítimas de violência doméstica ou tráfico de pessoas?
CM: Temos uma equipe de psicólogas (que têm permissão para trabalhar aqui no país como tais) voluntárias, algumas especializadas em violência doméstica e atendimento às mulheres. Apesar de alguma incidência de tráfico humano para cá, não é relevante o número em comparação a outros países da Europa e nem à comunidade brasileira, mas assim mesmo participamos de eventos organizados por autoridades no assunto e tentamos exercer um caráter de prevenção. Estamos organizando eventos no Brasil pata o segundo semestre de 2015 em cidades de maior incidência de emigração.
Qual seria o seu conselho para aquele/a brasileiro/a que sonha em vir morar no Reino Unido, nos dias atuais?
CM: Esta é uma pergunta importantíssima e aproveito para sempre repetir minha mensagem de não fazer da migração uma aventura louca. Não se desfaça de tudo no Brasil, achando que aqui é tudo fácil e que tudo vai dar certo. Venha preparado, procure orientação de órgão oficiais e cuidado com a propaganda exagerada que enaltece só as maravilhas da vida no Reino Unido. Venha com o pé no chão e com um plano de retorno caso tudo o que planeje não se concretize, e venha preparado para enfrentar dificuldades. Isso se estende à enorme pressão psicológica que é o desejo de ‘vencer’, acompanhado de dificuldades de adaptação ao clima, costumes, idioma e não menos, um enorme sentimento de solidão.
A Casa do Brasil em Londres está de endereço novo, como está a nova sede?
CM: Após 5 anos no centro de Londres, a Casa do Brasil mudou sua sede para Kilburn, onde aquele projeto inicial desenhado em 2005, se torna cada vez mais próximo da realidade. Na nova sede já teremos um bom espaço para pequenos eventos, apresentações, palestras e recepções. Dobramos o espaço que tínhamos e o mais importante, a nova sede é toda em andar térreo, não havendo escadas que dificultavam os associados com necessidades especiais. Eu não poderia deixar de agradecer todo só os nosso voluntários e colaboradores, sem eles, nada do que caminhamos teria sido possível. E um aviso aos críticos destrutivos (em geral, os que tratam mal ou criminosos que exploram nossa comunidade): enquanto a saúde permitir vamos proteger nossa comunidade e adotar tolerância zero a qualquer ato de mal trato, violência ou exploração.
Casa do Brasil em Londres
- 64-66 Willesden Lane, London, NW6 7SX
- Tel: 020 7372 8348, 075 4072 3497 / Fax: 08452 991 899
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Quero cumprimentá-los ( las ), por tão elevado e dignificante trabalho social , psicológico , laboral , com garra , competência e seriedade . Parabéns ! Marcos Ferreira