Você já tem claro em mente que quer morar no exterior. Como um bom leitor do Brasileiras Pelo Mundo, já leu tanto o Manifesto pela Desglamourização de Morar no Exterior da Marcela quanto A Vida Fora, escrito por mim. Já pensou – ou não – sobre os perrengues que vai enfrentar e já tem consciência de que a vida nos Estados Unidos, Austrália, Canadá e países europeus não é feita de luxos e que ganhar em euros significa gastar em euros – portanto, não é porque você vai sair do Brasil que ficará rico. Pois bem, talvez esse texto sirva para você…
Já disse que jamais vou desencorajar as pessoas que têm o sonho de morar fora do Brasil, porque esse era o meu sonho desde sempre. Mas meus anos fora do país me ensinaram algumas coisas que decidi compartilhar com vocês:
Venham devidamente documentados (legalizados): sei que parece óbvio, mas já vi comentário de muita gente que quer dar uma de Sol, a personagem (sem-graça) da Deborah Secco em América e ficar em um país sem os devidos papéis só porque acha que lá a vida será mais fácil que no Brasil. Eu não faria isso.
Um imigrante sem-papéis enfrenta inúmeras dificuldades mais que um imigrante que tem permissão de residência e trabalho. Conseguir trabalho já não é fácil. Na Espanha, por exemplo, 20% da população continua desempregada. Para alguém que não pode trabalhar, será ainda mais difícil – e, caso consiga, será em situação irregular. Em casos extremos, um imigrante em situação irregular pode até mesmo ser preso e ter que pagar uma multa, no melhor dos caso, ou ser expulso do país, no pior deles.
No caso da Espanha, estar em situação irregular se caracteriza infração grave pela lei da imigração e pode acarretar em expulsão. Caso isso aconteça, a pessoa estará proibida de entrar no país e na União Europeia por cinco anos, prorrogáveis por dez, dependendo da situação que se encontra. A Susana Toledo, advogada que atua em Madri e também escreve para o Brasileiras Pelo Mundo, explica mais sobre o tema nesse link.
Ainda que não se tenha a cidadania nem um contrato de trabalho, há formas de se sair do Brasil com os papéis que o permitam viver em outro país tranquilamente. A Juliana Silva, antiga colunista do Brasileiras Pelo Mundo, dá ótimas dicas para quem quer viajar em troca de hospedagem nesse link. Estudar no país escolhido é outra opção, ainda que a permissão de residência não signifique autorização para trabalhar. Há também países que incentivam a imigração e outros ainda que oferecem bolsas de estudos. Nesses links, por exemplo, há detalhes de bolsas de estudos na Europa, Austrália e Canadá, por exemplo, e são apenas uma mostra do que é oferecido. Basta buscar.
Evitem a formação de guetos: não fiquem presos à comunidades de brasileiros, mas interajam com outras nacionalidades, afinal uma das belezas em se sair do país é a possibilidade de conhecer pessoas e culturas diferentes. Se você morar com brasileiros e conviver só com brasileiros, como espera que essa integração aconteça? Por mágica?
Sair do Brasil é sair da zona de conforto. Sei que, muitas vezes, é muito confortável ter alguém que tem a mesma cultura que a nossa e eu, pessoalmente, tenho vários amigos brasileiros na Espanha. Mas tenho amigos espanhóis e, nas Filipinas, tinha amigos de diversas nacionalidades. A verdade é que carrego comigo uma frase que me disse uma amiga, quando cheguei na Irlanda e achava que todos os brasileiros seriam meus amigos: “não serei amiga de ninguém só porque é brasileiro. Aqui, sou amiga do mesmo tipo de pessoa que seria meu amigo no Brasil”.
Busquem informações sobre o país escolhido: se você está lendo esse texto e acompanha o BPM, já está no caminho certo. Mas buscar informações sobre o país também é ler as coisas não tão boas sobre o país escolhido e aceitar que, além da opinião do autor, outros países também têm defeitos – prometo que políticos corruptos e conservadores não são uma exclusividade do Brasil! Por exemplo, dia 26 de junho houve as segundas eleições presidenciais na Espanha porque, desde dezembro, quando houve a primeira, não foi possível formar alianças que permitissem a formação de um governo. Na Arábia Saudita, ao sair da bolha de estrangeiros, a mulher tem que usar a burka. Nos Estados Unidos, férias pagas não é algo obrigatório por lei, mas depende da boa vontade do empregador. Gente, não existe Shangri-la! O que existe são lugares onde nos sentimos bem.
