Azure Window em Malta
E você se foi…era uma morte anunciada, pois há tempos estavam te maltratando. Pobre dos homens que não sabem cuidar de seus bens mais preciosos. A natureza só tratou de acabar com a sua dor.
Em 08 de março de 2017, Malta acordou mais triste. Seu maior patrimônio natural, a Azure Window, um arco de calcário de 28 metros de altura, desapareceu no mar Mediterrâneo, após uma forte tempestade, deixando nada visível acima da água. Uma batalha entre a terra e o mar que apagou esse monumento natural.
A formação rochosa, localizada na ilha de Gozo – Malta, foi criada pelo colapso de duas cavernas e era constituída de um pilar de rocha que se levantava do mar e se unia ao penhasco por uma laje horizontal. A Azure Window desenvolveu-se através da erosão do mar e da chuva por um período de aproximadamente 500 anos. Ao longo de décadas de erosão natural, agregado a má conscientização do ser humano que, apesar das advertências de não ultrapassagem, insistiam em caminhar sobre o arco, esta formação desmoronou por completo.
Entre as décadas de 1980 e 2000, partes da laje superior do arco desmoronaram, ampliando significativamente sua abertura e, em 2012, uma grande laje da rocha na borda externa da cavidade, desabou, aumentando ainda mais o tamanho da janela. Após uma nova queda em 2012, geólogos alertaram sobre sua instabilidade e o risco às pessoas ao se aproximarem do arco. Pescadores locais evitavam a aproximação com seus barcos, porém o mesmo não ocorreu com os turistas que, insistiam em ultrapassar os sinais de alerta e continuavam a mergulhar e postar seus vídeos “fantásticos” nas redes sociais.
Em dezembro de 2016, foi publicado uma ordem de emergência proibindo as pessoas de entrarem no arco sob a cobrança de multa de 1.500 euros, porém esta lei não foi aplicada e os visitantes ainda circulavam sobre o arco dias antes do colapso.
Seu desaparecimento era algo inevitável, mas segundo os prognósticos geológicos, isso ocorreria por em par de anos.
Por sua exuberância, a Azure Window era um dos principais marcos turísticos de Malta, fotografadas por milhares e palco de séries e filmes internacionais famosos, como o “Conde de Monte Cristo” e “Game of Thrones”.
Embora saibamos que tudo tem um fim, preferimos não encarar os fatos e acreditar que tardarão a acontecer mas, quando abruptamente desaparecem é que voltamos a refletir sobre a finitude e sobre a importância de não deixar para depois.
Estava há menos de um mês em Malta, ainda como turista, explorando cada canto do país, quando decidi não desistir de ir a Gozo, mesmo com todo mal estar, ao meio dia de um lindo sábado de sol – obrigada por me “arrastar” amiga Tamires. A viagem até a Azure Window, partindo de St. Julians, não é tão simples e rápida, ainda mais quando dependemos de transporte público. Ao chegar a Gozo, tomamos um ônibus turístico e decidimos que nossa primeira parada seria o ícone arco rochoso de Dwejra Bay.
Ao passar pela pequena San Lawrenz, começamos a descer rumo ao mar. A vista para um mar de cor fortemente azul já assombra, mas apenas ao aproximar-se da Baía é que vislumbramos o portal natural sobre o Mediterrâneo. Foi um daqueles momentos em que é impossível não soltar um “uauuu” e manter a boca fechada e os olhos não fixos, frente tamanha beleza, mas foi apenas quando desci do ônibus e me aproximei, que pude constatar a imensidão rochosa batizada de Azure Window.
É inevitável não tirar dezenas de fotos no local, embora com o mesmo fundo, sempre acreditamos que com uma pose diferente a imagem será mais encantadora. De cima, abaixo, de lado, sobre as pedras, dentro da água, eu e a grande pedra de todos os ângulos possíveis. E olha que isso se repetiu todas as demais vezes que estive no local.
Gozo tem inúmeras atrações, mas para mim, nada comparado a Janela Azul. Era lá que sempre passava a maior parte do tempo quando visitava a ilhota. Seja logo pela manhã, no meio da tarde ou no final do dia, aliás foi um dos mais lindos pores do sol que meus olhos puderam apreciar, a imagem é surpreendente. Estar diante da Azure te faz um ser minúsculo, pequeno, indefeso e irracional.
Acreditar que não somos particularmente responsáveis pela conservação e destruição da natureza nós torna insignificantes e nos restringe a imagens fotográficas e memórias. Me lembro da última vez que estive lá, em outubro de 2016. Um dia que começou com um chuvisco, e com um forte e gelado vento, mas que pouco a pouco deu espaço a um lindo céu azul e um sol acalentador. Foi quando apresentei esta extinta maravilha à minha família. Novamente sacamos muitas fotos, diversas repetidas como um esboço de desenho animado, mas que tentavam expressar todos os sentimentos que a Janela aberta no mar, evocava em cada um de nós. Me recordo também de me surpreender com a larga fenda que se abria na laje e como estava, em poucos meses, visivelmente maior. Refletimos muito sobre a previsão de uma expectativa de vida de 10 anos, e sobre a sua iminente queda. Até que, tristemente, fecha-se a janela azul.
Sinto-me privilegiada por ter conhecido e admirado a Azure por diversas vezes e por continuar a acreditar que o mundo está aí para ser visto e explorado, mas com afeto e parcimônia. Adeus minha linda e obrigada por alegrar e encantar nossos dias.
Dedicado, com lágrimas no olhar, a todos os amantes de Malta.
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