No texto anterior eu dei 10 motivos (e daria até outros mais!) pra quem quiser morar na Indonésia. Mas como nem tudo são flores, achei pertinente mostrar o outro lado da história… E aí pensei que seria interessante fazer um top 5 – de modo que os pontos positivos ainda superem os negativos – dos motivos para não morar por aqui. Vamos lá?
Trânsito – Aqui na Indonésia estão duas das piores e mais engarrafadas cidades do mundo, e a número um é a capital, Jacarta. Mesmo se você for paulistano e achar que já está acostumado a passar horas no trânsito, não subestime a capacidade dessa cidade de lhe tirar do sério! Não apenas pelo fato dos intermináveis engarrafamentos, mas pela desordem e falta de planejamento do desenho viário da cidade. Para onde quer que se vá, prepare-se para sair com até 3 horas de antecedência e, pela “Lei de Murphy”, se você estiver com pressa, elas não serão suficientes. Se estiver visitando Jacarta, considere bem a localização do hotel, procure elaborar bem os roteiros por onde vai e evite coincidir com as grandes avenidas em horários de pico.
Sistema de transporte público praticamente não existe. Nas cidades menores como Balikpapan, onde moro, utilizam-se microônibus (mas MICRO meeeeesmo) chamados “angkots” – um atalho do termo “angkutan kota” que significa “transporte público”. Porém, mesmo sendo tão compactos, ainda não são pequenos o suficiente para entrarem nas estreitas vielas dos bairros, mantendo-se, então, as rotas apenas pelas avenidas da cidade. Por isso as motos são tão populares por aqui e nelas leva-se a família toda e também gato, galinha, etc.. Ou seja, se quiser garantir a viagem, melhor chamar um táxi e tenha o endereço exato, se puder anotado, pois nem todos falam inglês. Por outro lado, por se tratar de um país arquipélago, o transporte aéreo é amplamente utilizado e, por isso, há inúmeras ofertas de passagens aéreas promocionais, principalmente se compradas com antecedência. Nem tudo está perdido!
Saúde – Em Jacarta você certamente encontrará excelentes clínicas e hospitais de alto padrão e médicos competentíssimos, mas não espere o mesmo em todo o país. Em várias regiões o sistema de saúde é precário e os tratamentos alternativos como massagens, simpatias e sanguessugas estão na ordem do dia.
Há um costume bem curioso por aqui: o “kerok”, que é o ato de raspar uma moeda na pele com um creme ou óleo, com objetivo de aliviar dores e liberar o que chamam de “friagem” (masuk angin). Eu me lembro de um dia quando a empregada apareceu toda marcada e eu jurava que ela tinha apanhado. Ela ria e me explicava a técnica. Em algumas áreas recomenda-se, ainda, a vacina contra febre amarela e há regiões que não estão livres da raiva. Bali é uma delas. Por isso, cuidado ao encantar-se com os macaquinhos, morceguinhos e cachorrinhos nos templos balineses. Por via das dúvidas, bicho é bicho, gente é gente! Não toque nos animais silvestres!
Idiossincrasias – o comportamento peculiar ao indonésio e seu modo de vivenciá-los e de ver a vida pode ser conflitivo ao ocidental. Algumas coisas são bem ao estilo “ame ou odeie” e vai tomar um tempo (ou nunca!) para se acostumar. Como, por exemplo, ouvir arrotos em público, em alto e bom (potentíssimo, às vezes) som! O que para nós parece ser uma grande ofensa e falta de educação, do outro lado do mundo é apenas um sinal natural de que uma boa e farta refeição foi realizada. Por outro lado, aos olhos dos indonésios (e da maioria dos povos orientais), chegar em casa e não tirar os sapatos é um péssimo hábito. Os indonésios inclusive lavam mãos e pés ao chegar em casa e usam duchas ou “gayung”, uma espécie de caneca grande, para se limparem, ao invés de papel higiênico (E por isso os banheiros estão sempre ensopados!) Ou seja, o que consideramos limpeza e educação também são pré-conceitos e pontos de vista…
A falta de cuidado com o meio ambiente é algo que realmente me incomoda por aqui. Apesar de Balikpapan ter recebido prêmios como o ASEAN Environmentally Sustainable Cities Award 2014 pelo cuidado com o tratamento do solo, da água e com qualidade do ar, há ainda muito a se fazer em relação à educação ambiental na Indonésia. Jogar lixo no chão ou em qualquer lugar por onde se passa é algo tão comum e automático que muitos sequer entenderiam se fossem advertidos em pleno ato, desde crianças a pessoas mais velhas. O que parece uma “garrafinha de água inofensiva” jogada no chão se une a algumas toneladas de lixo que inundam casas em época de chuvas. Cenas não pouco comuns também no nosso querido Brasil, reconheço, mas irritantemente mais frequentes por aqui.
Além disso há o desmatamento, que já está tomando proporções assustadoras e geralmente sempre de maneira criminosa, passando por vias corruptas de autorizações. Nenhum projeto habitacional deixa uma única árvore em pé por aqui! Há quatro anos, quando cheguei no bairro, íamos caminhar numa montanha fresca e arborizada. Hoje, quando vou, dá vontade de chorar! Tudo não passa de um descampado com a terra exposta, rachada e com marcas de escavadeiras. Além disso, atualmente estamos sofrendo com as queimadas descontroladas que atingem as matas de Kalimantan. Diariamente nos despertamos sob uma névoa, que sabemos bem que não são uma neblina, e sim fumaça da floresta que ali antes havia. Falam de incêndios por conta da falta de chuva, bem como alguns suspeitam de incêndios propositais por causa do óleo de palma. Leia mais sobre haze aqui e aqui nos textos da Fernanda Froimtchuk, colunista do BPM que morou na Malásia e agora está em Cingapura e fala sobre o problema das queimadas que afeta ambos países e também a Indonésia.
Acho pertinente fazer uma pequena observação sobre o idioma. É admirável a boa vontade do indonésio em falar algumas palavrinhas do inglês, mas não se apegue a isso como regra. Em várias situações, como em táxis por exemplo, corre-se o risco do cidadão não falar uma única palavra que você entenda! Então, recomendo que aprenda algo do idioma local se não quiser se ver em apuros.
Enfim, se você sempre sonhou em conhecer um lugar exótico e vivenciar experiências inesquecíveis, esse é o seu lugar! É longe demais do Brasil e essa distância às vezes pesa na alma da gente, mas a Indonésia vale cada um dos dias que você puder viver aqui.
Sampai jumpa! Até logo!
8 Comments
Existem muitos brasileiros aí?
É dificil trabalho autónomo?
Olá Helena, tudo bem? Não saberia dizer-lhe quantos somos, mas há várias famílias de brasileiros, principalmente em Jacarta. Quanto à questão de trabalho autônomo, depende da área de atuação.
Gisele, como é a saúde em Balikpapan?
Gisele, bom dia !!
Deixei uma mensagem para você em seu facebook.
Ja estive 02 vezes em Bali, e pretendo me mudar definitivamente para Bali, e gostaria muito de poder pegar algumas informações com você, se for possível.
Aguardo um contato e parabéns pelas matérias publicadas. Aqui em casa somos fãs de suas publicações.
Muito Obrigado
Antonio Provazi
provaziagc@yahoo.com.br
Antonio, a Gisele voltou ao Brasil e parou de colaborar conosco.
Edição BPM
Boa noite!
A que horas(local) começa a jornada de trabalho em Jacarta?
Trabalha-se normalmente quantas horas por dia?
Obrigado!
… olá!
Meu nome é Wilg Alves, e sempre estou pesquisando sobretudo da Indonésia. Mas me responda… Trabalhar na
Indonésia é lucrativo?
Olá Wilg,
A Gisele Altoé parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista na Indonésia chamada Mariana Petrini.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM