José Maria Florêncio – Maestro, Violinista e Compositor na Polônia.
No Clube do Bolinha de hoje entrevistamos José Maria Florêncio, natural de Fortaleza – Ceará e naturalizado polonês. Ele mora na Polônia há 31 anos, onde foi o único estrangeiro em mais de 300 anos a concluir com medalha de ouro o curso de mestrado na famosa Academia de Música Fréderic Chopin em Varsóvia.
Foi considerado pela crítica especializada como um dos mais talentosos maestros da nova geração.
Em sua bem-sucedida e internacional carreira, já exerceu os seguintes cargos: Maestro Titular do Grande Teatro de Łódź, Diretor Musical da Ópera Estatal de Wrocław, Diretor e Maestro Titular da Orquestra Sinfônica e Coro da Rádio e TV de Cracóvia, Maestro Titular do Grande Teatro de Varsóvia, Diretor Musical do Grande Teatro da Ópera de Poznań, Diretor e Maestro Titular da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo. É também o primeiro músico a ter gravado muitos CDs que compõem a mais recente música de compositores de quase todo o mundo.
É um vencedor de inúmeros prêmios, incluindo dois prêmios Złota Łódka para as melhores peças de teatro do ano: Ernani de Verdi em 1992, e Cavalleria Rusticana de Mascagni em 1993, no palco do Grande Teatro em Łódź, vencedor do prêmio de melhor condutor dado por críticos de São Paulo e vencedor da Sereia de Ouro’97 prestigiado prêmio da TV GLOBO.Recebeu também do Ministro da Cultura da Polônia a medalha “Gloria Artis” por promover a cultura polonesa ao redor do mundo.
Hoje ocupa o cargo de Maestro permanente na Orquestra Capella Bydgostiensis da Câmara Polonesa, como parte da Filarmônica da Pomerânia em Bygdoszczy.
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BPM – Quando você decidiu que seguiria essa carreira? Onde sua história começou?
Maestro José Maria – Um certo dia da minha vida, aos 7 anos de idade, decidi que iria ser maestro na Europa. Isso, oriundo do Ceará, de uma família de classe média, como, a maioria das famílias na época, em uma realidade nordestina, numa cidade maravilhosa, mas, que até mesmo hoje não tem orquestra profissional. Surrealismo…
BPM – Qual o caminho que você percorreu de Fortaleza até chegar na Polônia, em uma das Universidades de Música mais conceituadas do mundo?
Maestro José Maria – Aos 17 anos, ganhei o concurso para violista da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, na época, a orquestra que mais bem pagava a seus músicos no pais. Com meu irmão, que tinha 16 anos, saímos de Fortaleza para BH. Vida por conta própria totalmente da noite para o dia. Com o meu ótimo salário, investi na minha educação ainda mais. De BH ia com regularidade a São Paulo ter aulas de instrumento. Participei dos mais importantes festivais de férias do país, estudando a almejada regência orquestral. Na UFMG estudei regência com o Maestro David Machado. Participei de cursos em Nova Iorque e Viena. Na época, criei a Orquestra Sinfônica Jovem de Belo Horizonte. Foi quando, amigos poloneses, vendo meu trabalho e talento, deram a idéia de que eu tentasse uma bolsa de estudos na Europa e perguntaram…porque não para a Polônia? Fiz aplicação, eles me deram uma carta de recomendação, e recebi uma bolsa do governo polonês para estudar na famosa Academia de Musica F.Chopin em Varsóvia.
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BPM – Em algum momento dessa trajetória, você sofreu algum tipo de preconceito ou dificuldade por ser brasileiro?
Maestro José Maria – Nunca. Eu sempre fui o mais estudioso, mais trabalhador e não tinha medo de demonstrar meu talento. Sempre me ajudaram e sempre em todos os lugares me incentivavam.
BPM – Você acha que se tivesse ficado no Brasil teria as mesmas oportunidades ou morar fora te deu mais chances?
Maestro José Maria – Não, definitivamente creio que, especialmente para música, a saída do Brasil é imprescindível, e a vida de artista em um país de tradição como a Polônia é totalmente diferente do Brasil. Mesmo que no Brasil tudo melhorou sensivelmente no mundo da música clássica nos últimos 20 anos, e o Brasil é um país de importância no cenário mundial neste sentido.
