Sempre tive vontade de morar fora do Brasil, mas esse desejo parecia só pertencer ao mundo dos sonhos até meados de 2014, quando meu marido recebeu uma proposta de trabalho internacional. Ficamos felizes, pois gostaríamos muito de oferecer essa chance à nossa filha, que tinha 3 anos e meio naquela época.
A oferta era para trabalhar na Índia. Na verdade, no interior da Índia, mais precisamente em um estado que faz fronteira com o Paquistão e que é um dos estados mais conservadores do país, onde Mahatma Ghandi nasceu. O estado se chama Gujarat e a cidade, Vadodara.
Depois do choque inicial, de várias pesquisas e de uma visita de uma semana à cidade, resolvemos aceitar o desafio. Nos mudamos em dezembro de 2014, exatamente no ultimo dia do ano. Ano novo, vida nova. Muito nova, aliás…
“Assustador” é a primeira palavra que me vem à cabeça quando lembro dos primeiros momentos aqui. Fiquei assustada com a sujeira e a pobreza em todos os lugares. Eu me perguntava como as pessoas conseguiam viver daquela maneira e me questionava sobre como eu sobreviveria a tudo que estava vendo.
Nos primeiros 10 dias ficamos em um hotel e depois nos mudamos para o nosso apartamento, que já tinha sido providenciado pelo meu marido 1 mês antes. Moramos em um condomínio com 8 torres, bem parecidos com os que temos no Brasil, e com todas as facilidades também.
Acreditava que encontraria outros estrangeiros nesse condomínio mas, para minha surpresa, durante um ano fomos a única família “de fora”.
Os indianos de forma geral são muito simpáticos e amigáveis e eu também não sou das mais difíceis para fazer amizades. Logo conheci algumas pessoas aqui no prédio e sentia que elas tinham muita curiosidade pela cultura ocidental, além de uma verdadeira adoração pela nossa cor de pele. Eles fazem de tudo para ficar o mais branco possível – acho que é o maior sonho das mulheres indianas.
A língua sempre foi e ainda é um grande empecilho. Eu não falava e ainda não falo um inglês muito bom, o sotaque indiano falando inglês é muito difícil de entender, e quando eles estão entre eles, eles preferem falar hindi, a língua oficial nacional, ou gujarati, a língua oficial no meu estado.
Mesmo com as dificuldades eu me considero uma pessoa de muita sorte. Conheci uma vizinha que também era nova na cidade, vinda de Nova Déli e que posso dizer que nos adotou. Até hoje me ajuda em absolutamente tudo. Ela mesma diz que é muito perigoso deixar um estrangeiro sozinho aqui na Índia. De alguma maneira eles vão querer levar alguma vantagem sobre nós.
Essa minha vizinha me apresentou à dinâmica da vida cotidiana indiana, que é uma vida totalmente diferente da nossa ocidental. As empregadas domésticas aqui, por exemplo, trabalham por tipo de serviço. Uma só limpa o chão, outra só lava a louça, outra só limpa banheiros… E quase sempre elas trazem alguém da família com elas, ou às vezes mais de uma pessoa da família. Elas sabem que os estrangeiros não gostam disso, então existem as empregadas que só trabalham para quem é de fora, que trabalham o dia todo e ganham muito, mas muito mais que as empregadas que trabalham para indianos.
Outra coisa que estranhei muito é que tudo chega na sua porta: o leite de manhã cedo acompanhado do jornal, o moço que vem lavar o seu carro todos os dias bem cedo; o tuk tuk (famoso meio de transporte indiano) que vende frutas e verduras 2 vezes por dia na garagem da sua casa; o passador de roupas – aqui ninguém passa roupas em casa – que vem buscar e trazer roupas na porta da sua casa todos os dias. Vejo as pessoas de manhã de pijamas caminhando no condomínio, indo à academia, ou ate mesmo levando os filhos para a escola. E por aí vai …
Aos poucos, fomos nos adaptando. Minha filha rapidamente começou na escola e em 4 meses já falava inglês e tinha vários amigos. Isso facilitou e facilita muito nossa vida por aqui. E eu fui descobrindo uma Índia que pensava só existir na novela da Gloria Perez, uma Índia de uma riqueza espiritual e cultural que jamais imaginamos, e ao mesmo tempo, um país com diferenças sociais e financeiras absurdas, de pessoas que se dizem super espiritualizadas porém negam um copo de água para a mulher que limpa o chão da sua casa todos os dias. Esse é um país onde existem piscinas nos prédios divididos por sexo, um país onde a divisão por castas é proibida por lei e, ao mesmo tempo, existe uma lei que protege as castas mais baixas de serem excluídas da sociedade.
Continuo aprendendo a viver diariamente com várias faltas, como, por exemplo, carne vermelha – e olha que nunca fui muito fã – mas aqui é impossível comprar. Ate mesmo frango não é muito fácil de achar e, quando encontramos, o preço não é muito convidativo.
A variedade de frutas e verduras é também bastante limitada, e até 4 anos atrás não existia calça jeans para vender. Acredito que essa seja uma realidade da cidade onde moro, porque em cidades maiores é possível encontrar todos esses produtos.
Às vezes ainda me pergunto como vou sobreviver a tudo isso e no segundo seguinte me conscientizo de que já sobrevivi. Estamos há 1 ano e 9 meses aqui. Apesar de todas as dificuldades e diferenças, tenho um prazer enorme em conviver com pessoas de várias partes do mundo acima de tudo e de ver minha filha se relacionando tão bem com tantas diferenças (em todos os sentidos).
São coisas que só a vida nos ensina!
Leia sobre o jeito indiano de ser!
20 Comments
Oi, Barbara! Que legal o seu texto! Sou londrinense e moro em Jaipur há 3 anos e 4 meses!
Estive em Gujarat mês passado a trabalho, em Ahmedabad e no norte, em Bhuj.
Me avisa quando vierem para Jaipur! 🙂
Beijos,
Leticia
Oi Leticia tudo bem? Tambem somos londrinenses kkk coincidencia menina. Estamos indo para Jaipur mes que vem. Vamos nos falar? Me ache no FB …. Barbara Oliari. Beijos
Oi Barbarella q bom saber q está bem adaptada e feliz… Saudades da sua alegria… desejo-lhe muitas realizações aí. Adorei seu texto… escrito com o coração… Beijo grande
Muito legal! Parabéns Bárbara e obrigada por compartilhar esta experiência conosco!
Otimo texto Barbara!
escreva mais textos e boa nostre mais sua cidade atual
Adorei essa matéria d Bárbara Oliari, amiga e vizinha em Santo Antonio do Pinhal-SP.
Simplesmente maravillhosa. Aguardo novas matérias acerca do seu convivio na India.
Parabéns!
tiro meu chapeu pra voce. Me considero cidada do mundo, mas acho que teria muita dificuldade em viver na India. Muito interessante, parabens e boa sorte.
Adorei Bárbara, belo texto. Conte mais.
Amiga querida, li seu belíssimo depoimento e a saudade só aumentou!!!!!
Sua cara essa experiência, cheia de desafios e novidades!!!
Continue contando pra gente como é seu dia-a-dia aí, assim podemos sentir que estamos bem pertinho de vocês!!!
Com amor, sua amiga, de sempre e pra sempre, Lu.
Bárbara adorei saber um pouco desta sua nova vida.
Grata por compartilhar!!
Beijão.
Ola, Barbara! Gostei muito do depoimento sincero, mas gostei ainda mais de saber que voces se adaptaram bem. Realmente, Gujarat nao eh um dos estados mais faceis de se viver aqui na India, apesar de os gujaratis serem muito simpaticos e receptivos. Eu moro em Mumbai, onde ha uma comunidade enorme de gujaratis e aqui, temos bastante contato com a cultura gujarati. Realmente a vida eh cheia de surpresas. Eu mesma nunca imaginei que um dia fosse morar na India, por exemplo! Mas, estou adorando cada minuto, apesar de saber que nao eh um um dos paises mais faceis para uma estrangeira viver. No mais, desejo tudo de bom para voces em Vadodara!! Um abraco!
Ficou DEMAIS Bárbara !!! Esperando pelo próximo texto …. beijos
Bárbara! Sua linda! Saudades enorme de você! Parabéns pelo texto e pela coragem! Beijos no coração!
Professora Bárbara, parabéns pelo texto!! Que Deus abençoe, sucesso aí para você e sua família! Sigo aqui te acompanhando diretamente de SJCampos rsrs.
Nossa amei seu texto sobre o dia dia em vadodara, pra mim quer ta quase indo morar aí! Sinto quer seremos grandes amigas e nossos filhos também.
Legal seu texto! Logo menos estaremos por aí! Beijos!
Ah Barbara, que saudade me deu ao ler seu texto…vocês são mesmo muito corajosos e acho que tantas mudanças antes dessa, incomparável, ampliaram sua capacidade de adaptação. No caminho deixaram alguns amigos, como nós…e tenho certeza que farão muitos outros e terão sempre muitas histórias pra contar. Esse talvez seja o verdadeiro sentido da vida, não? Amo vocês!!
Oi querida Barbara fico feliz ter notícias suas e saber que vc tem vivido experiências desafiadoras e enriquecedoras, seu texto é ótimo! Continue a explorar o mundo e a nos contar tudo. Um grande beijo!!!
olá,
eu sou Alcina , moro na bahia, pretendo passar um tempo na india na cidade de ludhiana, estou com medo. justamente de aproveitarem de mim. eu falo pouco o ingles, eu conheci uma familia e eles me convidaram para visita-los. posso confiar? estou com medo. bairro é punjab. gostaria de sua ajuda como fazer uma viagem segura e não correr nenhum risco aí. grata Alcina
Alcina, recomendo que leia os textos sobre a Índia e também os textos sobre relacionamentos online para você não se tornar mais uma vítima. Muita cautela. Equipe BPM
https://brasileiraspelomundo.com/category/relacionamentos-online