Falar é fácil, difícil é falar alemão!.
Então você é selecionada para um estágio sensacional na Áustria! Que maravilha! Aí você vai procurar saber e por lá eles falam alemão… Só para esclarecer, antes disso eu nunca havia estudado e não sabia falar de alemão. A princípio, todos me estimulavam: Relaxa! Lá na Europa todo mundo fala inglês! O post desse mês é para dizer que não dá para relaxar muito não…
Já foi muito desafiador morar em Vancouver mesmo tendo feito vários anos de curso de inglês. Todos esses anos de aulas tornaram a experiência menos traumática do ponto de vista lingüístico – eu consegui me comunicar, fazer compras, assistir aulas. Só a aula de Yoga que era um pouco complicado entender as partes do corpo mencionadas, o que me salvava era que, como sou instrutora, sabia o nome das posturas (asanas) em sânscrito.
Costumo ser questionada por pessoas que querem morar fora e ouviram falar que o Canadá é um lugar aberto para imigrantes. Uma das primeiras perguntas para quem quer vir tem sempre que ser: você fala inglês? Se não fala, tem uma rede de amigos que fala e que pode te ajudar? Se as respostas forem não, complica demais. E nada melhor do que a minha experiência na Áustria sem falar alemão para exemplificar.
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Quando fui aprovada para o estágio em Viena é que fui descobrir que lá se fala alemão. Antes de ir, logo me inscrevi em aulas particulares, com uma ótima professora em Belo Horizonte. Foram 10 aulas no total, aprendi o básico do básico: números, conversações básicas (Guten Morgen, Guten Tag…), partes do corpo (para conseguir ir ao médico), produtos no supermercado, verbos no presente e no passado. Instalei um aplicativo bem bacana no celular chamado Memrise e fui praticando. Aí pensei: estou pronta para ir! Hahahahahaha (essa sou eu, rindo da minha cara).
Chegando no lugar, a primeira regra costuma ser: branco total; você trava, não consegue falar nada e não entende nada do que falam com você. E, para piorar, o inglês não conseguia me salvar. As pessoas em Viena até falam inglês, mas tem uma antipatia enorme de fazê-lo. A frase mais usada por mim sempre foi: “Ich spreche kein deutsch” (Eu não falo alemão), seguida da pergunta“Sprechen Sie English?” (Você fala inglês?) – e as respostas eram sempre negativas. Mas, para a minha surpresa, quando a situação chegava no limite do absurdo da falta de entendimento, a pessoa falava um inglês perfeito e eu ficava espantada (por quê raios não falou inglês antes?!).
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Por exemplo, foi meu aniversário e o pessoal do estágio me deu um vale compra da Zara. No final de semana, fui à loja gastar o tal vale presente. Selecionei algumas coisas e queria experimentar. Na minha vez de usar o provador, a vendedora da loja ficou irritada comigo e disparou a falar alemão. Eu não conseguia entender o que eu estava fazendo de errado. Eu expliquei para ela que eu não falava alemão, mas ela continuou irritada. De repente me apontou um trocador e lá fui eu experimentar. Passados 5 minutos ela volta, falando um inglês PERFEITO, dizendo que eu não podia entrar no trocador com mais de 10 peças, mas que dessa vez ela me deixava passar. Olha só, como é que eu ia saber? A placa estava em alemão, eu tentei de todas as maneiras perguntar em inglês o que tinha de errado. Só depois ela veio me explicar.
E para pegar ônibus para ir trabalhar? Temos motoristas que não sabem/não querem falar inglês também (você compra o ticket direto com o motorista). Todo mês era a mesma coisa: eu tinha que pedir ajuda para um dos passageiros na tradução da conversa. Também não consegui me inscrever em uma piscina pública (eu adoro nadar) e olha que dessa vez eu tinha levado até intérprete (uma outra estagiária foi comigo me ajudar). Chegamos lá e ninguém se dispôs a falar inglês, então fomos de alemão e mímicas mesmo, mas sem sucesso. Cada hora eles achavam um problema, primeiro eu não falava alemão, depois a câmera estava ruim, depois o sistema travou. Eu não sei bem até que ponto tudo isso é verdade ou se a má vontade de me inscrever predominou.
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E para comprar um fio dental? Outra saga. Eu não sabia falar fio dental nem em inglês (floss – para os desavisados; Zahnseide para os falantes de alemão). Aí eu ia na farmácia e no supermercado e descobri que não faz parte dos produtos deles! Rodei meio centro de Viena para descobrir a salvadora loja Bipa!
Tudo isso me mostrou que, apesar de estarmos em um mundo globalizado, a língua ainda é uma barreira enorme. Falar inglês já me ajudou demais da conta, mas falar a língua do local é imprescindível se você quiser minimamente viver bem. Eu consegui sobreviver, fui até ao médico sozinha. Mas em termos lingüísticos, foi bem difícil. A sensação é a de que o tempo todo o país te exclui por você não falar a língua e a ideia que ficou é a de que eles até toleram você lá, mas faça o favor de pelo menos falar a língua local.
Na única ocasião em que eu arrisquei entrar numa loja e comprar algo falando só um alemão meia boca (uma lembrancinha para minha afilhada no Brasil), fui recebida com uma simpatia sem tamanho. Na verdade eu pronunciei três palavras: geschenk, kinder, frau (presente, criança, mulher). Saí de lá com um vestido típico austríaco lindo (ver o post sobre os vestidos típicos).
Então, para todos/as que estão arrumando as malas para ir morar na Áustria, tratem de treinar bem o alemão!
Tschüss!