Um assunto que está enchendo as manchetes de jornais desde o fim de fevereiro é a questão da imigração na Dinamarca. O assunto voltou à tona depois dos atentados terroristas em Copenhague (leia mais a respeito aqui), e com relatórios recentes revelando que a imigração no país em 2014 aumentou em relação ao ano anterior, existe uma grande preocupação sobre onde inserir tantas pessoas na sociedade dinamarquesa de modo que elas possam ser membros ativos dessa sociedade. Logo após os ataques a primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt, lançou uma campanha para incentivar os refugiados e recém-chegados ao país a encontrarem um emprego, principalmente porque há refugiados pedindo kontanthjælp (um valor mensal pago pelo Estado que serve para cobrir custos básicos de vida com alimentação, vestimenta e moradia), o que acaba fazendo com que alguns dinamarqueses pensem que essas pessoas estão se aproveitando do sistema de bem-estar social oferecido pelo país. A questão que se discute agora é onde realocar toda essa força de trabalho, já que não há empregos para todos.
A Dinamarca é um dos poucos países no mundo que oferece um programa de integração para os migrantes recém-chegados, sejam eles cônjuges de dinamarqueses, asilados políticos ou refugiados. E como funciona esse sistema de integração?
Entendendo o sistema de integração
Vou falar da minha experiência como migrante através de casamento com cidadão dinamarquês.
Após receber a confirmação da concessão de visto temporário de residência por reunificação familiar, a pessoa tem que procurar o serviço de atendimento ao cidadão (Borgerservice) do município onde mora e lá vai solicitar ou retirar o cartão de saúde com seu número de CPR impresso. O CPR, que é o seu número de identificação pessoal, você recebe quando seu pedido de visto é aprovado. Esse número, composto pelos números da data do seu nascimento mais quatro dígitos (final par para mulheres e ímpar para homens) virá também impresso no seu cartão de visto de residência e no seu cartão de saúde. O cartão de saúde é obrigatório para poder utilizar os serviços de saúde pública do país mas não é documento válido para identificação – apenas documentos com foto são aceitos como identificação, como por exemplo a carteira de habilitação, cartão de visto de residência (opholdstilladelse) ou passaporte. Após esse passo, a pessoa recebe em sua casa uma correspondência do Jobcenter municipal, convidando para um bate papo. Nesse bate papo um conselheiro (sagsbehandler/rådgiver) vai conversar com você sobre a sua experiência de trabalho, habilidades, qualificações, escolaridade e você assinará um contrato de integração, que é o seu compromisso com o país de que irá aprender o idioma e tentará buscar um emprego para se integrar à sociedade dinamarquesa.
Esse contrato tem validade de 3 anos e você será ‘monitorado’ dentro desse período, onde o conselheiro municipal irá lhe telefonar a cada 3 meses para saber como está o progresso de sua adaptação e integração. O ensino do idioma é oferecido pelo município e pago por ele, portanto, gratuito pra você, e você poderá se inscrever no centro de idiomas mais próximo da sua cidade, ingressando no nível que lhe for mais apropriado, de acordo com seu grau de conhecimento e escolaridade. Além de oferecer o ensino do dinamarquês e aspectos da vida e cultura dinamarquesa, o município oferece uma possibilidade de trabalhar como aprendiz ou praktikant em uma das várias empresas participantes do programa. Esse é um trabalho não remunerado e a carga horária de trabalho é de sua escolha, variando entre 15 a 40 horas por semana, divididos entre 3 a 4 dias por semana, por um máximo de 3 meses.
O município alega que esta é uma excelente forma de promover a integração através da inserção direta do migrante no mercado de trabalho dinamarquês, para que ele aprenda a se familiarizar com o idioma e com a forma de trabalhar dos dinamarqueses. Muitas pessoas que começam trabalhando através de praktik acabam sendo contratadas formalmente depois dos 3 meses como praktikant.
No bate papo com o conselheiro do Jobcenter você também recebe o integrationspakke, que consiste em alguns livros e folhetos a respeito da vida e costumes na Dinamarca, um livro sobre cidadania e ingressos para atividades culturais na cidade. Na época em que recebi o meu, também recebi um klippekort – cartão de transporte carimbado nos ônibus e estações de trem – que dava direito a 10 viagens de ônibus dentro do município.
