Deserto alimentício nos EUA: Oásis do Fast Food.
Você já se imaginou passar algumas semanas sem comer uma banana ou tomate? Você já morou num deserto de alimentos?
Primeiramente, o que é deserto alimentício (food desert)?
É uma determinada área dentro de uma metrópole, cidadezinha ou um condado afetada pela falta de infraestrutura, limitando o acesso a mercados ou feiras que vendam uma variedade de alimentos saudáveis e frescos. Normalmente essas áreas também são carentes de serviços básicos como atendimento médico. Diante desse cenário, os moradores locais se veem forçados a se deslocar periodicamente para outros municípios ou condados, próximos ou longínquos, com mais recursos, a fim de encontrar serviços e mercados que vendam frutas, legumes, grãos e verduras a preços acessíveis. Para muitos moradores do food desert (deserto alimentício) há outro agravante: o transporte público, que é ineficiente e muitas famílias não têm um carro. Recentemente, eu conversei com uma senhora que se chama Tracy. Ela foi professora universitária de artes e agora está aposentada. É originária de uma cidadezinha chamada Sweetwater, que fica na região central do Texas. É um local árido por onde passam tornados durante o verão, favorável ao plantio de algodão, mas desfavorável ao cultivo de hortas. Ela me disse que trabalhou e morou em cidades como Boston e Nova York, mas optou por morar em Sweetwater ao se aposentar, pois o custo de vida é mais baixo. Atualmente sua cidade natal tem uma loja Walmart e um outro mercado local que vende hortaliças, legumes e frutas frescas mas anos atrás ela precisava dirigir por três horas para ir a um mercado fazer compras.
De acordo com um documentário chamado Living In a Food Desert (Morando no Deserto de Alimentos) de 2015, nessas regiões chamadas de desertos de alimentos, há pequenas lojas de conveniência, porém todas vendem comidas enlatadas, salgadinhos e bebidas alcoólicas. Às vezes, essas lojas vendem algumas frutas que se resumem a bananas e talvez morangos, mas são vendidos por unidade e custam muito mais caro do que um supermercado cobra. Os restaurantes de fast food (comida rápida) se instalam e prosperam nesses desertos porque vendem comida barata, mas sem valor nutricional. O mais assustador é que isto não é apenas uma realidade de algumas cidadezinhas longínquas, mas essa escassez afeta diferentes comunidades, cidades e estados da federação norte-americana.
De acordo com o documentário chamado “Food Desert” que assisti, o problema também ocorre em cidades grandes como Detroit. Um bairro que se desenvolve sem a devida infraestrutura, afasta comerciantes e negócios. Uma realidade complicada e difícil de imaginar que possa ocorrer em um país desenvolvido. Ao longo do tempo, esse problema social também tem contribuído para o aumento da obesidade, que hoje é epidêmico.
Porém, esse problema vai além da falta de comida. Saber como usar e o que fazer com os mesmos é outro problema que dificulta o combate à obesidade. Iniciativas como a criação de Fazendas Urbanas, que a nossa colega Lorrane Sengheiser já abordou aqui no BPM, são alternativas que têm ajudado a diminuir a escassez e expõe as comunidades a opções mais saudáveis. Um grupo de voluntários criou uma fazenda urbana no Bronx em Nova York, e as verduras e legumes cultivados ali são doados para os moradores. Os moradores param para ver as hortas, mas dizem que não sabem como consumi-los ou prepará-los. Os coordenadores agora precisam ensinar o consumidor o que fazer com os produtos. Obviamente, a comida processada é parte dos hábitos e de um sistema de consumo dos americanos que inicialmente promoveu a praticidade e se tornou popular devido ao baixo custo. Conversando com outra senhora, ela me disse que quando criança foi ensinada na escola que a lata de tomate é o próprio tomate. Esta conversa reflete que a comida enlatada ou processada é parte da cultura norte-americana e inserir o produto fresco requer reeducação alimentar profunda.
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Em 2010 a ex-Primeira-Dama Michelle Obama lançou uma campanha chamada “Let’s move”. Essa tinha o objetivo de combater a obesidade infantil, diminuir o número de food deserts e promover exercícios. Michelle Obama apareceu em vários programas de televisão dançando Uptown Funk, criou uma horta na Casa Branca e colaborou com a indústria de bebida e alimentos para diminuir o teor do sódio e incluir os valores calóricos nos rótulos de refrigerante. Mesmo recebendo muitas críticas no princípio, a campanha de Michelle Obama foi a primeira do gênero a tratar do assunto seriamente e de maneira prática.
Concluindo este tema complexo, os Estados Unidos têm um imenso território mas a agricultura não é favorecida em todos os lados. A “cultura do enlatado” evitou que pessoas morressem de fome no passado mas gerou uma nova cultura, do fast food. Ao longo do tempo, provavelmente a obesidade será reduzida, mas o essencial é a incorporação de uma dieta saudável.
Neste aspecto, brasileiros e hispânicos podem fazer melhores escolhas em suas dietas, pois estamos mais familiarizados com o básico: frutas, verduras e legumes em nossa culinária.
4 Comments
Alê,
Muito interessante seu artigo, pois jamais poderia imaginar a existência de desertos alimentícios aqui.
Obrigada por compartilhar uma informação tão importante.
Bjs,
Lili
Oi Lili,
Pois é, no país onde se desperdiça tanta comida mas falta em outros lugares.
Bjs
Oi Lê….
Amo ler textos!
Muito bom e curioso para mim…
Não imaginava!
E agora vai ter um novo leito o João Pedro.
Bjus!!!!??
Oi Dani,
Que bom que você gostou. Que legal que o João também ta lendo os artigos. Beijos para vocês!