No verão do ano passado, decidimos fazer uma viagem de carro à Portugal. Tínhamos tudo planejado: sair de Valência e ir direito para Lisboa mas, sem muito pensar, decidimos de última hora adiantar nossa viagem e irmos à Mérida, para que a viagem não fosse tão longa e também para conhecermos a cidade, e não nos arrependemos.
Mérida, tombada como patrimônio da humanidade pela UNESCO, é a capital da comunidade autônoma de Extremadura e foi fundada pelos romanos em 25 a.C. É possível encontrar essa presença romana na cidade até hoje, todos os monumentos estão perfeitamente conservados e são a atração turística da cidade.
Chamada de Augusta Emerita pelos romanos, foi fundada para receber os soldados da guerra cantábrica e entrou em declínio com a invasão árabe na Espanha. Seus monumentos e estrutura estão conservadas até hoje e é possível visitar o aqueduto, circo, dique, ponte romana, teatro romano, dentre tantas outras atrações, além do Museu Nacional de Arte Romana.
Como ficamos pouco tempo na cidade, e no verão fazia calor de mais de 40 ºC para ficar andando o dia inteiro, escolhemos alguns monumentos que não poderíamos deixar de visitar: o Teatro e Anfiteatro Romano, o Aqueduto dos Milagres, Templo de Diana e a Ponte Romana. Passamos também pela Alcazaba Árabe, mas não pudemos entrar pois já havia encerrado o horário de visitas.
O Teatro e o Anfiteatro ficam no mesmo complexo e durante as noites de verão abrigam espetáculos de companhias de teatro. O teatro romano foi construído entre os anos 16-15 a.C., quando a cidade tornou-se capital, e tinha capacidade para 6 mil pessoas. Quando visitamos o local, encontramos informações sobre quais locais eram reservados a determinadas camadas da população: magistrados, sacerdotes, cavaleiros, mulheres, dentre outros. O local, como é de se esperar, servia para encenações na época e para entreter o povo.
Já o Anfiteatro data do ano 8 a.C. e abrigava as conhecidas lutas de gladiadores. Sua construção é muito mais simples do que a construção do teatro, mas não menos impressionante. É possível andar pelo local e adentrar a arena, o que faz com que nossa imaginação flua sem, no entanto, conseguir esgotar todas as batalhas que devem ter ocorrido ali. No local, nos ensinam também as diversas classes de gladiadores existentes na época e o tipo de armaduras que eram utilizadas.
Neste mesmo complexo onde está localizado o teatro e o anfiteatro há outras construções que podem ser visitadas, como o jardim ou as termas romanas. É possível passar toda a manhã no local, lendo e conhecendo sua história.
O Aqueduto, obviamente, servia seus propósitos na época e trazia água do pântano de Proserpina para a cidade. O mais impressionante dessa construção é o seu tamanho e, quando estive embaixo do aqueduto, apenas pensava em como conseguiram construir algo tão grande e complexo naquela época, é impressionante.
Terminamos nosso turismo pela cidade na ponte romana. Caso você queira visitar a cidade, aconselho visitar a ponte no pôr do Sol, assim é possível tirar lindas fotos de seu reflexo na ponte e no rio Guadiana. A ponte romana tem uma grande simbologia e localização estratégica para a época.
A Alcazaba, por usa vez, é resquício da Espanha árabe e foi construída em 835 d.C. Ela servia como fortaleza e residência do governante na época e filtrava o acesso da cidade, já que se localiza em frente à ponte romana. A Alcazaba Árabe de Mérida é a mais antiga da Espanha e, infelizmente, não pudemos entrar no local para fazer uma visita, mas sua construção é linda e é possível tirar fotos dela desde a ponte romana.
Andando pela cidade é possível encontrar alguns outros resquícios de monumentos da época da invasão romana, como o Templo de Diana, que está perfeitamente conservado. O Templo leva esse nome pois pensavam que era utilizado para o culto da deusa Diana. No entanto, lá pelos anos 70, durante escavações, descobriram que o templo era utilizado, na verdade, para o culto da família imperial.
A cidade tem outros monumentos e museus que podem ser visitados e que pretendemos fazê-lo com mais calma em alguma outra viagem.
Se os monumentos romanos não foram suficientes para convencê-los a visitar a cidade de Mérida, darei um outro motivo: a culinária. Confesso que a comida espanhola não é a que eu mais gosto, mas nunca comi tão bem aqui na Espanha como em Mérida. Além da comida deliciosa, a região de Extremadura produz um dos melhores jamón: o ”jamón ibérico de bellota”.
Enquanto buscávamos um lugar para jantar, nos deparamos com indicações no Tripadvisor de um local chamado “Nico Jimenez” e ali eu comi o melhor jamón da minha vida. Não era apenas o jamón que era bom, mas todas as tapas feitas no local, que harmonizavam perfeitamente com um vinho que é produzido pela própria casa. O dono é um mestre cortador (sim, isso é um ofício na Espanha e há especializações em corte de jamón) e sua casa é visitada pelas mais diversas personalidades não só espanholas, mas internacionais. O melhor é que o preço é amigo: comida boa por um preço honesto, então anotem essa dica de ouro.
Mérida é uma surpresa boa e nem sempre incluída nos roteiros de viagem pela Espanha, então aconselho que a incluam seja na próxima viagem à Espanha ou a Portugal, já que a cidade está localizada a 286 km de Lisboa.