Participar de eventos culturais e tradicionais do país em que estou vivendo faz parte do pacote de experiência de vida que decidi agregar para mim. Ir a um casamento árabe estava na minha checklist antes mesmo de sair do Brasil, e mais cedo ou mais tarde eu sabia que essa oportunidade iria aparecer.
Meu marido havia sido convidado para dois casamentos – só ele, eu não – e foi em um. Na Arábia Saudita as festas do noivo e da noiva são separadas. Há somente homens na do noivo e apenas mulheres na festa da noiva. Por isso não é estranho o homem ser convidado e a mulher, não, no caso de não conhecer a noiva. Ele então tentou contar com detalhes como foi a festa de casamento da parte dos homens: decoração rústica, muita dança, café árabe, tâmaras, um banquete com o tradicional kabsa – cordeiro com arroz e especiarias, servido no chão e comido com as mãos. Nada muito extraordinário.
Mas a vingança logo chegaria… Por fim e graças a uma amiga, finalmente fui convidada para um casamento árabe! Essa amiga já havia ido a vários, mas segundo ela, cada região da Arábia tem alguma peculiaridade quanto à festa de casamento. Essa em que iríamos ir era de uma tribo no sul.
A primeira pergunta que surgiu foi: “que roupa usar?” Aqui na Arábia Saudita precisamos usar uma túnica preta chamada abaya pra sair na rua. Não andamos com roupas normais. Então a dúvida sobre o que as árabes usam em festas era um dos pontos altos de poder matar a curiosidade durante o casamento. Fui avisada de que deveria usar um vestido de festa igual ao que usaria em um casamento no Brasil. Fui de longo e com brilhos e não errei. Inclusive, minha amiga disse que se a gente não colocasse cílios postiços iríamos nos sentir peladas.
Chegamos à festa de abaya por cima e logo na entrada tivemos que deixar os celulares, pois é probido fazer registros visuais. Tiramos a abaya e entramos. A decoração era super luxuosa, com flores e muitos detalhes, pratarias e castiçais em todas as mesas, tudo muito lindo e bem decorado. De um lado do salão havia uma escadaria; do outro, um palco com um sofá e da escadaria até o palco, uma passarela vermelha. Em volta disso tinha muitos sofás e mesas.
Quando chegamos, algumas mulheres já estavam dançando. Os vestidos eram variados. A grande maioria estava de vestido longo e elegante, com brilhos e detalhes, algumas com vestidos mais espalhafatosos e outras, marcando bem o corpo e com decotes profundos; para a minha surpresa havia umas seis ou sete de vestido branco; alguns deles serviriam muito bem para vestido de noiva! Até achei que uma delas era a própria, mas não. A noiva ainda não estava na festa. Os cabelos e maquiagens estavam muito bem produzidos. Pois é, por baixo de todos os panos as mulheres árabes são muito vaidosas, como já comentado aqui no blogue, nesse texto.
Sentamos e já estavam servindo café árabe, tâmaras e chocolates. Era até muito engraçado, pois as mulheres que estavam servindo faziam algo que parecia um desfile com as comidas, dançando pela passarela até o palco. Lá em cima elas ainda ficavam meio que dançando com as bandejas para então começarem a servir as convidadas. Todas elas mulheres, é claro. Inclusive a DJ era mulher.
Depois disso ainda vieram alguns petiscos tradicionais como os rolinhos de folha de uva e alguns sanduíches, tudo regado a chás, café árabe e um suquinho de laranja com limão morno. Nada de álcool, pois é proibido aqui no país.
Durante esse meio tempo as mulheres iam para o meio do salão e dançavam. O salão enchia e esvaziava conforme a música mais empolgante, ou menos, e se tocava somente música árabe. Eu e minha amiga ficamos sentadas apenas observando tudo, fazendo comparações com os casamentos brasileiros e aguardando a hora em que a noiva fosse dar o ar de sua graça.
Em um determinado momento começou um alvoroço. Todas as mulheres voltando para seus lugares, colocando suas abayas e lenços, cobrindo a cabeça e o rosto. Fizemos o mesmo. Nos cobrimos e aguardamos o que iria acontecer.
Do alto da escadaria surge a noiva, em um vestido branco estilo princesa da Disney, bem armado. Ela estava como rosto descoberto, como uma noiva normal. Ao lado, o noivo, vestido com roupas tradicionais árabes: túnica branca e lenço vermelho e branco na cabeça. Eles lentamente desceram pela escadaria. Ele, sorridente, e ela, com uma feição séria durante todo o tempo – não sabemos se é algo tradicional a noiva não sorrir, mas acredito que não, que ela apenas estava nervosa. Durante a caminhada pela passarela vermelha até o outro lado do salão onde estavam os sofás uma fotógrafa estava registrando todos os momentos, e duas moças ajudavam a noiva a caminhar com aquele vestido enorme!
Ao chegarem ao palco com os sofás, os dois sentaram. Tiraram fotos. Então a família do noivo – homens e algumas mulheres – veio até o palco para cumprimentos, fotos e muita dança. O resto das convidadas continuava em seus lugares, todas cobertas, apenas assistindo. A família da noiva não estava lá nesse momento e as mulheres da família do noivo não estavam cobertas como nós: estavam de vestido de festa.
