Morar em Paris ou na banlieu?
Às vésperas de festejar mais um ciclo de vida, me peguei divagando sobre meus sonhos e objetivos. Talvez tenha sido o inferno astral de escorpião que veio em cheio e me levou a repensar algumas escolhas e prioridades até então intocáveis, do tipo sair de um grande centro urbano para morar em uma cidade pequena.
Uma das minhas memórias de infância era poder me mudar para uma cidade “grande”, super desenvolvida estruturalmente, onde eu pudesse ser só mais uma e não a fulana, amiga da cicrana, filha do zezinho e da mariazinha. Enfim, aquela história clássica bem conhecida de pessoas que moram em cidade pequena. Estranho dizer isso, né? Mas tem gente que gosta desse tipo de ambiente e tem gente que não.
Então, praticando a lei da atração desde os tempos da Xuxa e a Lua de Cristal, descobri o prazer (e o desprazer) de morar em cidades “grandes” e que nunca dormem!
Mas, voltando à questão da minha divagação, morar na capital ou em qualquer outro grande centro tem de fato suas incontáveis e maravilhosas vantagens, mas tem também os seus inúmeros inconvenientes. Eu não vou ser nem a primeira nem a última pessoa a dizer isso aqui. Alguns artigos já retrataram essa questão no BPM e podem ser lidos aqui e aqui.
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Eu cheguei à conclusão que, mesmo sendo apaixonada por Paris, estou começando a me cansar da cidade e mais exatamente, da loucura de viver em um grande centro urbano.
A periferia de Paris
Assim que me mudei pra França, morei em duas cidades da periferia de Paris, ou na banlieu, como costumamos dizer por aqui. A primeira cidade é Eragny, localizada no norte e fica a 40 min de RER (trens que operam na periferia) do centro da capital. A segunda cidade foi Vitry-sur-Seine, essa fica do lado oposto, no sul, e o acesso ao centro era um pouco mais fácil, pois eu utilizava ônibus e o metrô.
Mas antes de entrar nos detalhes positivos e negativos de morar nessas regiões, preciso dizer que o conceito de periferia francesa se aproxima em partes do conceito brasileiro. Isso porque, a idéia de perifieria aqui também tem um sentido negativo, evocando pobreza, racismo ou exclusão. Assim como no Brasil, é possível encontrar zonas boas e outras não tão boas assim.
Embora essa visão complicada da perifia ainda seja forte, tem aumentado o número de pessoas que deixam Paris para morar na banlieu ou em cidades do sul da França, isso por que os franceses tem optado por ganhar mais qualidade de vida. Segundo um estudo realizado pelo site francês cadreemploi.fr, 80% dos asalariados que trabalham em Paris aceitariam ser transferidos para o interior da França, mesmo recebendo um salário menor. As causas do desejo de fuga são comumente ligadas ao tempo perdido no transporte, ao custo da moradia, e à poluição.
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“Mas então quais são as vantagens de sair do centro ?”
A melhor parte de ter morado na periferia era a tranquilidade, sim a tranquilidade! Digo isso, pois hoje morando no centro de Paris isso me faz uma enorme falta. Poder abrir a janela e não ter que se incomodar com o barulho de sirenes, a buzina dos carros, com o vizinho do prédio da frente colado na sua janela, ou com a forte poluição, é um privilégio.
É claro que em certos bairros, esses pequenos incovenientes serão bem menos notados do que em outros. Vale ressaltar que eu moro no 18ème, um dos bairros mais movimentados e populares de Paris.
Mas pra poder ter essa paz, existe um preço. Ah sim, aquela parte que também me faz sentir saudades de morar na periferia. Dependendo da região que você escolher, tudo ou quase tudo é muito mais barato: aluguel, supermercado, restaurante, bens e serviços em geral. Isso acaba sendo uma ótima forma de aproveitar o orçamento pra investir em outras coisas, como uma poupança ou viagens, por exemplo.
Para fazermos uma simples comparação, o aluguel de um apartemento 30m² em Paris, ou seja uma kitchnette, custa em média 950 euros, enquanto na periferia, com esse mesmo valor é possível alugar um apartamento muito mais espaçoso, em ótimas condições e com uma maior facilidade.
Bom, se a tranquilidade e o preço podem fazem você sonhar, é bom saber que nem tudo são flores. Morar na perifieria é também recusar alguns convites para eventos, festas ou passeios, principalmente se for para sair de casa à noite. Isso porque, tirando o fator “longa espera pelo transporte público”, é importante também contar com os seus imprevistos. Na verdade eu nem considero mais imprevisto, pois os problemas de transporte são tão frequentes que já fazem parte do quotidiano. É preciso pensar nos atrasos, cancelamento de trens, linhas fechadas por motivos de execução de obras em pleno final do dia ou final de semana, e por aí vai …
Então se você não tem carro ou outro meio de transporte próprio, a vida pode ficar um pouco complicada.
Além disso, caso você decida aproveitar o final de semana para passear pelo bairro, ir à um restaurante, ou simplesmente ir comprar pão no domingo de manhã, é melhor não criar tantas expectativas, pois diferentemente de Paris, essas regiões são essencialmente residenciais, ou seja, bem vindo senhor tédio!
Resumindo, morar em Paris ou na banlieu? Existem vantagens e inconvenientes, como tudo nessa vida. A questão é colocar na balança as prioridades pessoais e qual estilo de vida se procura.