Diferenças entre o Brasil e o Panamá.
Mesmo que a gente não queira, quando moramos em outro país acabamos por pensar sobre as diferenças em relação ao Brasil. Ainda que a comparação seja inevitável, gosto de levar em conta as culturas, histórias e, até mesmo, a extensão geográfica de cada região. Assim, tento fugir de (pré)conceitos que podem interferir na minha adaptação.
Para refletir sobre o que me parece diferente no Panamá, chamei uma panamenha para um bate-papo. Ana Laura, do Ranked by us, viveu dois anos em Florianópolis/SC, de 2014 a 2016, cursando um mestrado. Pela proximidade de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ficou mais fácil traçarmos algumas diferenças, dados os costumes/contextos semelhantes que temos na Região Sul.
Tarefa difícil traduzir em texto tudo o que conversamos, mas selecionei aquilo o que mais se destacou. Então vamos lá!
Adaptação/acolhida
Acho que a sensação que eu e meu marido tivemos quando chegamos por aqui não é diferente da de tantas pessoas que saem do Brasil. Somos um povo acolhedor e, sobre isso, eu gosto sempre de argumentar com quem quer que seja. Não precisei fazer isso com a Ana, pois ela disse que foi super bem recebida por lá, fez amigos rapidamente e recebeu ajuda na faculdade. Com a gente, por aqui, foi um pouco diferente. Muitas coisas acabamos por descobrir sozinhos. Quando procurei o curso de espanhol na faculdade, por exemplo, andei, andei e andei. Mesmo que pedisse informações as pessoas não se preocupavam muito se eu estava perdida ou não.
Acho que nós, brasileiros, temos esse perfil: conhecemos e já abrimos a nossa casa no primeiro dia. Já começa pela nossa forma de cumprimentar. Mas sobre isso não posso deixar de falar, porque no Panamá, em qualquer lugar onde estejamos as pessoas nos cumprimentam com um “Buenas”. Quando fomos ao banco pela primeira vez nos surpreendemos porque cada um que entrava saudava a todos e, como um coro, as pessoas respondiam. Isso já aconteceu comigo no elevador, caminhando pelas ruas, não importa o lugar ou a hora, é difícil não receber um cumprimento. Acho que o stress do dia-a-dia no Brasil não me deixava perceber o quanto um “tudo bem” de um desconhecido faz falta e faz bem durante o dia.
Faculdade
Como eu e a Ana somos do meio acadêmico, tivemos um mesmo olhar sobre estudar por aqui ou pelo Brasil. A pós-graduação no Panamá tem um foco mais intenso na prática enquanto que, no Brasil, estamos mais voltados para a pesquisa científica. Com a experiência dos nossos cursos, temos a impressão de que os objetivos são diferentes: um prepara para o mercado de trabalho em geral enquanto o outro para a carreira acadêmica na Universidade.
Trajes
Uma das mudanças de Ana, quando chegou ao Brasil, foi no guarda-roupas. E o mesmo aconteceu por aqui conosco. Vamos entender melhor? No caso de nós duas, no ambiente de estudos, a exigência “esperada” é diferente. No Brasil, não havia problemas em usar uma camisa sem manga, um vestido um pouco acima do joelho ou uma sandália, por exemplo. Não estou dizendo, com isso, que usava roupas inadequadas, mas eram confortáveis para o clima e não necessitavam de muita formalidade. No Panamá, vejo os estudantes sempre vestidos de maneira mais formal, com camisas, calças, sapatos… E não é só no ambiente acadêmico. Dificilmente vemos homens de bermudas passeando por aí. Mesmo com o calor, eles usam calças e camisas. Inclusive, não é raro vermos orientações de vestimentas consideradas apropriadas para alguns locais, como no Departamento de Imigração, por exemplo. Enfim, só sei que a Ana começou a usar mais vestidos e eu, calças. Ainda bem que tudo o que é lugar tem ar condicionado congelante, eu até carrego um casaquinho!
