Como os coreanos se relacionam.
Sabemos que neste mundo cada país tem sua própria cultura, regras e costumes, alguns bem difíceis de serem compreendidos e aceitos por outras civilizações. Se você pensa em mudar de país, é necessário ter em mente que existirão situações onde ocorrerão choques culturais, e você deverá estar disposto a aceitar e aprender a conviver com essas diferenças.
A hierarquia e a subordinação regem a sociedade coreana em todos os seus aspectos: familiar, social e profissional. Quando uma pessoa nasce, ela já tem o seu lugar determinado na família, quais são os parentes superiores e inferiores a ela, e a quem deverá ter ou cobrar respeito.
Esse respeito é perceptível em todos os atos praticados por um coreano que está se dirigindo, conversando ou apenas passando próximo a uma pessoa mais velha ou superior a ele. É necessário que a pessoa pare o que está fazendo e cumprimente o outro com uma reverência ao avistá-lo, quanto mais velha ou hierarquicamente superior a pessoa for, maior a reverência. Não é permitido que conteste uma decisão feita por eles, e deve sempre obedecer a suas ordens. Muito mais do que uma cortesia genuína, esse respeito é uma obediência imposta.
O próprio idioma coreano apresenta hierarquia. Mais do que um meio de comunicação, ele se molda às relações sociais. A língua deve ser utilizada da forma correta, por meio de sufixos, verbos, palavras e modos de tratamento específicos para se comunicar com pessoas de hierarquia superior. Se alguém faz uso incorreto da língua, quando, por exemplo, fala com o chefe como se estivesse falando com um amigo (atenção porque não basta ser educado, mas tem que utilizar as regras do idioma), além do ato ser visto como uma grande falta de respeito e educação, querendo colocar o superior no mesmo “nível” que o seu, a pessoa poderá sofrer punições no trabalho.
No âmbito familiar, normalmente, os avós são os membros mais velhos, e eles têm respeito máximo. Se em uma família brasileira existe liberdade para discutir sobre determinado assunto e é permitido um jovem expor a sua opinião contrária a um parente mais velho (mãe, pai, tios, avós), saiba que em uma família coreana isso não é possível. O que os mais velhos dizem deve ser obedecido e concordado, mesmo que o jovem coreano pense de outra forma, ele irá apenas sorrir e concordar com o que foi dito. Mas não se engane acreditando que isso é apenas com membros das gerações anteriores, se tiver um irmão ou primo mais velho, você também deverá respeito e obediência a ele, adaptada as proporções.
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Essa situação de subordinação se continuará na vida social e profissional dos coreanos, com base em aspectos como idade, posição social e experiência profissional.
Quando um jovem coreano ingressa na vida escolar, surgem as figuras do sunbae e hoobae. O sunbae é a pessoa mais velha ou mais experiente na área de atuação, e o hoobae é a pessoa mais nova ou menos experiente. Na faculdade, por exemplo, em um curso de 4 anos, se uma pessoa está no 2º ano acadêmico, ela é sunbae dos alunos do 1º ano e poderá cobrar obediência e respeito dos mesmos. Por outro lado, esta mesma pessoa é hoobae dos alunos do 3º e 4º ano da faculdade, a quem deve obedecer. Essa hierarquia é irreversível, como expressado em um ditado coreano “uma vez sunbae, sempre sunbae ”.
A relação sênior-júnior também ela está presente, e ainda mais forte, na vida profissional do povo coreano. Onde não só a idade importa, mas também a experiência na área. Se você tem 30 anos e acabou de entrar na empresa, mas lá existe um funcionário com 25 anos e que já está há 5 anos no emprego, esta pessoa é seu sunbae, e você deve respeito a ele, mesmo que ocupem a mesma função no trabalho (observem que o respeito não é apenas com as pessoas com funções hierárquicas superiores a sua, mas com colegas também).
Na frente do sunbae e do chefe não existe muita liberdade. Essa hierarquia muitas vezes é um obstáculo para a livre comunicação e criatividade dentro da empresa, pois, se um jovem hoobae, no auge da sua criatividade, apresentar uma proposta revolucionária para empresa, mas esta não foi aceita pelos superiores, nada mais poderá ser feito. O que os superiores dizem é regra e não pode ser contrariado.
Muitos veem esses aspectos da sociedade coreana como algo positivo, para estabelecer a ordem e disciplina. Entretanto, eles dão margem para que haja excesso de abuso de autoridade, gerando situações desagradáveis e, em alguns casos, assédio moral. Situações essas que, infelizmente, são mais comuns do que podemos imaginar.
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Não estranhe se, ao conhecer um coreano, após as apresentações básicas, ele perguntar a sua idade. Não é por curiosidade, é para saber se em relação a ele você é superior, inferior, ou se vocês são “amigos” (pessoas que nascem no mesmo ano e se tratam como iguais), pois assim ele saberá como deve se comportar e se dirigir a você. Se quiser entender um pouco mais sobre os aspectos que envolvem a idade, aconselho que leia o texto “Coreia do Sul – Qual é a sua idade coreana?”, também escrito por mim aqui no Brasileiras Pelo Mundo.
Estrangeiros que vivem em terras coreanas muitas vezes são “dispensados” das regras de convivência. Entretanto, apesar de não serem cobrados tais comportamentos com a mesma rigidez que são cobrados dos coreanos, é necessário que os estrangeiros conheçam tais regras, respeitem-nas e tentem segui-las. No começo pode ser bem estranho e absurdo, mas se você realmente quiser ser aceito pela sociedade coreana, melhor começar a aceitar e a se moldar às diferenças culturais.
Espero que tenham gostado e conhecido um pouco mais da cultura coreana, qualquer dúvida, deixe nos comentários.
2 Comments
Fico imaginando como uma sociedade pode sobreviver assim a longo prazo, pois, os seniores ou “sundaes” nunca concordarão com alguma mudança que os prejudique ou que posso prejudica-los, e, como não podem ser desacatados, se essa mudança for crucial para a sobrevivência do grupo, da comunidade, da empresa ou mesmo do país, a longo prazo, poderá significar a ruina. Um sistema desse só funciona justamente porque a sociedade coreana é “oxigenada” pelos estrangeiros, que não se adequam 100% a essa cômoda situação (cômoda para os “sunbaes”) e, principalmente, porque está inserida em um contexto global que, na grande maioria, não se rege por isso e assim a oxigena com inovações e tendências modernas que, se não fosse por isso, garanta alguma inserção de novas ideias. Senão fosse por isso, a longo prazo, nenhuma sociedade humana sobrevive se não permitir a ascensão de novas ideias.
Coreia do Sul é incrível em alguns aspectos sociais, mas em outros…
Tem muito o que mudar ainda.