Desde pequenas, nós mulheres, somos bombardeadas com informações do que é um relacionamento ideal. O conceito de relacionamento ideal muda de acordo com a idade, mas a raiz é, em sua grande maioria, a dos relacionamentos das princesas da Disney. Muitas usam estes relacionamentos como base até a vida adulta. Nestes relacionamentos a princesa fragilizada é salva pelo príncipe encantado e vai morar em um reino distante. Para muitas mulheres adultas este continua sendo a representação de seu ideal. Mas e quando a princesa não é uma mulher fragilizada? E quando o príncipe é na verdade um marido abusivo? E quando o reino distante é de difícil adaptação?
Conversando com uma grande amiga de adolescência, recém-separada, e trocando figurinhas, eu acabei fazendo a pergunta acima para ela: Você sabe o que você quer versus o que você não quer em um relacionamento? Esta pergunta surgiu porque quando ela se casou ela sabia exatamente o que queria no marido. Ja eu, quando casei, sabia exatamente o que eu não queria em um relacionamento. Com certeza o casamento dos nossos pais teve uma grande influência na nossa perspectiva tão diferente ao escolhermos os nossos maridos. Os pais dela estão casados até hoje, e são felizes seguindo uma fórmula que funciona para eles. Os meus pais se separaram, voltaram e se divorciaram no fim da minha infância e início da adolescência. Meu pai era uma peste. Minha mãe, submissa. Juntos foram muito infelizes. Não foram um exemplo que eu queria seguir. Ela sabia que queria um cara legal como o pai dela e eu sabia que queria alguém que não fosse como o meu. E também sabia que não tinha o mesmo temperamento submisso da minha mãe.
Meu intuito não é entrar em uma análise psicológica complicada, mas simplesmente analisar o porque de fazermos certas escolhas. E em nossos casos, de mulheres em casamentos multiculturais, que casamos com estrangeiros e que escolhemos morar fora, o impacto destas escolhas é amplificado por causa da distância da família e dos amigos.
Muitas mulheres têm todas as qualidades que querem em seus maridos idealizadas e, muitas vezes, acabam se esquecendo de analisar os defeitos com os quais conseguem conviver. Todas queremos um ideal de marido. A tendência que eu vejo em muitas brasileiras que se casam com brasileiros é de procurar um marido que seja popular entre os amigos, bonitos, fanfarrões. Mas será que estas são as características ideais para um bom marido e para um casamento duradouro?
O que eu mais queria era um marido bonito, inteligente, bem humorado e trabalhador. Mas muito mais do que querer isto, eu sabia o que eu não queria. Eu queria alguém que não fosse dominador, mal-humorado, preguiçoso, autoritário e dono da verdade. Eu sempre estive muito atenta a estas características. Eu poderia sublimar algumas das características que eu queria, mas não sublimei nenhuma das que eu não queria. Lógico que eu tive namorados com diversas das características que eu não queria em um marido. Mas não me casei com nenhum deles. Assim que os defeitos começavam a aparecer, o encanto desaparecia. Tenho clientes e amigas que tiveram experiências parecidas e que também fizeram uma lista das qualidades e defeitos aceitáveis e vejo que foi uma decisão acertada para todas nós.
Portanto, para que exista um casamento feliz e equilibrado é muito importante você saber o que quer e o que não quer. Sabe aquele cliché de que as qualidades que você mais gosta irão se tornar os defeitos que você não vai tolerar? É bem por aí. Porque se você focar em encontrar alguém cujas qualidades são superficiais, como beleza e popularidade, você não vai ter um pilar sólido para construir o seu relacionamento. É como construir um castelo de areia. Uma hora vai ruir. Mas se você construir o seu casamento em cima de valores morais e qualidades realmente importantes, a base será solida e o casamento será muito feliz.
Mais do que qualquer outra pessoa, nós, que casamos com estrangeiros precisamos desta base sólida. Porque quando partirmos para o nosso reino distante, teremos que contar somente com o nosso príncipe, principalmente depois que o período de lua de mel acaba. Pesquisas indicam que o primeiro ano de casamento é o mais difícil. Em nosso caso, um ano equivale praticamente aos primeiros sete anos de um casamento dito normal. E só a partir do primeiro ano de coabitação que você passa a conhecer de verdade o seu marido e ele a você. Vocês tem que conviver com parte de suas qualidades e defeitos e aceitá-los. As outras qualidades e defeitos você irá conhecer depois que tiver filhos, mas é bom que até lá já se tenha uma boa ideia de quem seja, de verdade, a pessoa com a qual você escolheu se casar.
Eu não acredito que a gente tenha o poder de mudar o outro, mas eu acredito muito que a gente tem o poder de mudar como a gente reage ao outro e a situações evitando assim muitas brigas desnecessárias. Conhecendo bem os defeitos e qualidades do outro aprendemos como lidar com ele e como agir para que não hajam conflitos. Também temos que fazer uma bela reflexão e aprender enxergar as nossas qualidades e defeitos. Assim como eu sugeri fazer uma lista com as qualidades e defeitos do parceiro devemos fazer também a nossa lista da maneira mais honesta possível. Devemos usar a nossa lista para tentar melhorar a nos mesmas, esta sim é a mudança a qual somos capazes de fazer. Conhecendo melhor a nós mesmas e aceitando os nossos defeitos e os dos nossos companheiros estaremos a caminho de um relacionamento feliz e cheio de respeito mútuo. Afinal, temos que nos lembrar sempre de que ninguém é perfeito.
4 Comments
Cissa,
Adorei seu texto.
Parabéns!
Beijinhos,
Lili
Obrigada, Lili!! Bjs
Muito bom Cecilia!!!
Suas palavras me ajudaram muito 🙂
beijo grande!!
Que bom que eu pude ajudar, Ingrid! Qualquer coisa e’ so chamar! Beijos