No mês passado contei um pouco sobre o Navratri – um dos festivais que acontecem aqui na India, e que é conhecido no mundo todo. Hoje vou falar sobre um outro festival que acontece em janeiro, e que é lindo de ver !!!
O festival é chamado de “Kite Festival” ou Festival da Pipa. Pelo nome, vocês podem imaginar como fica o céu cheio de pipas lindas e coloridas.
Como todo festival que acontece por aqui, esse também é uma festa religiosa – da religião Hindu – e seu nome de verdade é Uttarayan ou Makar Sankranti (Makar = Capricorn e Sankranti = transition). Ao contrário de outros festivais hindus, que sempre seguem o calendário lunar, esse festival segue o movimento do sol. Ele marca o começo da transição do sol no signo de capricórnio. É o único festival hindu com uma data fixa no calendário anual. Todos os anos, ele acontece dia 14 de janeiro. Para os indianos de todo o país, ele marca também o fim do inverno e o começo da primavera, significando deixar coisas ruins para trás e começar a nova fase com energias renovadas.
Percebo que esse movimento de renovação de energia, esperança e vida que nós costumamos fazer no nosso ano novo ocidental, aqui eles fazem em cada festival religioso, o que acontece em média a cada 2 meses. Esses festivais de alguma maneira sempre representam o fim de algum ciclo e início de outro, trazendo consigo novos caminhos e uma renovação.
Como já citei anteriormente, o Uttarayan é um festival celebrado em toda a Índia, mas sempre mais presente em algumas partes. E mais uma vez, o estado onde moro tem essa tradição muito forte. Esse ano será nosso terceiro “Kite Festival” aqui. No primeiro ano não sabíamos muito bem o que estava acontecendo, pois estávamos aqui há apenas 15 dias. No ano passado, fomos convidados por uma família indiana para passar o dia com eles, e já conseguimos sentir exatamente como é o festival. Esse ano, provavelmente, iremos novamente curtir o dia como os indianos.
Em novembro tivemos o “Diwali Festival”, que é uma espécie de Natal e Ano Novo deles, e que já foi descrito por outra colunista aqui do BPM. Assim que terminou o Diwali, já é possível ver nas ruas a movimentação para o próximo festival, que nesse caso é o de pipas. Esses festivais movem milhares de dólares por mês, e são uma fonte de renda para muitas pessoas, e de entretenimento para todas as outras.
Por volta de 2 semanas antes do dia do festival, já é possível ver nas ruas de todo o país, centenas de pequenas tendas vendendo pipas, balões de gás, e linhas para soltar a pipa, entre outros acessórios necessários para soltar o maior número de pipas possíveis no dia tão esperado. A 2 dias do festival, é impressionante a quantidade de vendedores ambulantes. Eles aparecem por todos os lados, oferecendo tudo que você possa precisar. E na noite que antecede a festa, os indianos passam comprando todos seus apetrechos … praticamente não dormem, emendando a noite com o dia seguinte, que começa bem cedo.
Você pode achar pipas dos mais variados temas, tamanhos e cores. Para as crianças pequenas, existem os balões de gás, que fazem as vezes das pipas. O que eu não me agrada muito é que as linhas são todas cortantes, o famoso “cerol” que temos no Brasil também, e que oferece risco às pessoas. Os motoqueiros nessa época do ano sofrem muito com o alto risco que correm diariamente.
Chegado o esperado dia, as famílias costumam se reunir nos terraços das casas e prédios. As famílias que possuem esses terraços os dividem com os amigos mais próximos e familiares. Logo cedo, todos se reúnem levando comidas, algumas típicas desse festival também, como um mix de feijão com vegetais, e um doce chamado “jalebee”. Carregam também outros tipos de comida, sucos, muita água e, acima de tudo, muita disposição. Apesar de ser inverno, durante o dia o calor é escaldante; alcança os 32 graus facilmente, e passar o dia no terraço sob o sol não é para qualquer um.
Durante todo o dia, o objetivo é soltar todas as pipas que você comprou e claro, cortar o maior número de pipas possível no céu. Existem torcidas nos terraços, e o mais interessante é que, apesar da competição, não existe um tom de agressividade na tarefa. Eles sempre levam tudo numa boa, considerando o fato de estarem juntos o evento mais importante do dia. À medida que vai anoitecendo, a parte mais bonita – e mais perigosa também – acontece: vários balões (iguais os nossos de festa junina) de vários tamanhos e cores vão ao céu, formando uma imensidão de pontinhos de luz que você pode ver de qualquer lugar da cidade. É lindo de se ver e muito emocionante!!!
Leia sobre Navrati, o festival da vida!