Já falei aqui que o Chile é um país famoso por seus vinhos, mas muita gente ainda está descobrindo a deliciosa gastronomia chilena. Uma nova geração de chefs vêm conquistando destaque internacional. O segredo desse sucesso é justamente o resgate dos ingredientes locais e a valorização das origens da culinária chilena. Se você ficou curioso para saber mais sobre a gastronomia do Chile, confira também o post com Dez pratos que você nao pode deixar de provar.
O reconhecimento desses novos talentos cruzou a cordilheira esse ano quando quatro restaurantes chilenos foram destacados no ranking dos 50 Melhores Restaurantes da América Latina (Latin America’s 50 Best Restaurants). Criada em 2013, a lista e é elaborada com votos de 250 especialistas independentes da região que formam o corpo de jurados.
O restaurante “Boragó”, do chef Rodolfo Guzmán, ficou em quarto lugar na premiação que aconteceu na Cidade do México. Também foram premiados os restaurantes chilenos: “Ambrosia” (20°), “99” (22°) e “Osaka” (43°), todos localizados em Santiago.
Mas, afinal, o que esses quatro lugares têm de tão especial para ocuparem essas posições privilegiadas no ranking? O Boragó busca inspiração na biodiversidade dos ingredientes nativos. Literalmente! O chef faz buscas na natureza de elementos que podem ser usados e realiza verdadeiras experiências gastronômicas na cozinha.
Rodolfo Guzmán trabalha com o conceito de ingredientes endêmicos para resgatar a tradição chilena. Ele percorre o país com equipes buscando na natureza os elementos usados na preparação dos pratos, como os aspargos colhidos nas praias do litoral do Chile.
Quem vê o jovem com estilo surfista, nem imagina que está diante de um grande talento da gastronomia local. Mas é fato que o chef Rodolfo Guzmán tem se destacado bastante. Na semana anterior à sua mais recente premiação, o Boragó foi reconhecido pelo jornal espanhol El Mundo como o 19º. melhor do mundo e o melhor da América Latina em 2015.
As mulheres chilenas também estão representadas no ranking com o Ambrosia comandado pela chef Carolina Bazán junto com a sommelier Rosario Onetto. Aliás, numa entrevista recente, a chef comentou sobre a forte presença de homens nas cozinhas.
“Todos os homens aprenderam com sua mãe ou avó. De nenhum chef homem escutei alguém dizer ‘aprendi a cozinhar com meu pai’. Nenhum. Entretanto, são eles os que estão nas grandes cozinhas e há muitos hotéis e restaurantes onde, até algum tempo atrás, não eram contratadas mulheres para a cozinha. Imagino que isso aconteça porque é um campo muito puxado e, por isso mesmo, muito difícil de conciliar com a maternidade e a vida familiar. Por isso, talvez, vemos mais homens na cozinha”.
A chef, que morou três anos no Peru, é uma grande admiradora da culinária peruana e não esconde a forte influência. Carolina revela que, atualmente, os cozinheiros chilenos visitam os restaurantes uns dos outros. O que talvez possa explicar o sucesso dessa nova geração de chefs.
Um outro exemplo de jovens e bem-sucedidos são o chef Kurt Schmidt e o confeiteiro Gustavo Saéz do restaurante 99. Gustavo ganhou o prêmio de Melhor Confeiteiro de 2016. Além disso, o 99 foi reconhecido pela quantidade de posições que ganhou no ranking (subiu 24).
Obviamente que as sobremesas são um grande atrativo no 99. As combinações surpreendem aos paladares mais exigentes com maçã, kiwi e parmesão ou girassol com tangerina e carvão.
Gustavo e Kurt têm planos para o futuro. Eles querem abrir uma padaria ao lado do restaurante, similar ao que fez o restaurante brasileiro Maní, onde Gustavo trabalhou. Mas o grande sonho do confeiteiro é abrir uma sorveteria!
O clima de amizade e camaradagem entre os chefs chilenos pode ser comprovado nos intercâmbios que eles promovem de vez em quando. Eles se ajudam trocando dicas de técnicas e fornecedores. Os chefs defendem essa iniciativa para sair e atualizar-se.
Além disso, o restaurante 99 costuma emprestar sua cozinha para outros cozinheiros famosos como Ciro Watanabe, o quarto integrante da lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina. Logo após a entrega do prêmio, Watanabe declarou que a presença dos chilenos na lista conseguiu unir ainda mais os profissionais.
Famoso por sua personalidade explosiva, o chef peruano chegou ao Chile há 15 anos. Ele comanda a cozinha nikkei do moderninho restaurante Osaka, que funciona dentro do hotel W, em Santiago. Watanabe também tem um programa de TV, “En su salsa”, que acaba de virar um livro.
Talentos não faltam. Os prêmios estão aí para comprovar que a gastronomia chilena iniciou um caminho sem volta de inovação e reconhecimento. Em tempos de globalização e num mundo onde estamos todos virtualmente conectados, esses jovens talentos estão fazendo história justamente optando pelo caminho alternativo. Valorizando as tradições e ingredientes locais e aproximando-se uns dos outros.
Quem definiu muito bem esse momento de valorização da gastronomia no Chile foi o chef Rodolfo Guzmán. Logo depois da premiação ele afirmou que o reconhecimento era motivo de alegria. “Nos sentimentos orgulhosos da dispensa do nosso país e isso (o prêmio) nos faz sonhar com uma identidade gastronômica chilena que temos certeza vai dar o que falar no mundo e que se diferenciará por sua qualidade saudável, sustentável, devido aos ingredientes endêmicos chilenos. Estamos muito entusiasmados pelo que vem no futuro”.
Se depois de ler esse texto você ficou faminto ou curioso, fique tranquilo. Em sua próxima viagem ao Chile considere fazer uma reserva em alguns destes brilhantes restaurantes. É uma maneira muito gostosa de conhecer melhor a cultura desse país que não cansa de surpreender e apaixonar cada vez mais seus admiradores.