O que muda com o novo plano de integração
A partir de 1° de julho de 2015 o programa de integração vai contar também com um plano de integração mais consistente. Esse plano visa integrar os migrantes – sobretudo os refugiados vítimas de traumas no seu país de origem – de forma mais eficaz, fazendo com que eles se sintam incluídos na sociedade como um todo, o que inclui visitas pessoais de conselheiros em suas residências, acompanhamento psicológico e social e indicação de mentores para ajudarem a pessoa a encontrar um emprego de acordo com suas competências.
A ideia é incentivar os migrantes a participar de cursos, tratamentos (em caso de traumas), reuniões e terem acompanhamento mais prolongado e assertivo por parte do município. Já estão funcionando projetos para auxiliar os refugiados com sintomas de trauma devido às condições do país de onde vieram, e voluntários trabalham juntamente com psicólogos e conselheiros designados pelo município para auxiliar essas pessoas, além de mentores para auxiliarem na busca por um trabalho, dando dicas e trocando experiências.
O intuito dessas mudanças é de que esses migrantes, sobretudo os refugiados, possam se sentir acolhidos e se tornem, dessa forma, produtivos e ativos dentro da sociedade que os abriga. Desde há muito se fala a respeito da ineficácia do programa de integração anterior que, apesar de oferecer possibilidades para o migrante, ainda era limitante no sentido de falhar no incentivo para que esse migrante se sinta importante na sociedade e queira fazer parte dela. A questão da importância de se ter um trabalho é o foco, e os programas de ajuda através de mentores que já existiram no passado estão voltando à ativa a todo vapor.
Leia sobre motivos para não morar na Dinamarca
Uma campanha nacional foi lançada logo após os ataques em Copenhague e seu slogan é: Se você vem para a Dinamarca, você tem que trabalhar. Considerado um tanto agressivo por muitos, a intenção é de reforçar a importância do trabalho como ferramenta para o cidadão se sentir parte produtiva da sociedade, porém ainda falta resolver a questão da escassez de postos de trabalho.
Você deve estar se perguntando a respeito da escassez de postos de trabalho e o porquê de ela acontecer. Eu explico: isso tem a ver com o sistema educacional daqui. O dinamarquês estuda um mínimo de 12 anos e os trabalhos, mesmo os considerados por nós brasileiros como simples, como construção civil, encanador, marceneiro etc. requerem profissionais treinados e capacitados. Sem a capacitação específica é impossível encontrar trabalho nessas áreas. O que acontece com mais frequência é os migrantes acabarem virando empreendedores e geradores de emprego e renda, pois os postos de trabalho disponíveis requerem educação específica para a função e muitos desses migrantes, sobretudo os refugiados, não têm diplomas para competir com outros profissionais, sendo assim deixados de fora do mercado, além de não dominarem o idioma dinamarquês.
A campanha também é vista como uma parte da estratégia do partido de Thorning-Schmidt, Socialdemokraterne, de conseguir votos – sobretudo dos conservadores e eleitores do DF – para as próximas eleições do parlamento, acontecendo no próximo dia 18 de junho.
Como a Dinamarca vai resolver a questão da integração ainda é uma incógnita. Resta-nos esperar que as novas medidas sejam positivas e que realmente ajudem.
Mais informações sobre o sistema de integração dinamarquês podem ser acessadas (somente em dinamarquês) no Integrationsnet, no site do Ministério da Integração e no Retsinformation, site de leis da Dinamarca.
33 Comments
Muito bom o assunto abordado, muito obrigada.
Obrigada pelo comentário e continue acompanhando o blog! 🙂
Ótimo, Cristiane. Parabéns pelo blog. Sempre que posso, acompanho.
Obrigada, Angélica 🙂
Gente, adorei seu texto mas o cartaz Kommer du til Danmark, skal du arbejde, é de extremo mal gosto e preconceito. Desculpa falar isso, mas esse tipo de cartaz me faz lembrar todos os dinamarqueses que acham que a culpa do imigrante de depender de ajuda do governo é do próprio imigrante e não do próprio sistema. Muitas vezes o benefício pago pelo governo é maior do que qqr salários que os imigrantes teriam e alguns são obrigados a continuar no tal beneficio, já que só conseguem trabalhos mal remunerados. Concordo que muitos são preguiçosos, assim como muitos dinamarqueses que conheci que viviam mamando no sistema, muito mais que os proprios imigrantes. Desculpa o desabafo, mas eu realmente não concordo com a politica dinamarquesa em nenhum sentido.
