Há 8 anos, quando cheguei ao Chile, não se via tantos estrangeiros pelas ruas, porém hoje em dia o Chile é o novo destino de imigrantes latino-americanos.
Atualmente, caminhar pelas ruas de Santiago é como andar por uma Torre de Babel se vê uma profusão muito maior de idiomas, os quais vão desde chinês e coreano até português e variações do próprio espanhol.
Apesar do aumento no número de imigrantes nos últimos 10 anos, o Chile possui uma taxa de imigração de 2,7% o que está abaixo da média mundial de 3,2%.
Pude acompanhar na prática este crescimento durante os 4 anos em que trabalhei como voluntária em uma organização-não- governamental que recebe mulheres migrantes e as auxilia com a regularização de documentos, integração à sociedade local e busca de trabalho.
Nesse período, acompanhei a chegada de muitas imigrantes vindas, principalmente de países como Peru, Bolívia, Colômbia, República Dominicana e Haiti. Nos meses de janeiro e fevereiro é quando se observa o maior movimento com a chegada de novas imigrantes.
A maioria das imigrações no Chile vem caracterizada desde 2001 por uma forte presença feminina que, na maioria das vezes, deixam seus países em busca de trabalho e melhores condições de vida. Porém, é comum observar casos de imigração por situações de violência ou instabilidade política e econômica, como é o caso de haitianos e venezuelanos.
O curioso é que a maioria dos imigrantes vem de diferentes países da América Latina, que tradicionalmente iriam aos Estados Unidos. O aumento de brasileiros também é bastante significativo, segundo dados do Itamaraty até a última atualização de 29 de novembro de 2016, a comunidade brasileira compreendia 12.196 pessoas.
A Lei de Migração chilena atual data de 1975 , elaborada durante o regime militar, apresenta pontos que já não condizem com a realidade do país que naquela época considerava os países vizinhos como potenciais ameaças a sua soberania. Atualmente, muitas organizações da sociedade civil junto ao governo vêm trabalhando com o objetivo de flexibilizar esta lei adequando-a a nova situação.
O Executivo tinha previsto enviar ao Congresso no mês de março um projeto de lei que visa estabelecer novos parâmetros para a Lei de Migração como a criação do Registro Nacional de Estrangeiros, estabelecimento de direitos e deveres quanto à saúde, educação e trabalho. Este projeto tem por finalidade facilitar a entrada de estrangeiros e sua permanência em território nacional.
Da mesma forma que o número de imigrantes vem aumentando, se observa o crescimento das manifestações de intolerância aos estrangeiros. Recentemente, um vídeo de um casal chileno humilhando e ofendendo uma funcionária venezuelana em uma farmácia se tornou viral nas redes sociais despertando comentários a favor e contra a atuação do casal.
Houve também o caso de um imigrante haitiano que divulgou nas redes sociais uma carta desabafando sobre a discriminação que sofreu no metrô de Santiago. Após adormecer em um dos assentos deste meio de transporte quando voltava para casa depois de uma cansativa jornada de trabalho, o rapaz foi acusado de não só roubar o emprego dos chilenos como também ocupar o assento do metrô.
Eu mesma fui discriminada quando trabalhava na ONG citada anteriormente, ao perceber que era estrangeira, a mulher que vinha em busca de uma imigrante para trabalhar como empregada doméstica se negou ser atendida por mim e exigiu que um chileno a atendesse. Da mesma forma, outras chilenas se recusavam a entrevistar candidatas negras para algumas vagas de trabalho.
Este tipo de comportamento ganha força com a aproximação da eleição presidencial no país que deverá acontecer em novembro deste ano. O ex-presidente e atual candidato de direita Sebastián Piñera (2010-2014) surge com um discurso muito similar ao de Donald Trump que considera os imigrantes responsáveis pelo aumento da criminalidade no Chile. Este tipo de discurso ajuda a alimentar mitos sobre a iminência de uma crise migratória ou que já existem estrangeiros demais no país.
O aumento na chegada de mais imigrantes ao país se atribui ao fortalecimento da economia, a estabilidade política e, mais recentemente, à chegada ao poder de Donald Trump nos Estados Unidos e suas medidas anti-imigração, as quais fazem com que muitos imigrantes dos países latino-americanos passem a considerar o Chile como um destino bastante favorável para que possam construir uma vida melhor.
Felizmente, muitos chilenos consideram a chegada de estrangeiros como um fator positivo que visa promover uma maior diversidade cultural e fortalecimento do país.
Vale ressaltar que em julho de 2012 entrou em vigência a lei 20.609, também conhecida por lei Zamudio, que penaliza os crimes de discriminação no país seja motivada por diferenças de raça ou etnia, nacionalidade, condição socioeconômica, idioma, ideologia ou opinião política, religião, participação em organizações sindicais, orientação sexual, gênero, estado civil, filiação, aparência e deficiência.
Esta lei prevê a aplicação de multa para os infratores.
Links relacionados:
- Xenofobia y discriminación: una realidad latente en Chile.
- PEDEMONTE, Nicolás Rojas y DITTBORN, Claudia Silva. La Migracion en Chile
- Estimativas populacionais das comunidades brasileiras pelo mundo
3 Comments
Olá, meu esposo é de bangladesh,esta ilegal no chile. Voce pode ajuda lo de alguma forma? Nem que seja o informando-o sobre por onde começar. Obrigada.
Oi, Thais! Te mandei email.
Renata tenho uma duvida a respeito do meu esposo que é de bangladesh e está ilegal no chile. Vc poderia se comunicar comigo através do meu email. Talvez vc possa me ajudar com algumas informações úteis. Aguardo ansiosamente seu contato querida. Abraços