Aprendendo húngaro.
Aprender a língua húngara do zero foi uma grande façanha, muito esforço para reconhecer onde as palavras começavam e terminavam, depois para reconhecer a raiz da palavra – em húngaro são usados prefixos e sufixos que mudam o significado da palavra, dando sentido à explicações complexas vindas de uma simples e curta palavrinha.
Dizem que essa língua é perfeita para filósofos e escritores, infelizmente é preciso nascer húngaro e estudar muito para saber usá-la dessa maneira ou, no mínimo, ser gênio para aprender nesse nível, o que não é o meu caso.
Depois de mais ou menos um ano de muita luta e alguns xingos dirigidos ao responsável pelas “maravilhas” da língua – seja quem for, milênios atrás, que inventou essa maneira “simples” de se comunicar – consegui comunicar-me e entender os que se comunicavam comigo.
Porém, a guerra não termina aí. Não sei se é só com essa língua, ou se é só comigo, – depois quero saber de vocês como fazem – mas falar húngaro não é como andar de bicicleta…
Estou inclinada a acreditar que não é minha falta de talento, pois meu marido ouviu comentários sobre ter desaprendido a língua depois de 1 ano de intercâmbio no Brasil e ele é ótimo em aprender novas línguas, pois aprendeu o português perfeitamente em 3 meses. Creio que isso prove minha teoria de que não sou tão tapada. É no mínimo reconfortante lembrar-me disso.
A fonética é muito diferente da língua portuguesa, para começar, e a maneira como formam as frases também, então o que acontece muito é que as pessoas que ficam um tempo fora, passam a falar com sotaque e de forma desorganizada.
Logo que vim para cá, foquei-me muito no húngaro, tinha pouco contato com a língua portuguesa, pois quase não falava com minha família ou amigos – lembrando que há 12 anos, internet era luxo e era discada, o que sobrecarregava bem a conta telefônica – e por isso, cheguei ao nível de falar quase que sem sotaque, com apenas alguns errinhos que denunciavam que eu sou estrangeira. Recebi muitos elogios na época.
Depois que meus filhos nasceram e a internet foi instalada na minha vida diariamente, o português voltou com força. Primeiro porque eu passei a esforçar-me para falar com os meninos só em português, para que eles aprendessem; segundo porque eu passei a falar diariamente com meus pais.
O que aconteceu? Meu húngaro decaiu muito!
Depois que comecei a escrever então, nem se fala… A escrita fez com que eu pensasse constantemente em português – eu já pensava em húngaro, até então. Passei um período tão ruim para falar a língua local que as pessoas que não me conheciam há muito tempo achavam que eu estava aprendendo agora. Língua mais ingrata!
Lá vou eu pegar livros em húngaro para retomar o vocabulário… Estou constantemente lendo 2 ou 3 livros de uma vez: um ou dois em português (normalmente um clássico e um bem leve, dependendo do humor) e um em húngaro.
Preciso estar bem em português para aprimorar minha escrita, mas tenho que manter o húngaro. O desafio é constante, mas estou tentando manter o equilíbrio. Creio que o resultado tem sido bom, pois ouço comentários do tipo: -Puxa, você melhorou bem no húngaro! Quando te conheci você mal falava. – Detalhe, eu conheci a pessoa faz pouco tempo. Claro que eu falava! Falei até melhor que isso! Mas vai explicar… Eu agradeço e continuo lutando.
12 Comments
Carol, adorei o texto! As pessoas não têm ideia do quanto é difícil acostumar-se com uma língua quase que gutural, como imagino que seja o húngaro (assim como tcheco, ou polonês). E a coisa só piora conforme a gente fica mais velha… eu sei bem disso! Tendo aprendido 6 idiomas (português incluso) antes dos 25 anos, agora aos 34 parece tão desafiador aprender dinamarquês! Eu frequentemente me pego pensando em alemão durante as aulas, porque as duas línguas têm muita coisa parecida e isso ‘funde’ na minha cabeça uma miríade de confusões! E pra piorar o cenário, falo em inglês o tempo todo no trabalho com o grupo do qual sou vice-chairman. O segredo para aprender, na minha opinião, é praticar. Praticar todo dia! Ouvir falantes nativos e tentar copiá-los é o que ajuda. Eu assisto telejornais e minha família dinamarquesa (com exceção do meu marido, que insiste em falar inglês comigo) se comunica somente em dinamarquês, agora.