Infelizmente é isso mesmo, Heloísa. O Socialdemokraterne lançou essa campanha pensando justamente nos eleitores do Danske Folkeparti, que é o partido de extrema-direita daqui e que repudia todos os imigrantes. Eles têm consciência de que a falha é no sistema, sim, mas até aí, em época de eleição entra todo mundo no clima do vale-tudo… Outro partido de direita daqui, o Venstre (que ironicamente significa ‘esquerda’ em dinamarquês) está com planos de redução dos benefícios e as leis para os imigrantes estão a cada dia mais rígidas. E sim, tá cheio de dinamarquês fazendo mau uso do sistema. Eu mesma conheço pelo menos duas pessoas dinamarquesas que recebem ajuda do governo, não trabalham mas moram sozinhas, têm carro e todo fim de semana estão no bar ou no restaurante… Aqui também tem dessas hipocrisias, infelizmente.
Infelizmente nenhum País é perfeito. existe gente oportunista em todo lugar até mesmo na Dinamarca kkk. Mas achei essas maneiras de integração interessante.Espero que realmente tenha bons resultados para os imigrantes. Quero ficar acompanhando tudo sobre isso.
Eu também espero que as novas medidas deem certo, Diego. Mais pra frente eu volto a escrever a respeito de como está a situação dos migrantes por aqui. Obrigada por sempre nos acompanhar e fique ligado que em junho tem matéria interessante sobre violência doméstica e o que fazer no caso de ser vítima.
Então, embora eu tenha achado o cartaz um pouco duro demais, talvez até um pouco agressivo, e depois de eu ter sabido que ele assim o é por embasar as ideias dos partidos de extrema-direita da Dinamarca, eu concordo plenamente com a ideia dele: chegou no país, quer fugindo das condições inóspitas do seu país, quer chegando legalmente em busca de uma nova vida, vá trabalhar! O cara já foi acolhido por um país democrático, que respeita as liberdades individuais e dá-lhe condições de crescer qual indivíduo e qual profissional (no caso dos refugiados) e quer ficar se regozijando dos benefícios sociais que o governo dá (eu concordo com a assistência social, detesto o discurso da direita que diz que isto induz ao parasitismo social, mas, a menos que ela seja monitorada, bem-direcionada, ela vai desenvolver parasitas). E antes que eu tome alguma pedrada, deixa eu citar meu caso: moro na França há um ano praticamente e recebo uma ajuda mensal do governo para me ajudar com o aluguel – a CAF (Caisse d’Aide Familiale). O benefício da CAF é estendido a qualquer um que seja: estudante, trabalhador autônomo, trabalhador de baixa renda, refugiado, expatriado, estagiário, enfim, pessoas que, nestas circunstâncias, não podem pagar os valores abusivos de aluguel que a França cobra. Agora, voici o que acontece aqui: um enorme – e sempre crescente – número de imigrantes pede a CAF, é beneficiado por ela, mas não trabalha e não paga o aluguel – sacaneando os proprietários. Outros fazem pior, assinam CDDs (Contrat de Duration Determinée) e, tão-logo ficam desempregados, com o fim do contrato, vão correndo entrar “en chômage” (ou seja, vão pedir o RSA, que é uma ajuda financeira para desempregados, o equivalente ao seguro-desemprego brasileiro). Agora, me pergunta: e os atentados do Charles Hebdo, quem os perpetrou? Fundamentalistas muçulmanos saídos do Oriente Médio… ou imigrantes vivendo na França, acolhidos pelo governo e por todas as mordomias que o governo aqui, até o momento, dá a todos eles? A segunda opção, como as manchetes revelaram. Cuspiram no prato que comeram! O mesmo aconteceu na Dinamarca!!! Uma religião praticada atualmente de uma maneira tão estúpida, gerando legiões de fanáticos super-sensíveis a tudo que toque seu livro sagrado ou seu profeta, dispostos a matar inocentes em nome de uma fé cega e mal-direcionada… A Dinamarca pode até ter expressado-se mal ou ter segundas intenções ao recrudescer as leis de imigração – o que é uma pena, pois a Dinamarca está na minha lista de possíveis próximas moradas – mas exigir que aqueles que ela acolhe sejam membros produtivos da sua sociedade é mais do que certo. E, sim, eu sei que há dinamarqueses hipócritas que também se aproveitam do sistema de seguridade social do governo. Por isso que apoio muito a ideia da ministra: MONITORAR os que recebem a ajuda. Eu não vejo nada de errado nisso!
Mas aí é que tá o cerne da questão, Matheus. Não é que as pessoas se neguem a trabalhar: não há postos suficientes para todos! O governo dinamarquês sabe muito bem disso. A Dinamarca é um país com poucas indústrias de base e as vagas, tanto nessas indústrias quanto na produção rural são preenchidas ou pelos próprios dinamarqueses, ou por trabalhadores do leste europeu – romenos, polacos, eslovenos, eslovacos… Até os alemães e outras nacionalidades europeias acabam tendo mais chance às vagas que os refugiados. Há, também, a questão de que não basta oferecer a ajuda humanitária: é preciso estar preparado para oferecer infra-estrutura para esses asilados e refugiados. Ou você acha que é legal sair de um país onde há conflito e guerra, onde a coisa já está feia e vindo para um novo país, cheio de esperanças, as suas esperanças são esmagadas ao te jogarem numa área de ‘gueto’, longe dos centros urbanos e jogando na sua cara que você é, sim, diferente (fazendo você se sentir inferior) e, portanto, merece ser tratado de forma diferente? É bastante complexo. Em termos de imigração eu diria que a Dinamarca já teve períodos mais ‘duros’, por assim dizer, em relação aos critérios para admissão de imigrantes. Afrouxaram um pouco as leis, porém ainda é difícil. Sabia que mesmo você se casando com uma pessoa dinamarquesa e optando por morar no país com visto de reunificação familiar, o seu visto pode ser revogado ou até mesmo negado? E os critérios para obter o visto permanente de residência já são bastante rigorosos. O que eu penso que é preciso, de verdade, é parar de querer culpar unicamente os estrangeiros pelas falhas no sistema. É sabido que há muitos dinamarqueses que se aproveitam do sistema tanto quanto há estrangeiros que acabam extrapolando; o que é injusto é a corda sempre arrebentar pro lado do mais fraco – no caso, o estrangeiro e sobretudo, o estrangeiro de origem árabe. Por conta de uma suposta ‘guerra ao terror’ os partidos de extrema-direita daqui já estão, inclusive, propondo um projeto de lei que limite o uso de línguas estrangeiras nas conversas de rua – querem proibir os estrangeiros de falar em sua língua natal entre si! É absurdo, na minha opinião. Concordo que é preciso haver leis e monitoramento dessas leis, mas ainda acredito nas Leis de Jante e penso que elas poderiam muito bem ser consideradas também nesse caso. Agradeço muito o seu comentário e espero que leia outros textos meus sobre a Dinamarca! Continue seguindo o BPM 🙂
Vocês fez boas pontuações, Cristiane, eu não havia parado para pensar nelas. De fato, sobre a oferta de trabalho, a França também está lastimável, e até nos McDonald’s da vida eles dão preferência para outros europeus, e isto porque está faltando vaga e sobrando gente querendo trabalhar. Desculpe-me se eu me exaltei, não foi intencional. É só porque aqui na França, os árabes, via de regra, são os mais abusados, os que mais desrespeitam os outros, cometem crimes (desde pequenos vandalismos a estupro coletivo e assassinato), sobrecarregam o sistema de Assistência Social (de cada dez dossiês que entram na CAF para pedir o RSA, 7 são de árabes que cumpriram CDD de 3 meses e agora vão ficar quase um ano no seguro-desemprego) e, em geral, são que mais dão golpes em outros estrangeiros que vêm, quer morar, quer passear na França. Eu, como tive muito problema com eles, problemas que foram inteiramente causados pelos mesmos, e muitos dos quais gratuitos – como esbarrar em mim na merda do tram e querer caçar briga – eu tomei uma imensa antipatia por árabes. A cultura deles parece – note, eu disse “parece” – não se sintonizar com a cultura de nenhum país europeu para onde eles migram. Eu sou brasileiro e nem por isso quis impôr minha cultura e meu comportamento aqui, na França; muito ao contrário, eu acho que fiquei até mais francês que muito francês nativo, em vários aspectos da vida diária. MAAAAS eu reconheço que não posso generalizar e que há, sim, árabes decentes, educados, que realmente querem uma vida melhor e não merecem o tratamento inferiorizador que recebem. Mas tente, também, entender meu lado: eu VI pessoalmente, OUVI pessoalmente e VIVI pessoalmente o comportamento mal-educado deles… aí eu meio que “entendo” as reservas dos europeus com eles. Aqui na França mesmo, os “cabelo de cascão”, corte de cabelo predominante nos jovens árabes que lembra muito o Cascão da Turma da Mônica, são constantemente impedidos de entrar nas soirées. No início, isso me indignava, mas, depois que vi quatro deles, barrados, voarem no soco no segurança, quebrar garrafa e tentar cortá-lo, as coisas ficaram bem mais claras. Posteriormente, colegas franceses me explicaram que são sempre eles os responsáveis por arrumar briga. Ontem, na minha caminhada diária, vi uns escolares derrubando contêineres de lixo e esparramando rua afora de propósito, só pra depois saírem correndo e rindo… vandalismo… e adivinha se tinha algum francês no meio do grupo? Pas du tout.
Mas, enfim, eu reconheço que não posso generalizar de forma alguma, lendo seu comentário eu vi que a Dinamarca está bem mais direitista do que eu imaginava e, sim, estou muito ansioso pelos seus próximos textos sobre este país. Um abraço, continuarei acompanhando o blog.
Matheus, a questão da juventude da banlieue francesa é diferente da questão dos refugiados de origem árabe na Dinamarca. Para começar, a maior parte dos migrantes de origem árabe na França é proveniente do Magreb (países do norte africano, colonizados pela França). E discordo de você quando diz que não há franceses entre os ‘delinquentes’. Toda pessoa que nasce na França é francesa, ainda que descenda de pais migrantes (droit du sol simple differé). Em relação à violência urbana, é preciso desconstruí-la para entendê-la. Jovens pobres, que moram na periferia, vivem isso na pele – e pode ser tanto em Paris quanto em São Paulo ou qualquer outro lugar do mundo. Onde há desigualdade social, há violência. A violência nasce da carência, seja ela material ou emocional, e da necessidade de se impor valores que a sociedade se nega a reconhecer, mas que são intrínsecos ao ser humano e ao direito humano. É nesse vazio que os fundamentalistas encontram seu terreno de ação e prometem ao jovem que ele se sentirá integrado, parte de um todo, ao se filiar a associações como o IS. É preciso agir contra isso e fazer com que o jovem se sinta importante na sociedade. Aqui na Dinamarca existe um programa para os jovens que se deixam enveredar pela sedução das promessas do islã dogmático da sharia. Esse programa visa reintegrar o jovem e acender nele a consciência de que a sociedade precisa dele, que ele é importante. O programa tem obtido sucesso e apesar de não haver dados mensurados, nota-se que há muito menos jovens radicais no país em comparação a outros lugares da Europa Ocidental. Em vez de notar a violência como uma causa, é preciso enxergá-la como uma consequência. Por sua vez, a França é pátria de tradição revolucionária, onde as pessoas não se calam diante do que consideram injusto. Não quero com isso justificar o injustificável, porém tudo nessa vida está sujeito às leis de causa e efeito, e aí também encaixo a questão da violência. Ou você acha que se essas pessoas da banlieue fossem tratadas da mesma forma que as pessoas que moram no 6e ou 7e em Paris elas ainda reagiriam da mesma forma ao serem barradas na porta das discotecas? Ou seriam discriminadas por serem ‘árabes criadores de confusão’? Há muito preconceito, principalmente contra o que desconhecemos. Se por um lado a França tem a vocação libertária de querer promover a ‘egalité’ e se autoproclamar um estado laico que veda o uso do hijab, por outro lado os franceses que se consideram a ‘crème de la crème’ precisam aprender a enxergar que sem esses migrantes, o país talvez não fosse o que é.
Obrigada mais uma vez pela contribuição ao debate! Aguardo comentários em outros textos 🙂
Mundo globalizado se estreitando cada vez mais ….
Sou casada com um dinamarques e na lei diz que ele tem a obrigacao de me sustentar, como nós nao vivemos de ajuda governamental… Eu tenho muita dificuldade de arrumar um trabalho fixo na minha area porque entre uma pessoa que custa dinheiro para o governo e outra que nao custa nada ( meu caso ) o trabalho acaba ficando para a outra pessoa. Eu acho isso um absurdo.
Eliane, obrigada pelo seu comentário. Na verdade, pela lei de imigração para reunificação familiar, seu marido não pode pedir ajuda do governo para o seu sustento, pois isso poderia implicar na revogação do seu visto de residência no país. Sobre a questão de empregos, reconheço que está difícil até mesmo para quem é altamente qualificado e fala dinamarquês com fluência. Qual a sua área de atuação? Você já fala dinamarquês? Já tentou participar do programa de praktik oferecido pelo Jobcenter? Eu escrevi dois textos sobre trabalho na Dinamarca: https://brasileiraspelomundo.com/dinamarca-trabalhando-parte-1-59183913 e https://brasileiraspelomundo.com/dinamarca-trabalhando-parte-2-32114630. Aconselho você a dar uma lida. Não entendi a sua colocação sobre não conseguir um trabalho fixo ‘porque entre uma pessoa que custa dinheiro para o governo e outra que nao custa nada o trabalho acaba ficando para a outra pessoa’. Quem custa dinheiro para o governo e quem não custa nada? Você viu a nova campanha do Socialdemokraterne que diz justamente que os primeiros postos de trabalho DEVEM ser preenchidos pelo pessoal que está no kontanthjælp? Talvez isso explique. E dependendo do seu grau de escolaridade e tipo de estudos que teve, você terá menos ou mais chances. Caso tenha feito faculdade no Brasil, procure saber se a sua profissão é regulamentada na Dinamarca e revalide seu diploma no país. Caso tenha feito um curso que não seja regulamentado ou não tenha similar no país, busque um meio de equivalência, ou opte por fazer um curso profissionalizante por aqui, mesmo, assim que puder. A maioria dos brasileiros e brasileiras que eu conheço e que vieram pra cá com visto de reunião familiar conseguiram bons empregos depois de frequentarem cursos e faculdades dinamarquesas. Boa sorte pra você e continue nos acompanhando!
Cristiane, acompanho o seu blog e acho muito interessante. Tenho uma dúvida, eu tive meu diploma brasileiro validado na Suécia, este teria validade em toda a Escandinávia? Eu acabei voltando para o Brasil e nem cheguei a trabalhar em Estocolmo, onde morei. Hoje este documento está engavetado, mas nunca sabemos o dia de amanhä. Obrigada e um abraco
Oi Eliana. Obrigada por ler o blog!
Sobre sua dúvida, não sei lhe responder, teria que olhar no site do ministério da educação da Dinamarca. Dê uma lida no site do Ministério da Educação Superior daqui para verificar onde você se qualifica. Eu acredito que seja preciso revalidar o diploma aqui, caso venha a trabalhar no país.
Segue o link para o site: http://ufm.dk/en/education-and-institutions/recognition-and-transparency/recognition-guide/guide-to-recognition-of-foreign-qualifications#cookieoptin
Continue nos acompanhando! Abraços
Eu adorei a materia eu tambem ainda nao intendo muito o sistema i regras dinamarques.eu vivo aqui a 8 anos sempre trabalhei i paguei empostos sem recebe ajuda da comuna i mesmo assim nao consegui minha permanencia no pais. i mmuito que chegam aqui ficam em casa sem fazer nada quase nao vai para ecola aprender o idioma ja tem sua permanencia. sera que as regras sao para todos mesmo?
Oi Claudia e obrigada por ler e comentar. Sobre o visto permanente de residência é preciso cumprir todos as exigências que o governo solicita e só é possível pedir residência permanente estando há mais de 5 anos no país e tendo trabalhado formalmente nos últimos 3 anos antes da solicitação, no caso de você ser migrante proveniente de países fora da Escandinávia. Sobre sua alegação de haver pessoas que ficam em casa sem fazer nada e quando vão à escola para aprender o idioma já têm permanência, é preciso atentar para o tipo de visto que essas pessoas têm, pois nem tudo é o que parece e muitas vezes a gente se engana. A lei é a mesma para todos, porém sabemos que há acordos entre países. Antes de fazer esse tipo de afirmação é preciso se certificar a respeito. Continue nos acompanhando! 🙂
Olá tenho uma dúvida quero viaja para Dinamarca estou providenciando tudo o que fico grilada e a imigracao e ñ falo inglês fluente entendo básico será que consiguo entra no país além de ir só e minha amiga que vai ser anfitriã
Olá. Se por algum motivo você for parada na alfândega do país de entrada, você tem direito a um intérprete para lhe ajudar, caso seja necessário. Em geral as pessoas que vêm a turismo para a Dinamarca com prazo de estadia inferior a um mês não são paradas na alfândega, não. Se for ficar mais de um mês ou até 90 dias, aconselho trazer o seguinte: carta convite do seu anfitrião na Dinamarca (em inglês) com nome completo, endereço e telefone de contato; seguro de saúde (é obrigatório e você pode comprar junto com a passagem aérea ou num banco ou agência de viagens de sua confiança); dinheiro suficiente para a estadia completa (pode ser cartão de crédito, cartão Visa Travel Money etc). Os motivos que podem fazer a alfândega te chamar para uma conversa são: problemas com o seu passaporte; problemas com a passagem (tem que mostrar ida e volta no controle alfandegário); problemas com seguro saúde, falta de reserva em hotel ou falta de confirmação de onde você vai se hospedar, ou falta de dinheiro para cobrir a estadia. Sua amiga pode também escrever na carta que ela se responsabiliza por cobrir os custos de sua estadia no país, se for o caso.
