A reação dos meus filhos (Nina e Yan que na época tinham 7 e 2 anos respectivamente) quando souberam que iríamos mudar para a França, foi de medo, empolgação, e inúmeras questões:
Onde fica? Que língua falam? Lá tem crianças? Como vai ser minha escola?
Tentei colocar palavras onde existiam interrogações e eles começaram a imaginar como seria a vida nesse novo país.
A adaptação deles à França não foi fácil, nem simples, mas melhor do que eu esperava, foi um processo lento, em etapas que se sucederam assim:
Se projetar ao novo essa foi a primeira etapa: quando ainda morávamos no Brasil nós fizemos pesquisas na internet sobre a França; a cultura, o clima e também mostrei algumas fotos antigas de quando morei lá, foi um momento de diálogo intensivo, expliquei que no começo poderia ser difícil, tentei ser o mais realista possível, falei que iríamos ficar muito tempo sem ver os tios, os avós, (o pai eles já sabiam, pois ele trabalha no continente africano – em diversos países- há muitos anos), e como despedidas fazem parte de toda mudança, esse foi o momento de dizer adeus aos brinquedos que não poderiam levar (coloquei em uma das malas- não muito grande- os livro e brinquedos preferidos), de darmos uma última volta no bairro, uma última olhada no antigo lar, um forte abraço nos familiares que infelizmente não poderiam nos acompanhar.
Após uma longa e cansativa viagem começou a segunda etapa, já em solo francês.
Face a face com o novo, o primeiro choque foi térmico, pois saímos de Salvador, Bahia em pleno verão e chegamos em Paris no inverno e em janeiro que é um dos meses mais frios do ano, mas eles adoraram o frio, graças aos casacos que “herdaram ”dos filhos de uma amiga que mora aqui.
O apartamento que fomos morar eu aluguei pela internet, numa agência especializada em alugar para estrangeiros, ele já era mobiliado e por sorte era igual às fotos, a primeira coisa que fizemos antes mesmo de esvaziarmos as malas, foi irmos ao mercado antes que a fome viesse e enquanto minha filha queria comprar todas as novidades nas prateleiras, o pequeno não queria nada, e fez greve de fome por uns dias, e só aceitava biscoitos para o meu desespero.
No dia seguinte, já com as malas vazias e os armários cheios, fomos procurar a prefeitura (mairie) para a inscrição na escola (por enquanto só para Nina, o Yan só começou em setembro) eu já tinha pesquisado quais eram os documentos necessários, que eram certidão de nascimento, caderneta de vacinação e comprovante de residência (para as crianças que almoçam na escola tem que levar também comprovante de renda para eles fazerem os cálculos de quanto a família irá pagar pela refeição, pois se paga de acordo com a faixa salarial). A escola é pública e também oferece a maior parte do material escolar, eu já tinha levado a mochila dela e tivemos que comprar poucas coisas.
Eles me deram duas opções de escola, ou ela estudava numa escola ao lado de casa ou estudaria em outra um pouco mais longe, 20 minutos a pé, mas que tinha uma classe específica para estrangeiros, sem hesitar optamos pela segunda, foi uma escolha sábia, pois a CLIN, Classe de iniciação para não francófones, foi fundamental para a adaptação da Nina.
A CLIN é uma classe que acolhe crianças estrangeiras não francófones que acabaram de chegar. Ela existe em algumas escolas do ensino fundamental e para os maiores existem outros dispositivos de inserção. Nessa classe há crianças não somente de diversas origens, mas também de idades diferentes, aos poucos além de aprenderem a língua francesa, fazem testes para saber o nível de conhecimento, para depois serem inseridas gradualmente numa classe adequada tanto ao nível escolar, quanto à idade da criança.
Nos primeiros dias, Nina comentava que o que escutava parecia ser chinês e que nunca aprenderia essa língua, então compramos um potinho com uma plantinha brotando e comentei que à medida que a planta fosse crescendo ela iria aprendendo novas palavras. Ao final de dois meses viraram frases, e quando ela já podia se comunicar muito bem a planta já estava enorme.
No caminho para a escola, tinha um parquinho público que foi crucial para a adaptação dos dois, pela manhã eu levava o Yan, e à tarde depois de pegarmos Nina na escola, voltávamos lá e estava sempre cheio de crianças, que após alguns dias viraram amigos, e nada melhor do que amigos para nos sentirmos bem num lugar.
Depois de estabelecida a nova rotina, começou a terceira etapa da adaptação, na qual o aprendizado da língua abriu a porta para uma nova cultura, novos amigos e muitas descobertas.
Abraçar o novo nos ensina muitas coisas, não somente sobre outro lugar, mas também sobre nós mesmos, sobre nossa capacidade de sempre poder aprender um pouco mais, nossa força em enfrentar as saudades, as ausências, em encontrar semelhanças onde havia diferenças.
Após dois meses Nina começou pouco a pouco a frequentar a classe normal e fez novas amizades, nos inscrevemos na biblioteca do bairro, o que salvou nosso inverno, visitamos museus, a primavera chegou e com ela as flores, os longos passeios nos parques, o sol, sorrisos que aquecem, os piqueniques com os amigos e a certeza de que nada será como antes.
21 Comments
“O apartamento que fomos morar eu aluguei
pela internet, numa agência especializada
em alugar para estrangeiros”
poderia dar o nome do site?
Sim claro, o site é lodgis.com e eles falam português se precisar , mas também já aluguei com a parisattitude.com e gostei !
Muito Obrigada. 🙂
Disponha ! Abraços (:
Oi Anna, você pode fazer um post explicando a questão burocrática de ir morar na França? Quais documentações você precisa/precisou, e etc? Grata! :*
Oi Marcella, sim poderei fazer um post sobre o assunto posteriormente, mas posso te adiantar algumas informações, se você for morar por um período de até 3 meses não precisará de visto, se pretende ficar mais tempo tem que fazer o visto, o tipo de visto dependerá do motivo da sua estadia, se for para estudar é preciso fazer o visto através do campus france, http://www.bresil.campusfrance.org, se não for o caso, o site da embaixada da França no Brasil informa como deverá proceder, http://www.ambafrance-br.org , abraços!
Ja moro na França, meu sonho e trabalhar com crianças , quando estava no Brasil cursava pedagogia mais acabei desanimando pelo baixo salario que pagam la, vc pode me dizer onde faz o curso? Os pre-requisitos? Quanto custa? Quanto tempo dura o curso? Media salarial? Enfim td q vc puder me ajudar, desde ja te agradeço.
Olá Anna, tudo bem? Já moro na França, com visto de trabalho pois tenho um cdi. Vou me casar com um francês e por enquanto os planos são ficar por aqui. Mas queria muito trazer minha mãe!!! Não sei com qual visto ela poderia ficar aqui. Já pensei em visto de visiteur, mas não direito ao trabalho. Então é difícil. Pensei que talvez ela possa fazer o cap Petite Enfance, Vc sabe se esse curso da direito ao visto de estudante? Obrigada pela ajuda!!
Anna,
Quando você decidiu partir para a França com seus filhos, você já tinha um contrato de trabalho? Estou fechando um contrato de trabalho, estou estudando francês, e a mudança ocorrerá por volta de Fevereiro/Março. Novembro passarei 10 dias para procurar um lugar bacana, será a primeira na França. Estou insegura, você poderia me ajudar? Você tem face, blog, insta rsrsrs Email, algumas coisa. Identifiquei-me muito com sua história, sozinha com os filhos num pais distante, longe da família. Please 🙂
Olá Talita, desculpe a demora em responder, mudamos de apartamento recentemente , foi uma correria !
Primeiramente, todo visto deve ser feito ainda no Brasil !
As agências imobiliárias que eu conheço e gostei, a lodgis e parisattitude, alugam apartamentos mobiliados, o que facilita bastante pra quem acaba de chegar, se prefere alugar diretamente com o proprietário tem o site pap.fr que tem bastante ofertas ! Meu email é o annapbmendonca@gmail.com
Abraços ????
Anna bom dia,
poderia me ajudar me dizendo um bom bairro para se morar?Como não conheço a França não sei qual bairro escolher, tenho uma criança de 11 anos e um adolescente de 16 anos.
Obrigada.
Oi Anna
Estou pensando em fazer um curso em Paris. Minha filha estará com 6 anos, terminando o pré 2, mas tenho a intenção de voltar. A ida seria em julho e a volta em junho do ano seguinte.
Você saberia como seria isso? Ela perderia esse ano escolar aqui?
Oi Anna estou me mudando c meus dois filhos e estou preocupada c a adaptação deles vc pode me dar uma orientação ?
Oi Carolina, eu também estou assim! Minha filha tem 11 anos. Qual a idade dos seus? A gente pode se ajudar. Estou fazendo algumas pesquisas.
Olá Beth,
A Anna Mendonça parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na França.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Além disso, fique atenta que no mês de dezembro será lançado o site Brasileirinhos Pelo Mundo que cobrirá assuntos como criação de filhos no exterior, bilinguismo, trilinguismo, português como língua de herança e qualquer assunto relacionado à maternidade fora do Brasil.
Obrigada,
Edição BPM
Oi Anna, chegamos em Paris dia 29/01/2018. Sou pesquisadora (química) e irei morar na França até o início de novembro/2018. Tenho uma filha de 5 anos q estudava em uma escola Waldorf no Brasil (SP). Procurei uma escola com a mesma pedagogia aqui em Paris e a matriculei. Mas a adaptação está terrível, tudo bem que é o quarto dia de aula, mas ela chorou muito….gritou e se descontrolou totalmente para ficar na escola hoje…..Nunca tinha visto ela assim…. Está bem difícil. Um beijo.
Olá Juliana,
A Anna Mendonça parou de colaborar conosco, mas temos também outro blog com conteúdo bastante interessante sobre o assunto que você procura: https://www.brasileirinhospelomundo.com/
Obrigada,
Edição BPM
Oi Juliana. Vi seu comentário aqui. Temos duas filhas e estamos pensando em morar um ano na França. Seu comentário foi em fevereiro, como está a adaptação agora? Já que estamos no final de agosto. Obrigado!
Olá Caio,
A Anna Mendonça parou de colaborar conosco, mas temos também outra plataforma colaborativa com conteúdos sobre o assunto que você procura: https://www.brasileirinhospelomundo.com/
Obrigada,
Edição BPM
Ola Anna!
Por favor poderia me indicar sites que alugam APs mobiliados pelos arredores de Saclay.
Obrigada
Olá Tais,
A Anna Mendonça parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na França que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM