Curiosidades sobre Malta.
Este talvez seja meu último artigo sobre Malta. Depois de 7 meses residindo na ilha devo partir para continuar meus planos iniciais pela Europa. Foram meses de muitas aventuras, culturas, festas, novos e bons amigos e também de algumas estranhezas e dificuldades.
Tudo normal considerando que estava me adaptando a um novo continente, a um novo país e sobretudo, a um novo estilo de vida. Malta, como entre amigos denominamos, a Ilha de Lost, tem uma capacidade obscura de atrair e reter as pessoas que por aqui passam. Não é à toa que encontramos muitos cidadãos do mundo que vieram para uma curta temporada e que aqui, criaram raízes. Também pudera, esse doce Paraíso é enigmático e fascinante, mas também pode ser cruel àqueles que não estão abertos a mudanças, ou que não se adaptam a uma vida mais pacata (não me refiro aos agitos noturnos e às inúmeras opções culturais) e “preguiçosa”, em um estreito território, onde é possível cruzar com os mesmos desconhecidos todos os dias nos mesmos lugares e horários.
Então, tratando-se da última “teoricamente” postagem minha sobre Malta, resolvi escrever sobre algumas particularidades que encontrei e experienciei na ilha. Pontos positivos e negativos, segundo a minha concepção, que merecem ser compartilhados.
Um ponto bastante controverso é a alimentação em Malta. Muitos estrangeiros a elogiam e dizem que não vêm diferenças com a sua culinária; eu particularmente, não a aprecio.
Há sim muitas especiarias e molhos nas feiras e mercados locais, além do custo com alimentação ser relativamente barato, se comparados a outros países europeus e a São Paulo, porém, o cardápio é praticamente baseado em massas e pizza. Adoro os dois, mas em demasiado…
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Os pratos tipicamente malteses são exóticos e atrativos. Receitas como Pastizzis, um salgado feito com massa folhada e recheado de ervilha ou queijo tipo ricota, são saborosos, mas extremamente gordurosos, assim como a carne de coelho, que divide opiniões.
Um dos grandes chamarizes da ilha é o clima. Assim como os países entre trópicos, em Malta há praticamente duas estações no ano: calor seco (abril e setembro) e frio chuvoso (outubro a março). Como a maior parte do ano é quente, o país está todo adaptado a altas temperaturas, porém o inverno, não tão rigoroso (temperaturas que variam entre 9 e 16 graus), costuma ser cruel em razão da restrita calefação em ambientes externos e internos, como residências e comércios em geral.
Se você curte uma balada, seja um bar mais tranquilo para curtir com amigos ou uma discoteca fervorosa para azaração, Malta é o lugar. Geograficamente fácil e pouco custosa, é comum ouvir dos que estão pensando ou planejando virem à ilha, a palavra mágica “Paceville”, uma região de baladas concentradas basicamente em 4 ruas principais e uma grande escadaria onde os bares e discotecas estão lado a lado, com promotores distribuindo vouchers de “Free Drink” (bebida grátis) ou “Buy one, get one free” (compre um e leve um de graça) e disputando os clientes.
Como não há cobrança de entrada, o normal é adquirir seu voucher, entrar no estabelecimento, beber, dançar um pouco, olhar o ambiente e partir para o próximo e assim sucessivamente, até encontrar o melhor ou acabar a noite no tradicional Bar Native, com música latina a top. Mas antes, você pode degustar algo em um dos bares do monopólio Hugo’s (Terrace, Lounge, Burger, Passion), curtir o som do Soho’s Lounge, e compartilhar uma jarra de vodca (com alguma substância mais doce, tipo suco ou energético) do Qube Disco. Há também, para os apreciadores de cerveja e whisky, pubs, como o Irish, com direito a um divertido Karaokê, e o Dubliner, com boa comida. Para os brasileiros que sentem saudades de picanha, caipirinha e samba, uma ótima pedida é o Buteco Lounge, localizado na Baia de San George, também em Paceville.
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Um ponto bem negativo, se não o maior, em Malta é o trânsito. Este, indubitavelmente, surpreende até condutores e pedestres acostumados a enfrentar horas de tráfico em São Paulo ou o caos de cidades como Cairo e México DF. A direção sem dúvida não é uma habilidade maltesa, além de possuírem o péssimo hábito de buzinar pra tudo. Além disso, a rede rodoviária em Malta está estagnada e a maioria de ruas e estradas em péssimas condições.
Um estrangeiro, para dirigir em Malta, precisará primeiramente aprender a condução defensiva, pois é comum que os motoristas ignorem até regras básicas de trânsito, como usar indicadores de mudança de direção, dar passagem em rotatórias e não falar em celulares. Conduzir embriagado é também extremamente comum, e a polícia não parece se importar muito.
Também é muito difícil evitar um engarrafamento porque muitos lugares são conectados por apenas uma estrada principal (geralmente estreita) e nenhuma rota alternativa.
Outra particularidade maltesa é a quantidade de gatos que perambulam pelas cidades. E não são gatos mirrados e arredios, pelo contrário, são extremamente bem alimentados e doces. Tudo começou quando, para combater o grande número de ratos que havia no país, foram trazidos muitos gatos, porém, os malteses começaram a alimentar e mimar esses felinos. Assim, hoje ainda há muitos ratos transitando pelo país quanto gatos gordos e “manhosos”, inclusive há um lugar exclusivo para eles, chamado Cat Village, uma espécie de parque de diversões, com mantas, casas, comedores e também vários bichos de pelúcia, ou seja, em Malta os gatos são Reis.
Há outras duas tradições locais bem interessantes: uma é há presença de dois relógios acima da entrada principal das igrejas, um mostrando a hora exata e outro apontando um horário errado. Isto porque, segundo a lenda, serve para confundir o diabo para que não saiba a hora da missa. Outra tradição é que, os barcos pesqueiros e coloridos de Malta, possuem olhos pintados na frente, para também manter os demônios longe dos pescadores quando estes estão ao mar.
Por fim, pelo menos neste artigo, menciono o característico e peculiar estilo de vida em Malta. Os malteses têm um estilo bem relaxado, pois certamente, diante de quase 300 dias de sol, não há muito com que se estressar. A vida em Malta é, a maior parte do tempo, lenta e vagarosa, satisfazendo bem àqueles que querem escapar da árdua rotina. Porém, a desvantagem infeliz para o estilo de vida descontraído é que os malteses muitas vezes parecem não se importar com o tempo de outras pessoas. Isso pode ser visto em quase todos os processos: nas empresas que solicitam conhecê-lo pessoalmente, em vez de discutir questões por e-mail, motoristas de ônibus em um bate-papo com um amigo, enquanto uma fila de carros está atrás deles, a burocracia para abrir uma conta bancária, enfim, para alguém acostumado com um estilo de vida frenética, com a repetição, isso pode tornar-se perturbador.
“A cada chamado da vida o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias, aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver.” (Hermann Hesse)
E assim, me despeço de Malta!
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