BPM – Você já se apresentou praticamente em todo o mundo, onde mais gostou de se apresentar e porquê?
Maestro José Maria – Cada orquestra, cada país, cada público é especial por si mesmo. Sente-se a diferença quando se trabalha em cada país diferente. O Brasil é maravilhoso, onde nosso público é espontâneo, mesmo quando não tem tanta cultura musical, mas reage emocionalmente. Na Alemanha são conhecedores, e o aplauso vem quando merecido, um artista ali, se sente quase como um deus, carregado nas mãos pelo público. Em Israel, o público é profundamente conhecedor e sabe criticar se não lhes gosta. Ser aceito ali, significa ser aceito no mundo inteiro. E etc, etc….Amo esta profissão por poder cada dia me debater com novas mentalidades e desafios.
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BPM – Você mora na Polônia há 31 anos, qual a sua impressão da Polônia de hoje e da Polônia de 31 anos atrás?
Maestro José Maria – A Polônia é na minha opinião, o lugar da Europa, onde o brasileiro pode se sentir bem, E cada brasileiro diz o mesmo. Este país passou por uma mudança enorme nestas últimas décadas e se tornou um exemplo de como se faz progresso. Não mudou nada em cultura, manteve sempre um alto nível. Muitas coisas mudaram no financiamento da cultura e esporte, mas o cuidado do estado nas áreas de educação, cultura e saúde continuam o mesmo. Algo, que mesmo tendo seus problemas, é invejável de um ponto de vista de Brasil. Ontem mesmo ouvi de um amigo, professor da USP, que está pela primeira vez passando pela Polônia, como adoraria se mudar pra cá, e poder com sua família viver com mais calma, do que se vive em São Paulo.
BPM – Você fez cursos na Polônia, qual recomendaria para alguém que queira seguir a mesma carreira?E qual mensagem você deixaria para nossos leitores que tem esse sonho?
Maestro José Maria – Para pianistas, compositores, regentes, cantores, instrumentistas…mas também para atores, diretores, assim como matemáticos, físicos, médicos. A Polônia é uma ótima opção de estudo. Há cursos em inglês em quase todas as universidades do país. Em geral custam mais barato que em outros países da Europa e são de ótima qualidade. Quem está disposto a uma aventura maravilhosa, que mudará sua vida em 360 graus, deve pensar seriamente em conhecer, aprender, aceitar e viver na Polônia. Este é o lugar onde cada brasileiro vai se sentir em casa. Eu aqui, sempre me senti como no meu Ceará….
8 Comments
Gostei muito da entrevista Giselli, bem como do entrevistado. Foi uma honra conhecer um pouco sobre a tragetoria professional de um Brasileiro ilustre como o maestro Jose Maria Florencio. Parabens pelo trabalho, impecavel!
Oi Juraci!
Sempre é bom conhecer a história de brasileiros que são excelentes no que fazem ,não é mesmo?!
Fico feliz que tenha gostado! Obrigada
Gizelli
Feliz em ler essa entrevista com um conterraneo meu que esta bem e se sente “em casa” fora do nosso querida Ceara. Parabens Jose Maria pelo sucesso e obrigada BPM pela entrevista. Abraco aqui da Dinamarca!!!!!!!! Fatima Vieira
Muito obrigada Fatima!
Fico feliz que tenha gostado!
Abraços
Gizelli
Bravíssimo, Gizelli! Falei que estava ótimo!!! Você é uma ótima entrevistadora e historiadora.
Bjs,
Vivian
Ahhh, você é suspeita!
Obrigada!!
Beijos
Gizelli
Grata por entrevistar um conterrâneo, que focou em seu sonho profissional e não desistiu , levando consigo a determinação de um nordestino. Feliz por conhecê-lo.Deus o abençoe!
Maria, eu que agradeço por nos acompanhar e fico feliz que tenha gostado de conhecer o Maestro José Maria.
Continue acompanhando nossos textos.
Abraços,
Gizelli