Chegou o mês de dezembro! E com ele, veio a oportunidade perfeita de falar um pouco sobre como os georgianos celebram o fim do ano no país. Com uma cultura tão rica e diferente da nossa, era de se esperar que a Geórgia guardasse algumas tradições bem particulares nas suas comemorações. Para nós brasileiros, acostumados às festas de fim de ano ocidentais e, na maioria das vezes, de tradição católica, algumas peculiaridades locais podem causar curiosidade e até um certo estranhamento.
As diferenças já começam nas datas. A Geórgia é um país cristão ortodoxo, o que faz com que as festas religiosas sigam o calendário Juliano, que tem uma diferença de 13 dias em relação ao “nosso” calendário, o Gregoriano. Assim, o Natal (Kristeshoba, em georgiano) é celebrado no dia 7 de janeiro e não em 25 de dezembro como estamos acostumados. O que significa que a ordem se inverte e o Ano Novo aqui vem antes do Natal.
As celebrações na Geórgia começam na noite do dia 31 de dezembro e como festa aqui é sempre sinônimo de comilança e barulho, as famílias e amigos se reúnem em torno de uma mesa farta, com todas as deliciosas comidas típicas (tem post sobre elas, vai lá!) e muito vinho. Nessa época, alguns pratos especiais também fazem parte do banquete. Nas mesas de Ano Novo e Natal não podem faltar o Satsivi (um rico e espesso molho de nozes, servido frio com pedaços de frango ou peru e acompanhado do Ghomi, (“polenta georgiana” à base de milho branco) e o Gozinaki, docinho tradicional feito de nozes caramelizadas em mel – muito parecido com o nosso pé-de-moleque – cortado em formato de losango.
Ao contrário do costume ocidental, é neste dia que os georgianos trocam presentes. O equivalente local do Papai Noel, que tradicionalmente presenteia as crianças, se chama Tovlis Papa (Vovô da Neve) e se veste todo de branco, com um chapéu típico no lugar do gorro. (vide foto em destaque)
Mas se há uma semelhança aqui com o Ano Novo brasileiro, são as queimas de fogos. Os georgianos ADORAM fogos de artifício (todos os dias, por qualquer que seja o motivo, vê-se fogos espocando pela cidade) e na virada do ano eles estão por toda a parte – das grandes festas públicas às casas das pessoas – e duram muito tempo. A virada é o ponto alto da festa, mas as comemorações ainda continuam nos dois dias seguintes. No dia 1, Dia de Ano Novo e no dia 2, que também é feriado e é chamado de Dia da Sorte, ou Bedoba em georgiano. Mais comida, mais vinho, mais música (talvez mais alguns fogos) e a vida volta ao normal por alguns dias até o Natal.
Dia 7 de janeiro é festa novamente. Já ouvi por aqui que o Natal é um feriado muito especial na Geórgia, mas confesso que nos dois anos em que estive aqui nesta época não percebi grandes empolgações por parte da população local… Talvez porque esta seja realmente uma festa religiosa e familiar – e o georgiano leva a religião muito a sério – em que as comemorações são mais introspectivas mesmo.
A celebração começa na noite da véspera, quando muitos vão às igrejas perto da meia-noite, para, segundo a tradição, “encontrar o Natal”. Um pouco como a Missa do Galo dos católicos que para mim, ao menos, sempre foi algo distante, que só via mesmo pela televisão. Terminado o serviço religioso é hora de voltar para casa, acender as velas e passar ao mais importante: a comida. Mais uma noite de mesa cheia, especialmente porque para muitos, é fim de um período de restrições alimentares que dura 40 dias (como a quaresma dos católicos). No dia de Natal acontece uma procissão religiosa chamada Alilo, em que os participantes, além de cruzarem as ruas das cidades rezando e carregando símbolos religiosos, levam presentes para serem distribuídos aos mais necessitados.
A árvore é outra diferença curiosa do Natal daqui. Claro que hoje em dia, especialmente no comércio, é comum ver árvores de Natal como as nossas por toda a parte, além das decorações com luzes pela cidade, mas a Geórgia tem sua própria árvore tradicional, chamada Chichilaki. Esta árvore peculiar pode ter tamanhos variados e é feita basicamente de longas e finas lascas curvas de madeira, que mais parecem cachos de cabelo, e geralmente decorada com flores e pequenas frutas. Diferentemente dos ocidentais, que desmontam suas árvores (naturais ou não) nos primeiros dias do novo ano, os georgianos queimam a Chichilaki na véspera do dia da Epifania, comemorado em 19 de janeiro.
Seguindo o calendário Juliano, na semana seguinte ao Natal ainda há o “Velho Ano Novo”, no dia 14 de janeiro. É o dia que marca oficialmente o fim das festas, mas hoje em dia a data já não tem tanta importância para a população local. Ainda se ouvem alguns fogos de artifício, mas não é um feriado e já não há grandes comemorações.
A maior parte dos estrangeiros por aqui comemora mesmo é o Natal ocidental, reunindo os amigos em casa (georgianos incluídos) para celebrar nossas próprias tradições. Ou então aproveita-se os feriados para sair do país e visitar família ou amigos. Para mim mesma, ainda não será desta vez que experimentarei as tradições locais. Mas sejam brasileiras ou georgianas, que sejam Felizes Festas para todas nós!