Fastelavn, o carnaval do gato no barril na Dinamarca
Quando a gente fala hoje em carnaval, todo mundo pensa imediatamente no carnaval do Rio de Janeiro e seus carros alegóricos e fantasias, sambas enredos, desfiles de escola de samba… Porém o que a maioria das pessoas não sabe é que o carnaval tem origem europeia e não nasceu no Brasil.
Carnaval vem do latim ‘Carne vale’ e segundo a tradição católica recebeu esse nome porque logo após comer e beber bem durante os festejos é a época de jejuar, dizendo “adeus à carne” no período de 40 dias antes da Páscoa. Mas o carnaval existe muito antes de a igreja católica incorporá-lo e tem origem em rituais pagãos da Idade Média.
E tem carnaval na Dinamarca?
Na Europa medieval eram comuns os festivais com o intuito de mandar a escuridão, o inverno e os maus espíritos embora e pedir proteção aos deuses, além de celebrar a volta da claridade, das plantas e da vida, tendo também uma simbologia relacionada com a fertilidade. O carnaval dinamarquês vem dessa tradição pagã. Nos países católicos o carnaval é celebrado num domingo, 7 semanas antes da páscoa, por isso cai sempre entre os dias 1 de fevereiro e 7 de março, todos os anos. Por causa do protestantismo – que ainda é a religião oficial da Dinamarca – o carnaval que conhecemos foi proibido no país por muito tempo devido à sua ligação direta com o catolicismo. Por volta de 1900 começaram a acontecer festas para celebrar o verão, numa data diferente da do calendário católico. Aqui também existe carnaval com festa de rua, mas é celebrado em maio, como uma festa de saudação ao verão, não tendo ligação com a festa católica. Apesar disso, na época do carnaval católico há uma festa para as crianças, onde elas se fantasiam e batem no gato no barril. Essa festa é o Fastelavn, que é a palavra dinamarquesa para designar a terça-feira gorda, último dia das comemorações do carnaval e onde o jejum da Quaresma católica começa. Mas apesar do nome, o Fastelavn é celebrado num domingo.
‘Boller op, boller ned, boller i min mave,
hvis jeg ingen boller får, så laver jeg ballade’
A festa é mais ou menos como o Halloween dos Estados Unidos. As crianças se fantasiam, pegam um cofrinho para moedas e vão de casa em casa pedindo e cantando os versos acima, que significam “bolinhos pra cima, bolinhos pra baixo, bolinhos na minha barriga; se eu ficar sem bolinhos eu vou fazer traquinagem”. Apesar de elas cantarem sobre ‘bolinhos’, elas podem receber, além dos doces, dinheiro. A simbologia dos bolinhos vem da época em que a maioria das pessoas vivia de pães e comer um bolinho era um luxo, portanto o bolinho representa algo tão valioso quanto dinheiro.
Nessa época do ano é também comum o tal ‘bolinho’ ser vendido em confeitarias. Chamado fastelavnsboller, é bem parecido com o sonho que conhecemos no Brasil e é um doce feito de massa folhada e recheado com creme ou chantilly, muitas vezes decorado com açúcar de confeiteiro, chocolate, glacê ou carinhas engraçadas feitas de confeito.
O gato no barril
Essa é uma tradição europeia que vem dos rituais pagãos para espantar os maus espíritos. Acreditava-se que gatos pretos, normalmente tidos como os companheiros das bruxas e maus espíritos, estavam carregados com o mal. Para destruir a escuridão e o mal de uma vez era preciso aprisionar um gato num barril no qual várias pessoas deveriam bater com bastões até destruí-lo, matando o gato encurralado lá dentro e destruindo assim o mal que, sem saber quem o matou, não teria força para retornar e se vingar. Nos tempos medievais, na França e na Alemanha o gato era atirado vivo numa fogueira. Esse ritual surgiu numa época de preparação para o plantio e era tido como vital para assegurar boas colheitas. É uma tradição parecida com a nossa malhação do Judas. A crueldade com os gatos pretos felizmente virou crime e foi banida, mas a tradição de bater no barril continua, agora transformada em diversão. O barril é como uma pichorra que as crianças também podem ajudar a fazer e decorar, e pode ser de madeira ou papelão; no lugar do gato, agora enche-se o barril de doces e quando ele é destruído pelas crianças, todos se deliciam com as guloseimas. A criança que der a última tacada que destruir o barril é coroada rei ou rainha dos gatos. Todas as crianças se divertem muito com essa tradição.
Algumas creches e escolas fazem competições entre as crianças para escolher a melhor fantasia de Fastelavn. Outra tradição que era comum no passado e que agora foi praticamente abandonada é o fastelavnsris, que é um galho onde folhas estão para brotar. Esse galhinho representa a renovação da vida. No passado era uma tradição bater levemente nos traseiros das mulheres com esses galhos, pois se acreditava que eles aumentassem a fertilidade em quem ‘apanhasse’. Interessante, não?
Leia sobre motivos para não morar na Dinamarca
Em alguns lugares são organizadas comemorações de Fastelavn também para adultos, ou seja, a diversão é para todos!
Nesse vídeo, feito pelo escritório de turismo do governo dinamarquês, você pode ver como é a celebração com as crianças.
https://www.youtube.com/watch?v=vdrz6_EYAx8
Pra você que tem filhos e mora na Dinamarca, prepare a fantasia dos pequenos e aproveite a festa!
Em breve escreverei sobre os outros carnavais da Dinamarca: o carnaval de Aalborg e o de Copenhague, que são mais parecidos com o carnaval que conhecemos. Aguardem!
E pra você que está em outros lugares do mundo, continue nos acompanhando e descobrindo mais sobre a Dinamarca.
Tem algo que você quer saber sobre as tradições e que eu esqueci de dizer? Pode perguntar nos comentários.
Até o mês que vem!
8 Comments
Oi Cris,
Acho muito interessante a transformação dos costumes na História…o gato no barril lembro-me de ter lido em um livro , que na França, era no saco…colocava-se o bichano no saco e espancava-o com paus…ale’m de saírem girando o saco pela rua….Não me lembro do nome do livro… bom pelo menos o coitado do gato, atualmente, virou doce. Bjs
Eu li que na França eles atiravam esse gato na fogueira, ainda por cima! Tadinho do gato! Ainda bem que isso virou crime nos dias de hoje e que por aqui, hoje em dia, só doces no barril… Bjo e obrigada por comentar 🙂
Ai que depressao essa historia do gato… 🙁
Mas quero um bolinho desses hmmmm
O bolinho é bem gostoso e é bem parecido com o semla sueco, só que na versão dinamarquesa não vai massa de amêndoas no meio! Quando vier aqui eu faço uns pra vc 🙂
Acho muito interessante essa tradição do carnaval aqui na Dinamarca,como essa historia do gato. Mas posso afirmar que esse bolinho e uma deliciaaa ,meu noivo trouxe p comermos em casa,pois ele sempre segue as tradições do seu pais.Uma delicia hummmmmm.
Eu também adoro fastelavnsboller 🙂
Adorei conhecer as origens dessas festividades, pagãs. Já o bolinho….estou verde para experimentar!
Fastelavnsboller, agora, só no ano que vem! Obrigada por ler e comentar, beijos 🙂