Estudem o idioma do país escolhido: ou, no mínimo, saibam o inglês. Na Ásia, em geral, não se é obrigado a saber o idioma local. Na China, o governo local não obriga o imigrante residente a saber o mandarim, como já nos explicou a Christine Marote, e nas Filipinas tanto o filipino quanto o inglês são considerados idiomas oficiais, por exemplo. No entanto, em ambos casos, ninguém – ou um percentual mínimo – se comunicará em português; será mais fácil encontrar pessoas que falem inglês.
Na Europa, no entanto, a situação é diferente: para se conseguir um emprego, resolver problemas burocráticos ou mesmo para se integrar na sociedade, falar o idioma local é fundamental.
Saiam do país com economias suficientes para aguentar pelo menos alguns meses sem precisar trabalhar: a não ser que se saia do Brasil com um emprego garantido no exterior, não existem certezas;talvez haja um emprego, talvez não e se houver, não há garantias de que emprego será. Um pouco de choque de realidade, mas conseguir um emprego depende de uma combinação de fatores que inclui também a sorte.
Às vezes não é possível ter as economias necessárias, mas é importante ter ao menos dinheiro para a passagem de volta. Afinal, nunca se sabe o que pode acontecer e o consulado não é obrigado a pagar o seu retorno para o Brasil.
Respeitem a lei e os costumes do país de destino: na Irlanda, por exemplo, é proibido comprar bebida alcoólica em garrafas ou latas e consumi-la a uma distância de 100 m do lugar da compra; isso caracteriza uma infração. Em Cingapura, comer em transporte público pode dar multa e para o porte de qualquer tipo de drogas, em qualquer quantidade, a pena é de morte. Em algumas regiões da Espanha a tourada ainda é esporte tradicional. Ainda que não se concorde, é melhor aceitar. Dói menos.
Claro que você poder ter saído do Brasil sem ter feito nada do que eu disse e ainda ser bem sucedido, afinal cada um tem a sua história. Mas, essas são pontos que acho importante considerar porque emigrar nunca é fácil.
6 Comments
Olá Tati! Pretendo ficar um mês estudando espanhol em Madrid (março/2017), você pode, por favor, me dá umas dicas como pesquisar escolas de idiomas para estrangeiros?
Estou pesquisando as mais famosas que ficam no centro, porém os preços são bem altos.
Lugar pra ficar já tenho.
Obrigada!
Boa noite, Eri! Desculpe o atraso em responder a sua mensagem!
Infelizmente, a única escola que conheço é o Instituto Cervantes. Como não vim a Espanha estudar idiomas, não saberia sugerir escolas!
Mas boa sorte!
ola gostaria muito de esclarecimento..cheguei em Portugal 13/04/16 mas meu.passaporte recebeu.um carimbo de Madri ..Rj a Madri .a Lisboa com.esta data qual a possibilidade d mudar para Espanha a trabalhar e tentar.um.visto?
Olá Luciana! Não sei bem se entendi sua pergunta. Você veio a Europa como turista e agora quer vir a Espanha tentar encontrar um trabalho que dê visto?
Regra geral, quem vem a Europa com o visto de turismo não pode trabalhar. O brasileiro pode ficar em território europeu 90 dias a cada 180 dias; ultrapassado esse período, o brasileiro está em situação irregular. Olha, Luciana, vou ser bem sincera e dizer que estar em situação irregular não é algo que recomendaria e, portanto, não sei o que dizer da sua situação.
Pouquíssimas profissões na Espanha dão o visto de trabalho. Já escrevi sobre isso no meu texto que está nesse link: https://brasileiraspelomundo.com/espanha-o-mercado-de-trabalho-em-madri-461828380
Olá Tati,
Morei na Espanha quando pequena, sei falar o idioma local, tanto espanhol quanto catalão, e pretendo voltar para lá durante um ano a trabalho. Para esfriar a cabeça.
E tenho um tio que mora lá, será que consigo visto de permanencia por um ano?
Olá Ana Paula,
A Tati Sato parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas que moram na Espanha que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM