Eu, como brasileira, viajante e amante do mundo, católica de nascença, vim parar na Indonésia – mais especificamente em Jacarta. Interessada por diferentes culturas, vou contar a vocês o pouco que aprendi e vivi durante meu primeiro feriado muçulmano em terras indonésias.
Um quinto da população do mundo é devota da religião muçulmana, e a grande maioria deles se encontra na Indonésia, este que é o quarto país mais populoso do mundo (Brasil é o quinto e tem muito mais área).
Ainda me adaptando nesta cidade grande e cheia de gente, motocicletas e poluição, descobri na 6ª feira que 2ª, dia 12 de setembro, era feriado. Sem entender ou saber o que seria celebrado neste dia, combinei com meu noivo e mais três amigos nossos de irmos no domingo – véspera do feriado – conhecer a maior Mesquita da Indonésia (Mesquita Istiqlal) e a Catedral Católica, que estão propositalmente localizadas bem próximas uma da outra. Dizem que estas duas construções são a evidência de tolerância e harmonia, algo a ser alcançado na vida.
Resolvemos então entrar para conhecer a Mesquita por dentro, era gratuito, todos nós (homens e mulheres) tivemos que vestir uma túnica e fomos acompanhados de um senhor que nos levou a um “tour” pela Mesquita, em indonésio, mas dois de nossos amigos eram daqui, e puderam nos traduzir para o inglês as explicações. Foi então que avistamos duas vacas no jardim da mesquita e o senhor falou: “Esta é a vaca do presidente e a outra é a vaca do vice-presidente.” Pensei: Hum, interessante, cada um deles tem uma vaca. E o que farão com elas? Porque estas estão aqui? Depois de um tempo ele nos disse que ambas seriam sacrificadas no dia seguinte e a carne oferecida aos mais necessitados.
Mais tarde, resolvi pesquisar sobre este feriado tão importante.
Para os muçulmanos, Eid al-Adha, que em português significa literalmente “Festa do Sacrifício”, é o segundo maior feriado islâmico, celebrado no mundo todo. Ele marca o final do Hajj, um momento em que os muçulmanos de todo o mundo, de diferentes raças, cores e línguas se reúnem em espírito de fraternidade universal para adorar Alá. Os homens usam duas peças de tecido (não costuradas), tornando-os um povo sem qualquer classe ou distinção. O rico, o pobre, o negro e o branco caminham lado a lado, iguais aos olhos de Deus para além de suas obras.
As celebrações do Hajj e do Eid al-Adha fazem parte dos maiores encontros religiosos, que requerem dos muçulmanos embarcar em uma grande peregrinação à Meca, na Arábia Saudita, em lembrança àqueles que estão necessitados. É um dia de adoração a Deus e orações extras, além de outras oferendas.
Um feriado em comemoração ao dia em que o profeta Abraão foi pedido por Deus em sonho a sacrificar seu filho, como um ato de obediência. Quando estava prestes a fazê-lo, Alá lhe deu uma ovelha para matar no lugar de seu filho e revelou a Abraão que seu “sacrifício” já havia sido cumprido, mostrando que o seu amor por Alá estava acima de tudo e de todos. Versões da história podem ser encontradas no Antigo Testamento da Bíblia.
O Eid al-Adha normalmente começa com a reza no período da manhã e celebrações, visitando familiares e amigos. O feriado, também envolve o sacrifício de um animal – vaca, ovelha ou cabra (búfalo ou camelo) – ou um qurbani (de acordo com o Wikipedia, a palavra está relacionada ao hebraico “oferta” e ao sírio “sacrifício”, etimologizada através do árabe como “uma forma ou meio de se aproximar de Deus”. O animal então é sacrificado e, sua carne é dividida e distribuída aos mais necessitados.
Os muçulmanos também fazem doações para instituições de caridade, porém substituir a doação da carne por dinheiro não tem precedência no ritual muçulmano e pode ser contra as estipulações relativas à festa do sacrifício. Por outro lado, considerando o feriado como uma celebração de estar mais perto de Deus, “sacrificar” dinheiro na situação do mundo de hoje talvez possa ser considerado algo grandioso, mas doações podem ser feitas o ano todo, não? Enfim, existem interpretações diferentes em relação à doação de dinheiro nesta época do ano, e também às lembranças que são dadas/oferecidas durante o feriado.
No mercado aqui perto de casa, havia “flyers” promovendo a venda de vacas para o feriado, indicando o peso e o valor delas.
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