Boa sorte e boa viagem!
Parabéns Cristiane, muito esclarecedoras as suas explicações em relação à Dinamarca! Gostaria de saber sobre o ensino superior no país. Como funciona, se estrangeiros tem acesso.. se há ofertas de bolsas pelas instituições?
Olá, Pedro, e muito obrigada por ler a minha coluna aqui no BPM e por deixar seu comentário.
Em relação a ensino superior, sim, estrangeiros têm acesso ao sistema de ensino, porém não gratuitamente, mas há bolsas para estudantes, sobretudo de pós-graduação, mestrandos e doutorandos. Escrevi um texto sobre o Top Talent Denmark, uma agência dinamarquesa que trabalha em conjunto com o Brasil na promoção do sistema de ensino daqui para estudantes brasileiros. Dê uma procurada no blog e acesse o site deles para mais informações.
Continue nos acompanhando para saber mais sobre a Dinamarca! Um abraço e boas festas!
Muito interessante a matéria. Penso diariamente em mudar de país.
Obrigada por seu comentário e continue nos acompanhando para saber mais sobre a Dinamarca aqui no BPM 🙂
Olá Cristiane! Por quê outros povos estrangeiros, como árabes, chineses, indianos, etc tem uma facilidade maior para trabalhar e morar no exterior do que os brasileiros? Pergunto isso porque existem comunidades enormes desses povos em todos os países desenvolvidos, em qualquer lugar. Será que eles são mais qualificados que nós? Ou “topam tudo” (trabalham em qualquer emprego que surgir)? Obrigado.
Olá. Gostaria de lhe fazer uma pergunta. De onde saiu essa informação de que ‘árabes, chineses, indianos, etc tem (sic) uma facilidade maior para trabalhar e morar no exterior que os brasileiros?’? Fiquei curiosa. Acredito que seja uma boa ideia estudar um pouco sobre a mobilidade dos povos no mundo. China e Índia possuem, nessa ordem, as duas maiores populações do mundo, o que já seria (na minha modesta opinião) um motivo forte de haver grandes movimentos migratórios de pessoas desses países. Sobre os árabes, vivemos numa época de constantes guerras civis nos países árabes e atualmente a maior concentração de povos de origem árabe é originada por migrantes que buscam refúgio para fugir das áreas de conflito. O brasileiro é versátil, adaptável, trabalhador e bastante alegre, mas também folgado, elitista, bairrista e preconceituoso, além de tentar se garantir no ‘jeitinho’. Claro que não são todos os brasileiros que são assim, pois há exceções em toda regra, mas a minha experiência é de que o brqsileiro que se muda para o exterior, ou tem um motivo muito forte para a mudança, ou está tentando uma aventura e não se prepara adequadamente, e nesse segundo caso, vira vítima do choque cultural para o qual está despreparado. Quem não se prepara adequadamente – seja para o que for – corre o risco de se frustrar ou em bom português, quebrar a cara. Talvez seja essa a resposta à sua pergunta: o brasileiro quer sair do Brasil mas não se prepara, se informa mal, acha que pode agir em outros países da mesma forma que agia no Brasil – aí o que acontece é se frustrar e como é do brasileiro, a solução é procurar um bode expiatório, um culpado para expurgar sua incompetência em vez de admitir que se preparou mal ou que deveria ter considerado as diferenças culturais para sua adaptação. Em relação ao seu questionamento sobre o número de comunidades de migrantes de outros países, o Brasil também tem comunidades bem grandes em diversos países do mundo, basta buscar as estatísticas que você vai ver.