Atendimento
Algo que eu e a Ana sentimos falta do Brasil é da qualidade do atendimento. No geral, em serviços que envolvem relacionamento com o cliente, como restaurantes e lojas, por exemplo, não me sinto bem recebida por aqui. Não é raro entrarmos em uma loja no Panamá, perguntarmos algo para o vendedor e receber um “não temos” e mais nenhuma explicação. Quando caminhamos um pouquinho no local, encontramos o que perguntamos. Claro que existem as exceções, tanto no Brasil como aqui, mas em geral, sinto saudades da acolhida recebida enquanto cliente.
Distância
A Ana me contou que no Brasil descobriu o que era distância, vendo que seus colegas que moravam no interior ou em outro estado ficavam muitos meses sem ver a família, em função da distância e, em consequência, do tempo. Sim, vejamos as proporções, pois o Panamá inteiro poderia ser um estado do Brasil. Assim, não é raro a escutarmos que algo que fica a 10km do centro da cidade é “muito longe”. Esse é o exemplo da minha casa. Moramos em Arraiján, um distrito metropolitano, mas que tem exatamente essa distância do centro da cidade do Panamá. A mesma distância que eu levava da minha casa até o meu trabalho, em Porto Alegre. Eu não acho nada longe aqui, o que ocorre, é que os congestionamentos nos horários de pico tornam o trajeto mais demorado.
Correios
Olha que curiosa essa diferença! A Ana se impressionou e adorou o funcionamento dos correios no Brasil. Algo que nos parece tão simples, não é? Neste texto eu falei sobre os endereços, um pouco confusos no Panamá. Para receber algo por aqui, você precisa ter uma caixa postal, conveniada com alguma empresa. As contas de luz e água chegam por baixo da nossa porta. Não temos nossas saudosas caixinhas de correio. Ainda aguardo um cartão que uma amiga me mandou de aniversário, em outubro do ano passado, vai saber o que aconteceu com ele!
Acesso às praias
Eu estranhei quando a Ana me disse que sentia falta das praias do Brasil. Não que eu desvalorize nossas belezas naturais, pelo contrário, acho que temos muitas praias lindas por lá e meu carinho por Santa Catarina, então, é imenso. Contudo, o Panamá também tem muitas praias lindas, do mar do Caribe ou do Pacífico, mas não tem estrutura. Sim, o acesso às praias é complicado, para chegar a muitas delas precisamos de guia, barca, levar a própria comida e bebida. Algumas (muitas) praias do Panamá são quase que desertas e você acaba não encontrando quiosques, restaurantes ou hospedagem. Além disso, na Cidade do Panamá mesmo, não temos praias próprias para banho. A mais próxima (boa e própria para banho) é a Isla Taboga, 20km e chegamos nela por Ferry.
Patriotismo
Separação do Panamá da Colômbia, Dia da bandeira, Primeiro Grito de Independência, Independência da Espanha, alguns dos feriados que homenageiam o país no mês de novembro. O que vemos nessa época são inúmeros desfiles ou festas temáticas que rememoram as conquistas do país. E a adesão é intensa! Além da participação efetiva nos eventos, vemos muitas bandeiras espalhadas pela cidade, dentro dos carros, das casas. Até aí tudo bem, não é tão diferente do Brasil. O que é diferente é que isso acontece por todo o ano. Sim! Há muitas bandeiras espalhadas pelas cidades e, ainda, os panamenhos as estampam nos seus carros e nas suas casas.
2 Comments
Parabéns pelo texto, Clarissa! Tenho referências parecidas com as suas (sou de SC, há 2 anos terminei o doutorado e estou morando na Cidade do Panamá com marido e cachorro tb!) e, por isso, assino embaixo de tudo o que vc falou. Realmente me assustei um pouco com a rudeza dos panamenhos. Ou talvez só sejam mais sinceros que nós brasileiros, vai saber… continue escrevendo sobre sua nova vida aqui. Vou acompanhar!
Obrigada, Amana. Temos muito em comum mesmo! Vamos nos comunicando por aqui!