St. Louis: o portal de entrada para o oeste americano.
“Não é uma cidadezinha, Mr. Neely. É uma cidade, é a maior cidade que recebeu a Exposição Universal! Minha favorita. Não dei sorte de ter nascido na minha cidade favorita?” (“It’s not a town Mr. Neely, it’s a city, it’s the largest city with the World’s Fair! My favorite. Wasn’t I lucky to be born in my favorite city?”).
A frase tirada do clássico filme de Hollywood de 1944, “Meet me in St. Louis”, ou “Agora Somos Felizes” (título em português), diz muita coisa sobre a cidade. St. Louis é uma cidade grande com jeitinho de cidade pequena, e ao mesmo tempo é uma cidade pequena com espírito de cidade grande. Quem nasce aqui tem um orgulho enorme do lugar, que foi uma das cidades mais importantes para os Estados Unidos financeiramente no começo do século XX.
St. Louis completou 250 anos esse ano, mas a cidade está longe de ser uma local que atraia muitos turistas brasileiros. No entanto, quem vem pra cá se surpreende com a história do lugar, a importância geográfica na região, as grandes empresas, os festivais, a arquitetura, culinária, paixão pelos esportes, custo de vida baixíssimo e excentricidades.
Devido à sua localização no meio dos Estados Unidos e às margens do Rio Mississippi (maior rio dos Estados Unidos), St. Louis era um ponto estratégico para embarcações e exploradores que desejavam desbravar o oeste americano e por isso St. Louis se tornou tão importante, chegando a ser a quarta maior cidade do país. St. Louis esteve sob domínio dos franceses (daí o símbolo da cidade ser a Fleur de Lis), dos espanhóis, dos britânicos e por fim, dos americanos.
Com um grande número de imigrantes europeus que se instalaram aqui St. Louis cresceu e, assim, nasceram empresas que se tornaram gigantes globais como a Anheiser-Busch (produtora da cerveja Budweiser), Purina (atualmente parte do conglomerado Nestlé), Monsanto, dentre outras que vieram se instalar aqui algum tempo depois, como Boeing, Mallinkrodt e IBM.
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A arquitetura possui uma influência europeia muito grande e eu costumo dizer que St. Louis é a cidade dos mini-castelos de tijolinhos vermelhos. Os “red bricks” estão por todo parte e dão um charme todo especial a cidade. Em alguns bairros como Soulard e Laffayete Square há o Spring House & Garden Tour, onde os donos das casas de estilo vitoriano abrem suas portas durante o festival e permitem que os moradores da cidade e turistas visitem suas casas e conheçam um pouco mais sobre o lugar, a história e a arquitetura local.
Além dos red bricks, St. Louis é a dona de um grandioso monumento arquitetônico, o Gateway to the West: the Arch! O Arco foi projetado para representar a porta de entrada para o oeste americano, e se você vier a St. Louis e não for ao Arco, é como se você tivesse ido a Paris e não tivesse visto a Torre Eiffel! O Arco fica de frente pro Rio Mississippi, foi construído entre 1963-1965 e possui 192 metros de altura. Vale a pena visitar e ir até o topo.
Também é aqui que você encontrará um dos maiores parques dos EUA, o Forest Park, parque que foi criado há mais de 100 anos com o intuito de sediar grandes eventos como as Olímpiadas de 1904 e a Exposição Universal, também de 1904. Lá há muitos museus, um zoológico que foi votado o quarto melhor do mundo (e tem entrada gratuita), um planetário, inúmeros campos de golfe, futebol americano, quadras de tênis, flores, flores e mais flores.
Mas St. Louis também tem outras particularidades. Sendo casa do maior conglomerado produtor de cerveja do mundo, a Ambev (antiga Anheiser-Busch Inc.), e tendo um grande número de descendentes de alemães, aqui as pessoas amam cerveja. Um passeio que vale a pena fazer é conhecer (e degustar, é claro!) as microcervejarias locais que estão por todos os cantos da cidade, como Schlafly, Urban Chestnut, dentre muitas outras.
Assim como no Brasil gostamos de um cervejinha gelada quando assistimos aos jogos de futebol, aqui a história não seria diferente, mas o esporte da cidade é o beisebol. O time local é chamado Cardinals e é uma paixão local. O Cardinals é o segundo time com maior número de títulos nacionais no país, ficando atrás apenas dos Yankees de Nova Iorque. De abril a outubro, período do campeonato da Liga Nacional de Beisebol Americano, a cidade fica pintada de vermelho, e pra onde se olha há alguém com uma camisa, um boné, ou algum acessório fazendo referência ao time da casa. Ir ao Busch Stadium ou Ball Park Village, complexo esportivo onde o Cardinals joga, é quase obrigatório se você mora aqui.
Apesar de não ser uma cidade famosa mundialmente como Nova Iorque, Los Angeles ou Boston, em St. Louis é possível encontrar gente de muitas nacionalidades. Áreas como o Loop, South Grand, Hill, Bevo Mill e Cherokee St. são bastante diversificadas no comércio, no jeito das pessoas se vestirem, na música e nos variados restaurantes que apresentam desde a típica comida do meio oeste americano até a culinária somali. Se vier aqui lembre-se de provar o famoso Gooey Butter Cake e os Toasted Raviolis. Vale a pena!
St. Louis é assim, sempre cheia de charme e reservando surpresas… Vale a pena conhecer!
9 Comments
Amei o post . sempre muito esclarecedor e instrutivo. Se não fosse pelo frio seria um lugar sem igual. Bjs menina Lorrane.
Obrigada, Cássia!
Continue acompanhando o blog! Tem muito mais coisa boa vindo por aí! Beijão
Lorrane adorei seu post! Estamos de mudança para St Louis então procurando ler tudo o que encontro !! Queria saber um pouco mais sobre os melhores bairros para morar …Você sabe algo ? Obrigada Leila
Oi Leila!!!
Obrigada por estar acompanhando o Brasileiras Pelo Mundo!
Welcome to the Midwest!
Bom, quando você pergunta sobre bairros é bom ter em mente se você quer viver na cidade de STL ou em um condado. Geralmente quem tem filhos em idade escolar vive em condado, porque o school district dos condados tem mais a oferecer.
Na cidade de St. Louis te aconselho a morar em bairros como Central West End, Dogtown ou South City.
Se você quiser morar em condados coladinhos na cidade, mas que possuem bons distritos escolares, te indico webster Groves, Kirkwood, Clayton e Brentwood!
Se você prefirir algo mais afastado, tem Valley Park, Chesterfield, Ellisville.
Eu não sou muito fã de condados afastados. Não gosto de perder tempo me deslocando pra ir ao trabalho, e a maioria das pessoas trabalham em Downtown! Mas isso é de cada um né? Boa sorte!
Oi Lorrane, muito legal o post!
Eu estou indo morar em St Louis janeiro de 2017 com minha família (esposa e um bebê de 8 meses).
Vou trabalhar com pesquisa na Universidade e estou precisando de boas dicas de onde morar, etc…
Será que você poderia me passar seu email, skype ou whats pra gente pode entrar em contato e tirar dúvidas!
Vai ser ótimo receber a ajuda de um brazuca que mora na cidade.
Obrigado!!
Bruno e Juliana
Bruno,
Obrigada por acompanhar o Brasileiras Pelo Mundo.
Eu não moro mais em St. Louis, mas existem dois grupos no Facebook onde você com certeza obterá bons conselhos:
– Brasileiros em St. Louis; e
– Brasileiras em St. Louis. Este segundo é bastante útil pra quem tem filhos pequenos, as mães sempre compartilham dicas de boas creches, escolas, bairros onde morar, etc.
Boa sorte e espero que goste da cidade,
Lorrane
Ola Lorrane, tudo bem?
Vou me mudar para St. Louis, mas estou um pouco preocupada com a segurança, já que dizem ser a cidade mais perigosa dos EUA. Sei que o padrao dos americanos é muuuito diferente quando comparado ao nosso.. o que você acha?
Adorei ler seu post!! Muito obrigada por passar tantas informacoes!!
🙂
Oi Thais,
Tudo bem? Obrigada por acompanhar o Brasileiras Pelo Mundo. Fico feliz em saber que as informações do texto estão sendo úteis pra você.
Em relação a sua pergunta referente a segurança: quando eu estava para mudar para St. Louis fizeram uma espécie de terrorismo comigo. As pessoas da empresa pra qual eu iria trabalhar também me falaram que a cidade é uma das mais perigosas do país, as informações que eu buscava na internet mostravam apenas esse lado da cidade, então quando eu cheguei lá eu morria de medo. Com o passar do tempo fui tirando minhas próprias conclusões e entendi que a cidade não é o que dizem por aí. Sim, é verdade que comparando com outras áreas dos EUA, St Louis tem um índice de criminalidade mais alto sim, mas para nós brasileiros, que estamos acostumados a sempre tomarmos precauções relacionadas a segurança, St. Louis não é essa “Faixa de Gaza” que muita gente fala que é (risos). Existem alguns bairros que te aconselho a evitar (norte da cidade), devido a gangues e tráfico de drogas. Essas áreas são facilmente evitadas por quem decide morar na cidade de STL. Você só precisa passar por lá se quiser, ou seja, é uma opção sua ir ou não e se envolver ou não.
Muitos americanos reclamam da cidade, pois querem deixar a carteira dentro do carro ou dormir com a porta destrancada. Esse tipo de bobeira não se pode dá em STL mesmo não. Mas sinceramente? Eu náo daria uma bobeira dessas em lugar NENHUM do mundo. Nem nos EUA, nem no Brasil, nem no Japao! (risos).
Eu morei lá durante 5 anos (na cidade de STL mesmo, não nos subúrbios) e volto com frequencia, pois a familia do meu marido é toda de lá. Nunca fui assaltada, ou tive carro arrombado, ou presenciei algum ato de violencia. Além disso, tanto eu quanto o meu marido trabalhavamos em Downtown, outra área dita perigosa. Absolutamente NUNCA tivemos qualquer problema. Pra quem chega em STL é necessário entender que a questáo da segurança está diretamente ligada ao bairro que você escolhe pra morar. E lá você tem 3 opções de moradia: morar na cidade (considerada mais perigosa) ou morar no subúrbios (sul e oeste) considerados tranquilos. Ou morar até mesmo no estado do Illinois (a leste), já que STL é literalmente na “fronteira” entre os 2 estados. No entanto, a minha visão é que a cidade em si não é tão perigosa como se fala.
O caso mais falado em questão de segurança: em 2014 houve a morte de um menino, morto por um policial branco em um suburbio da região norte (e de maioria negra) da cidade. Isso causou uma grande revolta na população local, mas isso foi devido a questão da segregação racial que ainda é muito visível no meio-oeste. No entanto, apesar da repercussão na imprensa, muitos protestos, e atos de violência no norte da cidade (em Ferguson), a vida seguiu normalmente. Eu continuei trabalhando, indo a faculdade, ao supermercado, etc. No entanto, muitos colegas do trabalho, brancos, e que viviam nos subúrbios preferiam nem sair de casa na semana do acontecido, mesmo a area “afetada” sendo MUITO longe da onde eles moravam ou trabalhavam. Eles tinham medo de serem retaliados por serem brancos. Pra mim isso era uma paranoia tremenda. Eu como brasileira achei aquela reação surreal, mega exagerada, mas cada pessoa reage de um jeito né? Aqui nos EUA, infelizmente isso acontece com frequencia e não é apenas em STL. Depois do caso de STL, já houve casos em Baltimore, Chicago, Florida, California, NY…. O choque racial é inevitável devido ao preconceito acirrado que ainda existe tanto de brancos contra negros, como de negros contras brancos. Mas como eu disse, isso faz parte da historia deles e nós como estrangeiros não nos envolvemos nessa briga.
Os bairros onde morei:
South City: Fica dentro da cidade de STL, ou seja, não é subúrbio. É uma área bastante residencial, mas tem comércio. Sempre me senti segura aqui. A única coisa chata é a questão do transporte público. Não tem linha de metrô por perto e ônibus é um pouco escasso. Mas isso ocorre de forma geral na maioria dos bairros da cidade, porque praticamente todo mundo tem carro.
Central West End: É uma bairro super descoladinho, perto das duas maiores universidades da cidade, a SLU e a WASHU. Tem muitos barzinhos, boutiques, restaurante moderninhos com culinária estrangeira, cafés, boates, etc. É uma área bem jovem e com muita história. Fica a 10 minutos de carro de Downtown, tem muito ponto de ônibus e linha de metrô. Eu amava morar lá, apesar de muita gente criticar dizendo ser “perigoso”, devido a proximidade com uma area de maioria negra da cidade. Como eu disse, nunca vi nada, nunca fui assaltada. As vezes eu caminhava a noite sozinha pelo bairro voltando da academia, as vezes ia até o parque (Forrest Park) ou até o supermercado e nunca me senti em perigo.
