O que se come na Hungria.
Embora às vezes o idioma possa ser uma barreira, sempre procuro ao máximo aprender a me portar de maneira ’socialmente aceitável’ neste país que, mesmo já estando acostumada, ainda me é um tanto peculiar (no bom sentido, claro). Ser socially awkard (indivíduo com medo excessivo de interações sociais, ou no meu caso, apenas por uma escolha pessoal) não ajuda muito nessas horas e diversas vezes fui criticada por ’não querer me integrar’ quando na verdade estava apenas ’sendo eu’.
Foram quase 3 meses até eu começar a querer conversar na língua local e, pelo menos 4 meses pra perder a vergonha de ir ao supermercado sozinha, acreditem. Além de tudo isso, eu nunca tive muita consciência – talvez por imaturidade ou por nunca ter viajado tão longe – do que é ofender alguém culturalmente, mas esse sempre foi um dos meus maiores medos, afinal, não estou na minha casa.
Decidi então sair da minha zona de conforto…e não foi da noite pro dia (coloque aí aproximadamente uns 6 meses).
O primeiro passo foi pensar em algo de que gosto. De todas as coisas que me agradam, com certeza a minha favorita é falar sobre comida. Dessa forma, planejei a minha integração com o universo húngaro a começar pelo estômago já que, de acordo com as minhas pesquisas pela internet, a culinária local é famosa no mundo inteiro e muito bem aceita.
Bem, não foi tão fácil quanto achei que seria.
Húngaros são bastante sensíveis em relação à comida e, com toda certeza, esse foi o quesito em que eu mais “pequei” , especialmente por ter me descoberto uma picky eater (paladar infantil).
Li bastante sobre a etiqueta local e após algumas observações, certas coisas foram (e são) um tanto inusitadas para mim; outras eu digo com propriedade que me permitiraram aprender boas lições.
Listei brevemente sete regras que considerei relevantes durante a minha adaptação e, claro, inocentemente desrespeitei pelo menos metade delas. Experiência pra vida.
1. Começar a comer apenas quando o anfitrião gentilmente convidar
Acho que isso é universal. Normalmente o anfitrião deseja um bom apetite ( jó étvágyat! ) a todos e isso é realmente fofo.
2. O almoço não é apenas a sopa
Geralmente o almoço é uma refeição grande aqui e, pasmem, começa com uma sopa, um ou dois pratos principais (provavelmente tem batata e repolho no meio) e uma sobremesa (pode ser um bolo daqueles de camadas, é muito bem aceito mas prefiro não opinar sobre). Eu havia lido sobre, mas achava que iria comer apenas sopa, que já é suficiente, até me deparar com mais uma infinidade de comidas sobre a mesa. Costumo dizer que as pessoas aqui têm 2 ou 3 estômagos, eu simplesmente não consigo acompanhar esse ritmo. Nessa hora você pode pensar: “ué, toma só a sopa então”. Pois bem….
3. Prove tudo à mesa
Em resposta ao item anterior, no início eu comia um pouco de tudo, mesmo não gostando. Comecei a negar o que me desagrada ( sou do tipo “não comi e não gostei”) e com o tempo as pessoas se acostumaram. Sempre achei que deixariam de gostar de mim por isso, mas foi aqui que eu percebi que mesmo com tanta sensibilidade, húngaros são respeitosos. Acho que eu me importava demais em parecer educada e, claro, falhei. A essa altura do campeonato é mais fácil os outros aceitarem do que eu tentar mudar (permaneço na zona de conforto, nesse caso).
4. Não deixe sobras no prato
Prática bastante coerente. Posso dizer com certeza que aqui aprendi melhor a, de fato, respeitar a comida. Por mais simples que pareça, levei esse ensinamento para a minha vida. Se houver alguma sobra (eu perdoo), costumo separar e fazer uma sopa. Recentemente tive a ideia de levar aos moradores de rua, falta pouco pra colocar em prática.
5. Garfo na mão esquerda
Algo que infelizmente minha (des)coordenação motora me impede de cumprir. Felizmente, imagino que ninguém me ache ’menos educada’ por isso. Ainda bem!
6. Não brindar com cerveja!
Existe uma razão histórica, à qual não vou me ater, mas lembrem-se disso!
7. Quem paga a conta normalmente é quem convida
Parece injusto mas não é. Respeitando todo esse ritual, finalmente me senti confortável para de fato apreciar a gastronomia e entender melhor os hábitos locais.
Por muitas vezes eu andava pela rua, sentia um cheiro maravilhosa e quando ia ver o que era….um belo pé de porco. Hoje tenho certeza de que os húngaros fazem qualquer comida aparentemente ruim se tornar uma iguaria, talento um tanto invejável esse que faz meu estômago feliz.
*Desculpe, de maneira informal.
4 Comments
Adorei o texto, Larissa! Moro em Pécs, interior da Hungria, há 16 anos e adoro a culinária deles!
Sobre a cerveja, para completar (desculpe se estou sendo intrometida), é porque em uma das guerras que a Hungria perdeu, contra a Áustria, os austríacos comemoraram com muito brinde de cerveja. Os húngaros, então, resolveram não mais brindar com ela. Porém, existem umas pessoas que dizem, já faz mais de 100 anos, vamos esquecer as brigas, e brindam. Também, se um estrangeiro faz menção de brindar, eles brindam numa boa, pois sabem que ninguém é obrigado a guardar esse rancor de guerra. Mas é muito delicado se um estrangeiro sabe disso e respeita, pois eles ficam felizes pelo respeito alheio. 😉
Excelentes dicas!!! Parabéns!
Beijinhos!
Eu Simplesmente odeio a comida aqui, nao sabem cozinhar, nao tem tempero bom, quase nunca acho lugar para comer a nao ser Pizza, Kebab ou Mc Donalds
Saudades do feijao e de restaurante por Kilo 🙁
Me chamo nilberto wischral, sou bisneto do ungaro Josef wischral.resido em São Bento do sul SC. Possuo o pequeno empreendimento chamado fazenda vale dos Dourados. Vou em breve fazer um tour pela ungria.mais precisamente na cidade de Pecs. Pergunto. O povo da ungria é receptivo como nós somos.?? O custo de vida aí é muito caro..?? Quem sabe vendo tudo por aqui, e vou morar aí… abraço.
Olá Nilberto,
A Larissa Tasnádi parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista na Hungria chamada Mayra Di Domenico que talvez possa te ajudar.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM