Como lidar com um aborto espontâneo na Nova Zelândia.
A vida, como um livro, tem muitos capítulos; alguns, engraçados, outros, com ar de suspense, muitos felizes; e alguns que fazem nosso coração ficar pequeno e o nó na garganta aparece.
Assim foi comigo. Dois dias após escrever o artigo sobre como foi minha experiência ao descobrir minha gravidez na Nova Zelândia, tive a imensa surpresa de ver novamente as duas linhas aparecendo no teste de gravidez. Desta vez muito mais inesperado, mas nem por um minuto menos querido.
No mesmo dia fui ao médico e tive a confirmação através de um exame de sangue que o bebê número 2 estaria a caminho. Fiquei feliz em saber que minha pequena teria uma pessoinha para dividir os brinquedos, as risadas e os carinhos.
Mas alguns dias depois comecei a sentir algumas cólicas, que achei totalmente normais, e a ter um sangramento; no mesmo instante me bateu uma preocupação. Depois de consultar o Dr. Google, imaginei que pudesse estar tudo bem.
Para ficar com a consciência tranquila decidi agendar outra consulta; a médica pediu outros exames de sangue para confirmar como estávamos evoluindo. Os resultados não foram promissores e a o hormônio da gravidez não estava aumentando como deveria. De acordo com as contas, a médica disse que ainda estava muito cedo para fazer um ultrassom e que eu deveria fazer mais exames de sangue.
Mais um final de semana estava chegando e claro que à noite as coisas sempre pioram. Eu não fugi à regra: na sexta à noite precisei ir ao hospital e mais uma vez me pediram para esperar.
Fizemos um ultrassom no início da semana seguinte e conseguimos ver o saco gestacional. Aqui na NZ o seu médico, LMC, deverá te dar um pedido de ultrassom e você poderá fazer o exame em qualquer clínica. Este serviço é parcialmente subsidiado pelo governo e você deve pagar em torno de 30 dólares neozelandeses por ele.
Uma semana se passou com dores e sangramento, até que tudo aumentou muito e, mais uma vez, fui ao hospital. Desta vez fui examinada por uma obstetra e encaminhada para um outro ultrassom, e infelizmente não pudemos mais ver a gravidez. Essa história já tinha acabado antes mesmo de começar direito.
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Fiquei triste, decepcionada, me senti culpada e mesmo com muitas pessoas – médicos, enfermeiras – me dizendo que não foi minha culpa, que em média 1 em cada 4 gravidezes irão terminar em aborto espontâneo, está sendo um processo de altos e baixos. Acredito que seja assim para a maioria das mulheres.
Se você está enfrentando uma situação parecida, você poderá conversar com seu GP (General Practioner) – médico(a) clínico geral, ou seu LMC, caso já tenha escolhido um. Muitas vezes você poderá ser encaminhada para a clínica do hospital, especializada em Early Pregnancy, Gravidez Inicial, caso seja necessário.
Dependendo do estágio da gravidez, o médico ou LMC poderá te indicar o melhor caminho a ser seguido, podendo ser:
- Aguardar para que seu corpo libere os tecidos fetais ou a placenta naturalmente
- Receitar um medicamento para que seu corpo deixe o processo natural acontecer
- Recomendar uma D&C – Dilatação e Curetagem, procedimento que poderá ser sob efeito de anestesia local ou geral, onde o médico irá remover qualquer tecido fetal ou da placenta do útero.
Qualquer que seja o procedimento tenho certeza de que você terá todas as informações necessárias e suporte aqui na Nova Zelândia. Se existir qualquer dúvida de que o processo ainda não foi finalizado, eles podem pedir um novo ultrassom para confirmar que seu útero está de volta ao normal e que não existe nada que causará uma infecção ou problemas no futuro.
Caso precise de algo, sinta-se à vontade para entrar em contato com o apoio a abortos espontâneos. Neste website você encontrará muitas informações valiosas sobre o que aconteceu, os motivos, como lidar com esta situação e até mesmo um modelo de carta para enviar para amigos, para que eles possam entender como você está se sentindo.
Para quem precisa de mais suporte, procure este grupo que lida com traumas pós aborto.
Se você precisa entender melhor este processo, posso recomendar alguns livros:
- Miscarriage: why it happens and how best to reduce your risks
- Miscarriage, Medicine and Miracles: everything you need to know about miscarriage
Não se isole. Eu sei que não é fácil, que existem momentos em que a gente preferia se esconder em uma caverna, e tudo bem, se não for o tempo todo.
Cada pessoa tem seu tempo, seu jeito. Não se sinta julgada e não fique se culpando.
Se quiser chorar, chore.
Se não sentir nada, não sinta.
Se não quiser dizer nada, respeite seu silêncio.
Se preferir contar para amigos e familiares, faça isso.
Cuide de você, talvez seja a hora de marcar aquela massagem, fazer as unhas, comprar aquele livro.
Se puder, tire alguns dias para se recuperar, viaje.
Escreva, divida sua experiência.
Plante uma árvore, faça o que precisa ser feito.
A dor irá ficar mais amena e dias melhores virão. E depois se dê uma nova chance, muitos capítulos lindos ainda poderão ser escritos!
4 Comments
Roberta, foi muito corajoso da sua parte falar a respeito desse assunto. Também já sofri um aborto espontâneo há quase 10 anos atrás.
Obrigada por dividir sua experiência conosco.
Abraços!
Oi Cristiane, obrigada pela leitura 😉 Achei que era uma forma de transformar esta experiência difícil em algo que pudesse ajudar outras pessoas. Abraço,
Olá Roberta,
fiquei emocionada com o seu relato. Espero que esteja tudo bem com vc agora. Apesar deste momento que machuca a alma, tenho certeza em breve vc escreverá um relato para comemorar a chegada de um bebê saudável e muito desejado.
Minhas melhores vibrações
Kelly 🙂
Oi Kelly,
Obrigada pelo carinho 😉