Imperial, Jefferson County: Subúrbio de maioria branca. Considerado MEGA seguro. Morei lá durante 3 meses e quase enlouqueci. É tudo MUITO parado, se precisa de carro até pra comprar um litro de leite, literalmente. Não existe a menor possibilidade de se chegar ou de sair através do transporte público. Os restaurantes em sua maioria são “chains” e o nível de interação com outras pessoas era extremamente superficial. Gastronomia exótica aqui é considerada comida chinesa e/ou comida mexicana e o passa tempo dos moradores é o Cardinals, time de baseball da cidade. Resultado: voltei correndo pra cidade apesar de todas as criticas recebidas.
Acho que a maioria dos brasileiros que moram em STL, que criticam a cidade e moram nos subúrbios, na verdade já perderam um pouco a noção do que é perigo mesmo ou se deslumbraram por um estilo de vida ao qual não estamos acostumados no Brasil. Os subúrbios, na minha opinião, são verdadeiras bolhas, onde se leva uma vida muitas vezes fora da realidade e muitas vezes engessadas. Digo isso porque acredito que o mundo real não é uma casinha padronizada em tons pastéis, com jardins floridos e sem muros. O mundo real é cão e quanto mais cedo aprendermos isso, melhor saberemos nos defender dele, afinal mais cedo ou mais tarde teremos que sair da nossa zona de conforto e encararmos o mundo real de frente. As minhas sobrinhas cresceram no subúrbio, estudavam no subúrbio, só se relacionavam com outras crianças de subúrbio e não tem a MENOR noção do que é vida real. Imagina quanta coisa elas estão deixando passar, quanta coisa deixam de aproveitar, de ver, de conhecer, por terem sido criadas em um ambiente mega protetor que não transparece a vida real por puro medo e preconceito?
O subúrbios da parte West (área mais rica) e South (classe média) são praticamente todos iguais, como vemos em filmes americanos mesmos. Areas residenciais, muito verde, pouco comércio, casas sem muros, quase sempre padronizadas, etc. Eu confesso pra você que a vida de subúrbio não é pra mim, mas tem muita gente que gosta devido a “tranquilidade”. Eu cresci morando em cidade grande e sinto falta de certos elementos que o subúrbio não tem como proporcionar. Eu também gosto de tranquilidade e segurança, não me entenda mal, mas também gosto de diversidade, gosto de poder sair de casa e ver movimento, caminhar pelas ruas ou parques do meu bairro, descobrir uma lojinha nova que abriu, uma galeria de arte, um prédio histórico, ouvir alguem tocando saxofone na esquina pra ganhar um troco no final do dia, um cebo de livros antigos, um café daqueles que a gente senta por horas pra ler um bom livro, tomar um chocolate quente ou jogar conversa fora com os amigos. Não gosto de depender de carro pra tudo (apesar de sempre ter tido carro,). Eu gosto de admirar o que está ao meu redor e morando na cidade eu tinha tudo isso, morando no subúrbio isso é muito mais difícil.
Existem alguns subúrbios que são bem próximos a cidade de STL, onde eu consideraria viver caso precisasse me mudar da cidade: Clayton (uma gracinha e tem tudo), University City, Brentwood são alguns deles.
Bem, acho que já escrevi muito aqui. Espero que você goste de STL e seja muito feliz lá independente da área em que viver e que acima de tudo se sinta segura. É uma cidade pequena com jeito de cidade grande. Tem muita coisa bacana pra ver e fazer, desde que você não se prenda aos esteriótipos aos quais com toda a certeza será apresentada logo que chegar. Eu e meu marido adorávamos explorar a cidade e realmente a exploramos ao extremo. Posso dizer de boca cheia que nos 5 anos em que morei lá, conheci muito bem a cidade, melhor do que muita gente que nasceu e cresceu lá, mas isso porque eu deixava de lado os pré-conceitos que me eram apresentados. Se vc fizer isso também irá aproveitar bastante e em segurança!
Quem sabe em uma das minha visitas a STL marcamos um café?
Abraço,
Lorrane
Olá, Lorrane!
Legal suas colocações sobre violência e estilo de vida (nasci e fui criado no Rio de Janeiro mas já moro no nordeste há 13 anos). Estou planejando fazer uma pós graduação fora do país e encontrei uma com preço bem legal em Saint Louis (as outras opções no pais são muito mas caras). Como vou planejar morar 2 anos e não terei fonte de renda, terei que viver com minhas economias. Irei com minha esposa e filhos (5 e 7 anos).
Com isso, te pergunto:
– qual a média de custo de vida para uma família de 4 pessoas de classe média?
– encontramos boas escolas de ensino fundamental?
Desde já, obrigado pela atenção!
Abraço!