Violência contra a mulher nos EUA
Você sabia que, segundo dados da YWCA de Los Angeles, instituição comunitária de apoio às mulheres, mais de 40% das adolescentes entre 14 e 17 anos conhecem alguém que já sofreu algum tipo de abuso cometido por namorados, e que uma em cada três mulheres sofrem violência doméstica e 25% das estudantes universitárias já foram vítimas de estupro?
Difícil acreditar que isso aconteça nos Estados Unidos, não é? Pois saiba que a cada 2 minutos uma mulher sofre algum tipo de assédio sexual. Agora pense, se isso acontece por aqui, imagine nos países mais pobres? Segundo dados da ONU, desde 1996, só no Congo, na África, mais de 200 mil casos de estupros contra mulheres e meninas foram denunciados; esse número, com certeza, é bem maior.
Uma das maiores dificuldades relatadas por diversos órgãos de defesa é que a maioria das mulheres não denuncia seus agressores, muitas vezes por medo dos parceiros ou por vergonha. Mas algumas mulheres passam por cima do medo e vergonha para dar ainda mais força às outras vítimas.
No mês passado, aqui na Califórnia, a pena dada ao jovem universitário Broke Turner, que estuprou uma mulher que estava inconsciente no momento do ato, resultou em uma onda de protestos pelo mundo. Turner recebeu apenas seis meses de prisão. O juiz responsável, Aaron Persky, disse que sua decisão foi baseada pela baixa idade do acusado – Turner tem vinte anos – e por seu histórico sem precedentes. A vítima, muito corajosa, enviou uma carta ao juiz, durante o julgamento, contando a sua trágica experiência. Você pode ler a carta em ingles completa aqui.
Em uma das partes mais fortes, ela diz que o acusado tirou seu valor, sua privacidade, seu tempo, sua intimidade, sua confiança e sua voz, mas que tudo isso foi mudado no dia em que ela escreveu a carta. Ela libertou essa angústia tornando pública a sua dor. A mulher, que não teve o nome divulgado, mas que usa o pseudônimo, Emily Doe, completa a carta dizendo que dois anjos a salvaram e evitaram o pior. Dois estudantes estrangeiros que passavam pelo local confrontaram o criminoso e a tiraram de lá. Infelizmente, muitas não têm a mesma “sorte” e acabam até perdendo suas vidas.
O seriado do Netflix, Making a Murder, conta a história de Steven Avery e seu sobrinho adolescente, Brendan Dassey, presos pela morte da fotógrafa de 25 anos Teresa Halbach, que aparentemente era idolatrada pelo acusado. Ainda nao sabemos se Avery é inocente ou se a polícia plantou as provas; o que importa na verdade é que alguém abusou e matou a fotógrafa. História como a de Terese certamente acontecem diariamente ao redor do mundo e nem sempre o criminoso é pego; muitas vezes as pessoas não o julgam culpado.
É muito comum a vítima ser acusada pela sociedade. São diversas as desculpas ridículas de pessoas machistas. Uns dizem que a mulher mereceu por usar roupas muito curtas, por não ser comportada e do lar, por andar sozinha ou com pessoas erradas, etc.
A realidade é que não existe motivo nenhum para qualquer tipo de violência contra mulheres, não importa a idade. E se você é ou foi vítima de qualquer tipo de abuso, procure imediatamente as autoridades locais. Isso pode, com certeza, salvar sua vida. Não tenha medo ou vergonha. Você pode estar certa que vai ter muita gente lhe dando apoio.
Esse ano, a lei brasileira número 11.340, conhecida popularmente como Maria da Penha, que visa coibir a violência doméstica e familiar no Brasil, completa dez anos em vigor. Nos EUA, as leis são estaduais, com exceção de algumas leis federais, como as de imigração. Na Califórnia existem diversas leis de proteção contra a agressão. Uma lei muito comum e usada é a “Domestic Violence Restraining Order”, ordem dada por um juiz para que o agressor, geralmente familiares ou parceiros, não tenha nenhum tipo de contato com a vítima. Caso este não cumpra, sérias consequências legais são tomadas. A “Civil Harassment Order” protege contra pessoas conhecidas ou não da vítima. Caso precise relocar-se para outro estado, é possível transferir a ordem para que esta seja aplicada no novo estado de moradia. A “Housing Law” (Lei de Moradia) permite a quebra de contrato de aluguel para mudança por conta de abuso, agressão e tráfico de pessoas. Esta lei serve para quem precisa mudar rapidamente, porém tem contrato de aluguel em andamento. É comum por aqui assinar contrato de um ano para aluguel de imóveis.
Foi vítima de algum tipo de abuso e não sabe o que fazer, nos EUA basta ligar para o 911, procurar uma delegacia ou algum local de apoio. Em Los Angeles, alguns centros comunitários oferecem programas especiais para mulheres e crianças vítimas de violência e estupro.
O YWCA tem um centro maravilhoso para jovens mulheres até 24 anos, que busca melhorar a qualidade de vida de pessoas vítimas de agressão sexual. Segundo o centro, seu objetivo é expandir a consciência dentro da comunidade sobre questões relacionadas à violência sexual contra as mulheres, principalmente as jovens e adolescentes, em um ambiente seguro e sem julgamentos. O YWCA oferece apoio aos sobreviventes de abusos e este apoio estende-se à família e amigos das vítimas. O centro também se esforça para fornecer informações sobre a “síndrome do estupro”, que é nada mais nada menos do que as consequências do trauma sofrido pelos sobreviventes, e encaminham as vítimas aos serviços médicos, legais e sociais adequados. Contato em Los Angeles: 213-365-2991
Já o Peace Over Violence (POV), uma das primeiras agências do tipo no país, ajuda mulheres de todas as idades com programas de intervenção, prevenção, educação e serviços de emergência e jurídicos. Caso queira entrar em contato com o POV em Los Angeles, ligue para 310.392.8381, 213.626.3393 ou 626.793.3385.
Vale lembrar que os serviços tanto do YWCA quanto do POV são gratuitos e confidenciais.
Textos relacionados:
1 Comment
Olá, tudo bem? Parabéns pelo texto. Gostaria de pedir as fontes do mesmo (pesquisa YWCA), para fins acadêmicos. email: oliviobotelho@me.com