Quando cheguei na Estônia, eu já tinha muitas manias mexicanas que acabei adquirindo nos seis anos que morei lá. Um ano e meio depois, alguns dos meus hábitos mudaram ou foram substituídos por outros, já que a vida e a cultura aqui são tão diferentes do que eu estava acostumada.
Essa mudança de hábitos é normal e faz parte da nossa adaptação em um país diferente. Já diria o ditado “em Roma, faça como os romanos…” e eu acredito que aceitar e se integrar na nova cultura é fundamental para se sentir incluída na sociedade (especialmente se você está “sozinha”, sem sua família brasileira).
Então, fiz uma pequena reflexão sobre alguns hábitos que adquiri nesse tempo morando por aqui, aí vai:
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Manter uma expressão “neutra” ou séria
Eu sempre me considerei uma pessoa séria – ou como já diriam meus pais, “emburrada”, risos. Mas, brincadeiras à parte, um sorriso é importante tanto no Brasil quanto no México, principalmente quando se vai a lojas, supermercado, ou qualquer lugar onde temos que conversar com alguém. Aqui, não espere isso e sorrisos são facilmente confundidos com tudo menos simpatia. Claro que não é em todos os lugares, mas você acaba se acostumando por ver como todo mundo mantém a mesma expressão facial aqui.
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Tirar os sapatos para entrar em casa
Desde o princípio eu entendia que tirar os sapatos antes de entrar em casa no inverno é fundamental, pois ficam sujos de lama, molhados e com cascalho que pode riscar o assoalho. Mas esse hábito se mantém durante todo o ano, e é impensável entrar na casa de alguém com sapatos vindos da rua. Agora aqui em casa é a mesma coisa, os sapatos vão direto para a sapateira.
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Andar a pé e de bicicleta
É claro que pelo país ser bem plano, esse hábito fica fácil de adquirir. Mas antes de me mudar, dificilmente eu andava a pé e fazia anos que não andava de bicicleta. Agora faço praticamente tudo a pé se estou pelo centro da cidade ou se tenho que ir ao supermercado perto de casa e, se o clima permite, também uso a bicicleta. Esse é um novo hábito que eu adoro!
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Pagar só com cartão
Bilhetes e moedas faz muito tempo que não tenho na carteira! Aqui praticamente todo lugar aceita cartão, e também acho mais fácil na hora de acompanhar os gastos, posso ver exatamente no que estou gastando sem ter que acumular notas fiscais.
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Nada de contato físico
Em setembro, tivemos uma festa da Embaixada do Brasil em Tallinn e meu namorado me deu uma baita surpresa: cumprimentou as brasileiras com beijinho no rosto. Eu estou tão desacostumada (e as outras brasileiras também estavam, aparentemente) com esse tipo de contato físico com outras pessoas que fiquei perplexa! “Estou treinando para quando formos ao Brasil!”, ele disse. Confesso que fiquei um pouquinho emocionada – afinal, ele também está tentando se encaixar na minha cultura! – e me peguei pensando quanta falta faz um simples abraço amigável. A gente acaba se acostumando, mas às vezes escapa um abraço na hora de cumprimentar os amigos mais próximos…
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Tudo vai pela privada
Sim, além do papel higiênico, tem outras coisas que você pode jogar pela privada. Seu feijão estragou? Pode dar descarga. Leite coalhou? Pode mandar pelo vaso. Se todo mundo aqui faz isso eu não sei, mas a família toda do meu namorado faz e, cansada de discutir que privada é só para o número um e número dois, acabei desisitindo e agora descarto algumas coisas lá também (só líquidos). A explicação é que como a tubulação é maior, não há perigo de entupir.
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As definições de “faxina” foram atualizadas
Acho que o primeiro choque aqui quanto às casas são os banheiros: a máquina de lavar roupa fica lá, por vezes o vaso é um quartinho separado do resto do banheiro e, se você tiver banheira, o único ralo do banheiro todo será dentro dela, te impedindo de lavar o chão com água. Aqui também não tem lavanderia, nem tanque, o que dificulta muito na hora da faxina. Não teve jeito, tive que me acostumar a “lavar” o banheiro só passando pano e usar a pia da cozinha ou a banheira para lavar outras coisas, como baldes, baldes de lixo, sapatos… e uma bela esfregada com sabão e cloro na banheira no fim da faxina!
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Entrar na sauna completamente nua e mergulhos em água gelada
A primeira vez que fui na sauna aqui, sozinha, foi em um parque aquático. Meu namorado me aconselhou a ficar na sauna por alguns minutos e logo depois pular numa piscininha que estava bem na frente da porta da sauna. Eu confiei cegamente e pulei, sem saber que estava entrando am águas de apenas 10 ºC! Depois do choque térmico, veio o choque cultural: chuveiros abertos e todas as mulheres nuas, só eu de biquíni. O que eu tinha que fazer? Ficar nua também? Continuar com o biquíni? Por que tá todo mundo me olhando estranho?! Hoje em dia, já estou tão acostumada a isso que sou a primeira a topar pular na neve depois da sauna e já nem ligo para a nudez dentro dos banhos públicos.
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Menos vaidade
É fato que no Brasil a pressão social para estarmos sempre bonitas e bem arrumadas é gigante. Aqui não é assim. Estilo e maquiagem não são prioridade, e as roupas estão muito mais relacionadas ao conforto do que qualquer outro motivo. É claro que algumas situações pedem um vestir diferente, mas no dia a dia esse jeito mais relaxado de ser é comum. E a verdade é que eu adoro isso!
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Mais tempo com a natureza
A Estônia é um país muito verde e todas as cidades estão cercadas por florestas, praias e trilhas em áreas verdes. Muitas famílias possuem uma casa no campo e, geralmente, as férias de verão são passadas lá. Esse tempo com a natureza é parte muito importante do cotidiano da vida estoniana, e é uma delícia caminhar pelos bosques ou na praia. E agora essa atividade também faz parte da minha vida!
E você, tem algum hábito que adquiriu morando em outro país? Conta pra gente nos comentários!
6 Comments
Como sempre adorei seu post! 😉
Obrigada, Mariah! Fico feliz e já quero conhece-la!
Nossa! Me identifiquei muito! Especialmente em relação à privada e à faxina!
Confesso que ainda estou tentando me acostumar a jogar comida na privada. No começo, fiquei chocada e com nojo, mas, aos poucos, a gente vai adquirindo esse hábito comum entre os habitantes do lugar. Especialmente quando a pia da cozinha entope! Hahahahahaha!
Não ter um tanque faz falta. Eu, particularmente, detesto banheira e ter que lavar balde, sapato etc nela acaba comigo! Hahahahaha! Acabo utilizando 3 produtos de limpeza nela, “só para garantir”.
Entretanto, você também tocou em pontos favoráveis como o fato de maquiagem e roupa não serem prioridade. Eu, particularmente, nunca fui uma pessoa muito vaidosa e recebia algumas críticas enquanto estava no Brasil, principalmente da minha mãe. Esse estilo europeu é libertador!
Adorei o texto e me vi em várias situações!
Um grande beijo!
Oi Caroline! Que bom que não estou sozinha nessa, hahaha! Pois é, eu ainda viro os olhos quando vejo meu namorado depositando tudo na privada! hahaha e a banheira também ODEIO ter que lavar tudo lá, e fico espirrando cloro depois.
Enquanto a vaidade, eu também sempre fiz o estilo mais “relaxada” e aqui a verdade é que me sinto até melhor comigo mesma.
Um beijo pra você também!
Ola! Ha 8 anos moro fora do Brasil. Sou gaucha, oceanografa e ja morei na Inglaterra, Portugal, Espanha e Italia. Ao que tudo indica, vou para a Estonia para meu postdoc. Nao sei porque, mas estou bastante ansiosa com esta mudanca, nunca me aconteceu isso antes. Nunca tive problemas em conhecer e fazer amizades com pessoais locais. Inclusive tive relacionantes serios e um muitissimo duradouro. Como as pessoas na Estonia nos recebem? Como sao os homens conosco, estrangeiras? Por exemplo, minha pior experiencia foi em Portugal, nao gostaria de repeti-la!
Olá Bruna! Obrigada por escrever.
Realmente, a cultura da Estônia é muito diferente dos países que você mencionou, mas não tenha medo!
Apesar das pessoas serem bastante fechadas, são muito educados e gentis com os estrangeiros. Quanto aos homens, não posso dizer exatamente como são pois conheci meu namorado no México, e só me relacionei com ele, mas até onde sei são muito tímidos. Pode ser que os homens de origem russa daqui sejam mais diretos. Se você quiser mais informação sobre a Estônia procure no Facebook nosso grupo “Brasileiros que moram na Estônia”.