É muito importante se dedicar a aprender a língua do país onde moramos. Não sei você, mas a minha impressão é que o ‘novo mundo’ só abre suas matizes quando a gente passa a compreender a língua local!
Admiro você por conseguir falar húngaro!!! Tem gente que sai do Brasil pro exterior e não consegue se comunicar na língua local do país pra onde vai, alguns não aprendem por pura preguiça… e por mais difícil que seja você não desiste! É isso aí!
Bjs
Carol, tenho amigos húngaros aqui em Manila e eles comentaram que a construção das frases em hungaro são muito parecidas com a forma que se comunica o Yoda do Star Wars… Menina, meu cérebro bloqueou o aprendizado do tagalog (e sempre dizem que sou boa com idiomas porque passei do nível quase zero de espanhol ao espanhol profissional, mas esse é um idioma muito parecido com o português) e eu não consigo imaginar aprender um idioma tão complicado como o húngaro! Parabéns!!!
Mas te conto… Falando três idiomas, meu português piorou… Hoje, quando escrevo algo, tenho que relê-lo 200 vezes porque, em geral, algo me parece estranho… Acho que meu cérebro não consegue diferenciar o português do espanhol… Tive que escrever muito e ler ainda mais para que pudesse voltar a ter um nível decente do meu idioma-mãe… Haha! Um beijo!
Cristiane, é isso mesmo, bem difícil, mas não da pra viver sem. Eu acho que ganhamos muito conseguindo falar a língua local. Eu me sentia péssima por não saber me expressar (eu amo me expressar!). Tem pior que perder piada então? Era horrível quando eu tinha uma tirada super espiritual e não tinha vocabulário para fazê-la… ahahahah
Agora sei muito bem o hungaro, mas é aquilo que falei, falo melhor ou pior, com mais ou menos sotaque, dependendo de quanto uso e de quanto mergulho no português. Fica aquela guerra… ahahah Mas está aprendido e sempre irei entendê-los, isso é um grande alívio e muito satisfatório.
Imagino como deva estar a sua cabecinha tentando mais uma língua… ahahah Vai fundo!!! Você está na flor da idade (mesma que a minha), somos muuuuito jovens ainda. 😉
Beijinhos!
Adorei Carol… muito legal o texto! Aqui em Cinga facilmente você desaprende o inglês mesmo se ja o falo com fluência.. pois aqui o Singlish é carregado e ao falar com muitos locais ou pessoas mais velhas .. se nao falou ingles ao modo deles eles não te entendem heeheh.. Tantos anos estudando um idioma e chegar aqui e ter que falar “errado” heehhe.. Haja força de vontade não é mesmo….. .Boa sorte pra voce e muito sucesso
ahahah Juliana eu posso imaginar… Aí fica essa luta eterna de relembrar as regras de um idioma e de outro, aprimorar um sem estragar o outro… E a gente vai lutando. Eu fico imaginando se velhinha eu não vou misturar tudo…ahahahaha Imagina só, que rolo!!!
Meu pai era Hungaro mas nunca conseguimos aprender Hungaro no Brasil . Quando cheguei pela primeira vez na Hungria com 16 anos … Cai de cabeca na escola em uma cidade pequena… Depois de 3 meses ja tava falando …acho que tem um pouco do sangue e tambem porque era um sonho de conhecer a hungria e falar o idioma … Tive aulas particulares todos os dias com estudantes …e pouco a pouco aprendi … Mas o Hungaro e uma lingua bem logica … Quando voce aprende o abecedario tem a possibilidade de ler qualquer coisa diferente do Hebraico que vc nao sabe quando tem ou nao vogal … Mas amo a lingua Hungara e as poesias …Meu pai sempre dizia que os hungaros escrevian com uma profundidade incrivel …. Pena que papai nao foi vivo pra ver eu ler e descobri que era verdade …. eu fiquei 10 anos sem falar voltei para Hungria e tudo voltou …. Amo essa lingua apesar de ser muito dificil admiro quem aprende ….
Karla, é verdade, depois que vc aprende, não desaprende mais e a lógica realmente existe, principalmente nisso de que cada letra tem seu som e não tem essa de vc não saber se pronuncia “s”, “z”ou “x”… Com curso da mesmo pra aprender num tempo mais tranquilo. Eu é que tinha pouco dinheiro pra investir e aprendi na briga… ahahahah Agora posso dizer que sei o húngaro, leio tranquilamente os livros em hungaro, mas é muito fácil perder a prática se vc deixa um pouquinho de lado, coisa de semanas mesmo, aí enrosca na primeira hora da conversa, mas depois pega novamente…. ahahahaha
O que acontece comigo é que eu escrevo em português. Escrevi um livro faz pouco tempo, então o hungaro enferruja mesmo morando aqui, porque mergulho no portugues e a lógica das 2 linguas são diferentes.
Mas vc tem toda razão, é uma lingua com uma profundidade sem igual, vale a pena aprender, mesmo que seja só pra ver a vida por outro ponto de vista. 😉
Obrigada por enriquecer o texto com seu comentário!
Beijinhos!
Carol, obrigada pela franqueza, pois acho realmente que as pessoas nem imaginam a humildade que temos que ter quando temos que aprender um lingua estrangeira, e viver em outro pais nesta lingua, afinal pra “funcionar” rsrsrsr no pais novo, precisamos nao so de compreender e falar, mas também ler e escrever. Eh uma luta constante. Eu falo 7 idiomas, incluindo o Portugues, mas a verdade é que as vezes falo algo que me dizem ser “Anismo”=fenomeno linguistico criado pela “Ana”. rsrsrrsrs Eu falo todos os dias 4 linguas, pois moro na Suiça francesa, falo com meu marido alemao em casa, trabalho com o Brasil em portugues e com os outros paises em ingles, além de lecionar na universidades em ingles. as outras 3 linguas ficam que meio adormecidas, so acordando quando estou no pais de origem e depois de uns 2 dias pra voltar aos poucos, com fluencia na fala. Escrever, rsrsrsr bem ai a coisa pega e muito! em todas as linguas, inclusive o portugues. Quando eu era adolescente as pessoas ficavam encantadas de ver a riqueza do meu vocabulario em portugues, sempre fui tida como otima aluna de portugues na escola, palestrante, apresentadora, comunicadora, e trabalhando com marketing, como professora, como empresaria, como terapeuta, as palavras e o dom da fala é muito importante! Mas quer saber que ja descolei de me punir e cometer erros, afinal, quem nao comete erro na sua lingua mae? imagina entao alguem como nos, estrangeiras vivendo fora do nosso pais? Pois que andem nos meus sapatos primeiro, pra entao poderem jogar pedras! rsrsrsrsrsrs nao é facil esta vida de “super poliglota”, como aprendi outro dia em um texto cientifico otimo, que explica muito o processo de falar muitas linguas no cerebro das pessoas! Enfim minha querida, parabens pelo esforço e disciplina de falar portugues com seus filhos, de continuar a escrever em portugues e sempre ler livros em hungaro, sempre tentando melhorar a qualidade de seu conhecimento! Namasté! Aqui o links do texto que li!
http://super.abril.com.br/ciencia/super-poliglotas-como-funciona-cabeca-pessoas-aprendem-dezenas-idiomas-686220.shtml
Ana, meus sinceros parabéns pra você! Não consigo nem imaginar em que língua vc pensa! ahahah Haja discernimento!
Eu, assim como vc descreve, sempre fui tida como uma boa escritora, fiz faculdade de comunicação e era sempre elogiada por meu vocabulário, minhas dissertações… Depois dos primeiros anos de Hungria meu português foi pra um nível muito baixo, um nível inventado por mim… ahahahah Voltou um pouco com a constante escrita, mas te confesso que ainda não estou lá. Agora o processo inverso aconteceu com o húngaro e estou começando a encontrar o meio termo. Realmente não é fácil e estou lutando com 2 línguas, imagino vc!!!! Você merece um prêmio! 🙂
Obrigada pelo comentário tão enriquecedor! Vou ler o link, com certeza!
Super beijos!
E eu reclamando do Mandarim…rs Foi muito bom ler esses textos sobre o idioma local de cada uma. Dá um incentivo e tanto em quem resolveu tentar ser poliglota depois dos 40 anos…rs Parabéns, Carol! =]
Pelo que sei dos meus conhecimentos enciclopédicos…o húngaro tem relativa semelhança com os idiomas finlandês e estoniano. Ao assistir ao cinema finlandês, do diretor Kaurismaki…às vezes o som até se parece com japonês. Sequer estas línguas fazem parte do tronco indo europeu, assim como o basco, portanto, estão menos próximas das línguas européias do que as línguas da Índia e Irã. Elas vieram de algum ponto da história desde a Ásia central. Algumas sugestão de músicas ou cinema desse país? Obrigad
Olá Alex,
A Carol Szabadkai infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM