Ontem, dia 18 de agosto de 2017, aconteceu na Finlândia, na cidade de Turku, o primeiro ataque terrorista da historia do país.
Um jovem marroquino de 18 anos, que chegou à Finlândia em 2016, saiu pelas ruas do centro de Turku, ferindo a facadas oito pessoas e matando duas. As vítimas fatais foram duas mulheres finlandesas mas, dentre os feridos, há também pessoas de nacionalidade sueca, britânica, italiana, iraquiana e síria.
A polícia agiu rápido, em apenas três minutos, mesmo assim, vidas foram perdidas. O rapaz foi rendido com um tiro na perna, sendo imediatamente levado para o hospital. A princípio o caso foi tratado como assassinato, pois antes de uma investigação mais complexa não havia indícios concretos de um ataque terrorista. Hoje pela manhã, no entanto, por meio de um boletim, a polícia finlandesa oficializou que o ocorrido foi um ataque terrorista. Segundo a investigadora Christa Granroth, o atentado foi planejado e a ideia inicial era sacrificar mulheres. As vítimas do sexo masculino foram pessoas atingidas porque tentaram ajudar as mulheres no momento do ataque. De acordo com informações da imprensa finlandesa, há mais quatro suspeitos de participar do planejamento do crime. A polícia, no entanto, não confirmou essa notícia na entrevista coletiva dada hoje à tarde. Fonte para essas informações em língua finlandesa aqui.
Prudência e cuidado com as palavras são características fortes da polícia local, conhecida por sempre falar pouco; por isso, até 24 horas depois do atentado, as informações oficiais que temos são apenas essas que escrevi acima.
De acordo com o SUPO (Serviço de Inteligência e Segurança da Finlândia), o país é visto pelos grupos radicais islâmicos como um aliado do ocidente na coalizão contra o ISIL e há, inclusive, propaganda direcionada à Finlândia, em língua finlandesa, incentivando ataques. Segundo o Serviço de Inteligência, por conta do crescente aumento do radicalismo, espera-se que a situação piore e há um número considerável de simpatizantes do ISIL no país que expressaram desejo de participar de ofensas armadas e de receber treinamento militar, a fim de aliarem-se ao grupo.
Tenho consciência de que essa onda radical que assola o mundo não possui apenas uma face. Os culpados das coisas terem chegado nesse estágio são vários, de nacionalidades e religiões diversas e entender esse assunto demanda muita leitura de livros de história, de teses, de análises políticas e das relações internacionais. Não fecho meus olhos também para o fato concreto de que as maiores vítimas das vertentes radicais islâmicas são os próprios muçulmanos e que a crise de refugiados existe porque essas pessoas estão fugindo do radicalismo.
Mas também não posso negar os fatos e os perigos que enfrentamos. Há um número incontável de indocumentados que podem sim, ser extremistas infiltrados aguardando o momento de agir. Não há como não ter medo e isso é triste.
Tenho consciência de que o caos é gerado pela minoria, de que os radicais são a minoria, mas não há como fechar os olhos para o fato de que essa minoria está escondida e disfarçada de maioria e isso é sim, muito assustador. E depois de um ocorrido como esse, o que temos é uma situação de pânico geral e o terrível pensamento de que todo homem muçulmano é uma ameaça potencial. Pensar isso é horrível e triste, mas como é possível não pensar? Como frear esse turbilhão de sentimentos que têm sim, razão para existir?
O nível de ameaça em que o país se encontra é medido por uma tabela que vai de 1 a 4 sendo:
4- severa
3- alta
2- elevada
1- baixa
A Finlândia, por enquanto, está no nível 2 desta tabela.
De 2015 a 2017 estima-se que cerca de 32 mil pessoas tenham entrado na Finlândia na condição de requerentes de asilo. Um número considerável destes requerimentos já foi negado; muitos requerentes também desistiram e saíram do país espontaneamente, mas estima-se que um número entre 2 mil e 10 mil pessoas ainda estejam aqui, na condição de indocumentadas, escondidas e vivendo sabe-se lá como. Leia mais sobre isso aqui.
No site oficial do Departamento de Imigração é possível verificar as estatísticas das decisões por caso e por nacionalidade. Atente para o fato de que os números não se referem somente a pedidos de asilo, mas a diversas situações de vistos concedidos, por isso alguns números parecerão tão exorbitantes. Procure pela informação específica que você quer e não pelo número geral.
Termino deixando meus mais sinceros sentimentos aos familiares de todas as vítimas da violência, da maldade e da loucura que assola o mundo.
8 Comments
É bastante assustador o que aconteceu na Finlândia, um país extremamente liberal e de paz. Não tem nenhum sentido tais atos praticados contra pessoas que têm, até então tentado ajudar a melhorar a paz e a harmonia entre os povos. Amei o artigo, objetivo, suscinto e verdadeiro.
Muito obrigada pelo comentário e sim, é muito triste.
Parabéns pela redação. Infelizmente para falar de um assunto tão triste.
Muito obrigada, Adeana.
É chocante saber que ninguém, em nenhum país do mundo está seguro…estamos à beira da guerra aqui (hoje mesmo o Andreas perguntou se estávamos me guerra), meu bairro está cercado pelo exército e força nacional e a gente sempre pensa que alguns de nós, pelo menos os que moram em países mais civilizados, estão seguros. Que mundo é esse que estamos construindo/destruindo pros nossos filhos?
Patrícia,
Penso nisso diariamente: em que mundo nossos filhos viverão? Pior ainda do que isso é quando você teme até mesmo pela vida de seu filho. Que Deus nos ajude…
Cuidem-se muito, rezo por vocês.
O assunto embora seja bastante delicado e assustador, foi redigido de forma séria e sem sensacionalismo! Parabéns pela matéria e obrigada pelas informações nela contida. Digna de compartilhamento pelo texto claro e legivel e pela idoneidade das informações
Muito obrigada! Meu respeito e carinho sempre que algum membro da comunidade brasileira residente na Finlândia atesta sobre algum de meus textos. Um grande beijo.