A tradição de noivado nos Estados Unidos é como nos filmes de Hollywood. O futuro noivo, ou a futura noiva, passa um bom tempo planejando esse momento. É tudo muito bonito e romântico. Alguns fazem uma mega produção durante partidas esportivas, enquanto outros preferem uma coisa mais simples e intimista. Mas uma coisa a maioria dos pedidos tem em comum: a pessoa que propõe fica de joelhos e pede seu amor em casamento entregando um lindo anel, geralmente de diamantes ou a pedra preferida da pessoa que vai recebê-lo.
Quando eu e meu marido ficamos noivos, eu já estava preparada para o pedido porque foi uma coisa conversada antes, mas nada no mundo tira a ternura e amor envolvidos. Em novembro de 2015, eu cheguei super cansada em casa depois de um dia cheio de trabalho. Era uma sexta-feira e tudo o que eu queria era abrir uma garrafa de vinho e assistir algum filme com meu namorado. Acabou que esse dia qualquer foi na verdade um dos dias mais felizes da minha vida.
Chegando em casa, fui diretamente ao quarto e encontrei o Matt com uma carinha ansiosa. Perguntei o que era e ele fez um gesto com a cabeça apontando para um ursinho de pelúcia que ficava na minha cama. Quando olhei, percebi que nas mãos daquele urso tinha uma caixa de anel. Lembro como se fosse hoje a alegria que senti. Quando me dei conta, ele já estava de joelhos e fez o pedido com o anel em mãos.
Desse momento até o dia do casamento, que aconteceu em julho do ano passado, tudo aconteceu muito rápido. Muitos preparativos, muitos cartões com mensagens de parabéns de nossos familiares e amigos. Foi uma época inesquecível de muito amor, mas também de muito estresse e preparação de documentos. Eu nunca casei aqui, ou em nenhum outro lugar. Cada passo era uma novidade.
Em nossa primeira reunião na igreja, a pessoa responsável pela organização da cerimônia explicou exatamente tudo o que a gente teria que fazer e trazer para o dia do casamento, mas lembro que a coisa mais importante é a Licença de Casamento.
“Você pode esquecer tudo. O anel, os votos, buquê e até o vestido, só não pode, em hipótese alguma, esquecer a licença”, disse nossa organizadora.
Eu como também trabalho com evento e planejo até os procedimentos antes de dormir, entrei em pânico. “Pronto. Vou esquecer essa bodega, tenho certeza”, pensei. Quem me conhece sabe que nem estou falando isso para dar um tom dramático ao texto. Isso foi e-x-a-t-a-m-e-n-t-e o que passou pela minha cabeça. Me programei a não esquecer de jeito nenhum. Disse ao Matt que o Best Man (uma espécie de padrinho mais importante do noivo) ficaria responsável em levar o documento para a igreja. Minha família estaria muito ocupada chorando e minhas amigas damas estariam muito eufóricas. Ele era a única pessoa que eu poderia confiar para essa tarefa tão importante.
“O que aconteceria se esquecêssemos ?”, perguntou Matt. “Não haveria casamento. Teríamos que começar outro casamento do zero, em outra data”, respondeu a senhora. E Matt perguntou: “E pagar tudo de novo?”. “Exatamente”, explicou. “Pode ficar tranquila que isso não vai acontecer”, disse Matt rindo em pânico. Podia até ver o dinheiro com asas voando sobre seus pensamentos. A boa notícia é que isso não aconteceu e estamos agora comemorado seis meses de casados.
Mas o que vocês realmente querem saber é como pegar esse documento. Fomos até a corte de Beverly Hills, que fica no caminho entre nossa casa e meu trabalho, e entramos com o pedido. A documentação é bem simples. Se a pessoa for cidadã americana, precisa levar apenas um documento com foto. Pode ser a carteira de motorista ou passaporte. Os estrangeiros precisam levar passaportes.
Nesse dia não tinha fila, foi super rápido. A fila do lado estava enorme e triste. Era para multas de trânsito graves. A nossa vazia e feliz. Resumindo, em Los Angeles tem mais gente ultrapassando o sinal vermelho do que casando.
Fomos atendidos em dez minutos. Entregamos nossos documentos e um formulário, que pode ser preenchido pelo computador em casa ou em um no próprio local, com as informações sobre os pombinhos.
As leis nos EUA podem mudar de acordo com o estado. Na Califórnia, o casal não precisa ser residente local. Ambos precisam ser solteiros, divorciados ou viúvos, precisam estar fisicamente presentes (parece que alguns estados aceitam casamentos virtuais ou algo parecido) e teste sanguíneo não é necessário. Não sei muito bem, mas pode ser que em outros estados haja obrigatoriedade de exames.
O casamento deve ser feito por pessoas registradas legalmente para tal. Você lembrou do Joey casando a Mônica e o Chandler, não foi? Pois é, isso na verdade é possível. Qualquer um pode registrar-se com um simples curso online. Mas se preferir, um padre pode dar conta do recado.
Após checarem meu passaporte e a carteira de motorista do Matt e nossas informações, tivemos que passar por um juramento dizendo que tudo o que colocamos no formulário é verdade e que não somos casados com outras pessoas e nossa união será por livre e espontânea vontade. Após isso, a pessoa nos deu parabéns e explicou que a licença vale por apenas 90 dias e que se não casarmos durante esse período, teríamos que entrar com outro pedido. Isso na verdade aconteceu com a gente. Íamos casar no civil alguns meses antes da cerimônia, mas resolvemos esperar até o grande dia, o que foi ainda mais especial, mas realmente tivemos que voltar, pagar tudo de novo, preencher outros papéis, jurar, e tudo mais, mas esse foi pra valer.
Depois do casamento, o casal tem dez dias para enviar esse documento assinado por eles, por testemunhas e a pessoa que conduziu a cerimônia. Após isso, chega pelo correio o registro oficial de casamento. Você pode adquirir também cópias, basta fazer o pedido e pagar quando tirar a licença na corte. O tempo de entrega do registro vai de 4 a 8 semanas.
Pois é… da até preguiça de casar, não é? Mas vou te contar, no fim vale muito a pena.