Oi Cristiane! Agradeço pela resposta. Acho que não usei o termo “facilidade” da forma correta, desculpe. Eu li artigos da BPM sobre o mercado de trabalho em outros países, e vi que mesmo sendo qualificado, vejo que é bem difícil cumprir todos os requisitos para tirar um visto que permita morar no país ou conseguir um emprego (além de ser burocrático) e de todo o processo e obstáculos para se adaptar no novo país, mesmo indo com a melhor das intenções. As vezes penso que nunca vou estar preparado para passar por isso, mesmo sendo uma pessoa flexível. E essa pergunta surgiu na minha mente porque nesses países desenvolvidos moram muitos estrangeiros, até famílias, principalmente vindo desses lugares que eu citei, que conseguiram passar por tudo isso e hoje vivem e trabalham normalmente no novo país, o que me deixou essa falsa impressão de ter sido mais fácil pra eles, por ser mais numeroso, e também por virem de países que estão na mesma condição do Brasil, cujas culturas são completamente diferentes da nossa, mas tiveram sucesso em mudar definitivamente de país. E fiquei com curiosidade de saber como eles conseguiram. Por ter feito a pergunta por impulso, foi difícil tentar esclarecer isso e responder de uma forma clara. Se essa pergunta pegou mal, me desculpe de verdade.
Aproveito para dizer também que eu leio os seus posts e são muito úteis para conhecer e me informar sobre a realidade da Dinamarca e da Europa. Sei que lá não é um “conto de fadas” como a mídia brasileira gosta tanto de falar, mas descobri que tenho muitas coisas em comum com os europeus quando fui por essas bandas, o que me fez nascer essa vontade de morar aí, para viver essa experiência e ganhar aprendizado, pelo menos por um tempo… mas vejo que preciso dar muitos passos até estar preparado para isso. Um abraço!
Elias, eu acredito que a sua pergunta tenha sido mal elaborada, mesmo, mas não considero que a interpretei mal, já que os migrantes por você citados são provenientes de países com as mesmas dificuldades que o Brasil ou até mais, porém as circunstâncias que levam uma pessoa a migrar são diversas e cada caso deve ser considerado isoladamente. Todos enfrentam dificuldades em um determinado momento da vida e nas circunstâncias atuais do mundo, com crises e guerras civis pipocando pra todo lado, não tá fácil pra ninguém, nem mesmo para os nativos de uma nação. Na Dinamarca e Europa em geral está uma onda de desemprego onde profissionais qualificados têm enorme dificuldade para se colocar no mercado de trabalho, apesar de suas competências e qualificações. Se a sua vontade é de migrar um dia, é bom ter em mente que nem tudo são flores, mas nem tudo são pedras no caminho. Prepare-se e abrace essa aventura! Mudar de país faz a gente crescer em vários aspectos, sobretudo em relação à nossa percepção de nós mesmos e de nossa visão de mundo, que se torna muito mais ampla com a experiência de morar fora.
Obrigada por comentar!
E só para complementar, estou arrependido de ter feito o comentário que eu fiz ontem, desculpem pela minha ignorância. Como meu comentário foi postado e está visível para todos aqui no site, é meu dever fazer isso. Por fim, de agora em diante, vou fazer comentários e tirar dúvidas com as colaboradoras do BPM somente quando forem necessários. Aguardo pela compreensão de todos.
Olá Cristiane! Desculpe pela enxurrada de comentários feitos por mim neste post. Em relação ao meu último comentário acima, acho que você vai entender melhor o que eu queria ter lhe perguntado quando ler o meu comentário postado do post “Suíça – Tessino, primeiro cantão suíço a proibir o uso da burca”, da colaboradora Selma Poncini. Um comentário de outro leitor sobre o assunto me deu uma base para elaborar melhor o meu comentário para ela, e pode servir de ajuda para você entender o porquê de ter feito essa pergunta aqui para você. Reconheço que minha elaboração da pergunta anterior para você foi muito ruim. Aguardo pela sua compreensão.
Oi Elias, eu entendo e já está perdoado, rs.
Eu li o comentário no texto da Selma.
Desejo boa sorte a você! 🙂
Boa noite! Gostaria de te pedir algumas informações sobre trabalho na Dinamarca e sobre a nova lei de imigração, pois preciso de mais informações para um dos artigos que estou escrevendo no mestrado em direito e relações internacionais. Como faço para entrar em contato contigo? Grata.