Passado alguns minutos os homens da família do noivo se retiraram do salão e levaram o noivo junto. A noiva continuou sentada no sofá, séria, e a gente continuou coberta, aguardando.
Então chegaram os homens da família da noiva. Dançando, eles cruzaram o salão e foram até o palco onde estava a noiva. As mulheres da família da noiva então apareceram, também descobertas, com seus vestidos de festa. Novamente vieram os cumprimentos, fotos e muita dança. Estavam todos alegres, menos a noiva. As irmãs da noiva desceram a escadaria por onde os noivos entraram, dançando até o palco.
Quando eu digo dançando, não é rebolando até o chão, hehe, é uma dança diferente da nossa. Eles movimentam os pés como se estivessem fazendo uma marcação e mexem bastante os ombros. Foi uma pena não poder filmar.
Depois disso os homens deixaram o salão. A noiva também saiu e as convidadas então tiraram os véus e abayas e voltaram a dançar e circular pelo salão como antes. Em resumo, quanto à presença da noiva na própria festa de casamento, foi algo em torno de uma hora. Não percebi se as convidadas foram cumprimentar a noiva, pois ela ficou bem pouco tempo à vista.
Não teve também nenhum tipo de rito religioso de casamento, como troca de alianças da forma como conhecemos. Acredito que essas coisas são feitas mais em privacidade, talvez somente com a família em outro momento, ou por ser peculiaridade dos casamentos dessa tribo. Fiquei sem saber.
Depois disso foi servido o banquete em outro salão, com comidas diversas; algumas típicas, outras, internacionais. Vi um pequeno bolo mas não percebi se ele foi servido para as convidadas. Logo após o banquete retornamos para o salão principal. Ficamos mais um pouco e as outras convidadas continuaram a dançar ao som das músicas árabes, algumas começavam a ir embora.
Fomos embora cedo. A festa começou perto das 8 horas da noite e saímos às 2 da manhã. A noiva não retornou para a festa.
A experiência foi muito interessante. Pude ver o rosto das mulheres árabes! Na rua elas estão sempre cobertas. Elas sabem aproveitar, estavam todas alegres, são vaidosas… São curiosidades bobas que a gente alimenta por conta do mistério que elas carregam deixando apenas os olhos de fora.
O fato de ser uma festa segregada, apenas com mulheres não faz com que a comemoração seja menos divertida. Mas pelo fato de a noiva ter ficado tão pouquinho por lá dá a entender que a festa de casamento é para a família, não para os noivos, como a gente entende no Brasil.
Segundo minha amiga, essa festa teve algumas peculiaridades diferentes de outros casamentos árabes que ela já foi. Ela contou que em outro casamento teve a troca de alianças. Mas como cada família tem suas tradições, sobrou a vontade de ir a mais casamentos de outras regiões da Arábia Saudita para poder ver essas curiosidades que não vi nessa festa.
Pra finalizar, comparando o que meu marido me contou da festa de casamento da parte dos homens e o que eu presenciei da parte das mulheres, ser mulher é muito mais legal!
Beijos e até o próximo post.
14 Comments
Meu blog http://www.fuipraladebagda.blogspot.com 🙂
Eu gostei desse post. Obrigada por compartilhar. Beijos 😉
Legal Édima! beijos
Que lindo. Sou fascinada pels Arábia Saudita. Parabéns.
Bjs.
É um pais um pouco difícil, mas tem seus encantos. 🙂
Olá!!
Obrigada por compartilhar seu relato conosco, é bem interessante. Não imaginava que um casamento árabe seria assim…
🙂 Pois eh, eu morria de curiosidade! hehe
Gabi, muito bom ler e aprender um pouco dessa cultura tão diferente do nosso Brasil!
Você é ótima, não pare, quero ler muito mais!
Beijos
Janiny
Obrigada Jan!
Pode deixar que vou escrever bastante! hehehehe tenho que me controlar pra nao deixar os textos longos demais! kkkkk
Beijos e obrigada por passar por aqui!
Os sauditas não tem experiência de luta para constituição de seu país. A história os fez pobres parasitas bilionários do petróleo. Em termos de inteligência internacional são uns coitados. A ostentação deles é infantil. Eles não sabem o preço de nada. Sem o saber, são o povo mais vítima da própria história que os fez crianças abobalhadas fazendo auê com tudo na vida. Que o bom Deus Alá os ilumine e os liberte da suntuosidade nababesca artificialmente iluminada da escuridão total em que vivem…
Olá Gabi ?
Ualll, estou encantada sobre o casamento Árabe!
Gaby, voce conhece alguma brasileira casada com Árabe? É uma grande curiosidade q tenho!
Estou amando conhecer o seu blog! Eu sou uma apaixonada pelo Oriente Médio, meu sonho é conhecer a Turquia! Mas vc esta de parabéns, esta num Pais conservador e tira de letra! Deus abençoe vc e td a sua família!
Bjinhos Thaty
Esclarecedor. Fui pedida em casamento e me programado para ir para Arábia saudita. Muita dúvida ainda e um pouco de medo. Tudo de informações me é valido. Obrigada
Não é namorado on line é?
Como você foi parar nesse país fechado?
Apenas curiosidade porque só tem visto de negócios e de cunho religioso.