Mudar para um outro país para muitas pessoas é um sonho. Estudo, trabalho ou um amor estrangeiro são alguns motivos que nos levam a viver longe de casa. Para alguns, torna-se possível; para outros, não! Mas, com certeza, o maior passo é a decisão de partir para longe. Em tempos passados, em famílias de posse ou em histórias de livros, novelas e filmes poderia até acontecer o contrário, mas, atualmente, não se ouve falar de pessoas mandadas para internatos ou colégios suíços. Então, a decisão será sempre pessoal e intransferível.
Mas, toda escolha tem seus prós e seus contras. Tem lá suas vantagens, porém, pode estar repleta de desvantagens. E uma desvantagem é o fato de você estar sozinha, caso a mudança não seja com toda a família. E, quando se vai só, deixando para trás família, gostos, sentimentos e costumes, se torna ainda mais difícil. Muitos sabem do que estou falando. Se os familiares são altruístas e amáveis, procurarão ocultar a própria tristeza, dizendo que a felicidade dos filhos, irmãos, netos, é também a felicidade deles. Mas é natural que a distância que estão sendo submetidos não será fácil de enfrentar.
Inevitável será o sentimento de culpa, não será sempre possível voltar para casa quando a saudade bater. Por exemplo: uma ligação de alguém que em casa não se sentiu bem pode trazer muitas preocupações para quem está longe, principalmente porque não se pode verificar a seriedade da situação. Fazer escolhas se torna necessário e às vezes muito difícil, como: torno para casa para o aniversário de matrimônio dos meus pais ou para a formatura da minha melhor amiga?
E não se iluda, o espetáculo da vida continua… vários eventos emocionantes acontecerão sem a sua presença como o casamento dos seus amigos, o nascimento de crianças e festas badaladas. Provavelmente, muitos destes belos momentos serão perdidos.
Um duro efeito colateral é a solidão e a sensação de vazio e isolamento. Afinal, viver em um país estrangeiro, com hábitos alimentares, estilos de vida distintos e diferenças climáticas, longe da família e dos amigos é uma dura prova. Leva tempo para construir relações com significado. Então, quando você mora no exterior, você vai inevitavelmente passar muito tempo com pessoas divertidas, agradáveis e simpáticas, mas com quem você não compartilha memórias e histórias ainda. É como estar de volta no primeiro ano de universidade, só que desta vez em um país muito longe das pessoas que ama. O tempo é sempre o melhor remédio para curar a solidão.
Outro efeito colateral é a sensação de não ser inserido totalmente no novo país. Viver no exterior e conhecer novos lugares, ou novos estilos de vida nos porta a adquirir novos hábitos, a mudar as nossas próprias convicções, a descobrir novas paixões e objetivos. Isto certamente é positivo do ponto de vista pessoal, mas ao mesmo tempo é uma forma de se desprender das próprias raízes e muitas vezes nos sentirmos um peixe fora d’água.
Aos poucos vamos nos transformando como os nativos da nossa terra escolhida. Começamos aprendendo a língua local, procurando entender as conversações e, com o passar do tempo, já sabemos em qual supermercado se encontram as melhores ofertas, os horários das lojas preferidas, os parques mais arejados para levar as crianças em uma tarde ensolarada.
Uma das coisas que pessoalmente aprendi vivendo no exterior é que a um certo ponto você para de esperar que as coisas aconteçam e aprende a valorizar cada momento. As experiências e as lembranças são mais importantes que os bens materiais, o processo de adaptação nos ajuda a descobrir outros aspectos de nós mesmos, sobreviver e crescer fora da nossa zona de segurança nos ajuda a enfrentar todos os obstáculos que a vida nos coloca, e a sensação de se sentir em casa em um lugar totalmente diverso de onde nasceu é uma bela vitória. Sentir-se parte de uma nova cultura é uma sensação emocionante.
Além da saudade e de todos os efeitos colaterais de viver longe de casa, existem aspectos positivos desta experiência: estando longe da família, tomar decisões para o próprio futuro se tornam mais simples, fazer amizades será crucial – afinal os amigos serão a família no país estrangeiro. Se aprendem coisas novas de pessoas muito diferentes de você, se aprende a pedir ajuda e se descobre que a maior parte das pessoas são felizes de dar uma mão. Se desenvolvem habilidades importantes na vida, as quais uma aula de escola ou trabalho do país de origem não poderiam nunca ensinar. Se começa a sentir cidadão do mundo, viajar se torna uma questão de ser flexível, a família passa a ser prioridade na lista pessoal. Se reforça a autoconfiança porque você é responsável por você e ninguém mais, as competências linguísticas melhorarão, se adaptar a novas situações é questão de sobrevivência e é mais fácil aceitar que nem sempre as coisas acontecem como o planejado.
Enfim, realmente a vida é uma questão de escolhas. Muitas pessoas se sentirão em culpa por terem partido e outras com remorso de terem ficado, o famoso trem perdido. Certamente, ao longo do caminho, longe de casa, muitas coisas podem dar errado, mas tudo isto serve de aprendizado no livro da vida. Felizmente, muitas pessoas são felizes na estrada escolhida. A diversidade de cada um faz ser impossível existir um único conselho e é justamente por isso que compartilhar experiências é um ponto útil de reflexão para elaborar individualmente cada experiência de vida.
Leia como me sinto em ter deixado o Brasil!
4 Comments
Concordo com tudo que você falou. Mudar é quase que é um caminho sem volta para esses questionamentos mesmo. Se a gente volta vai sentir falta das coisas boas de estar no extrangeiro e se fica continuará com tudo isso que você comentou. A solução é aceitar mesmo cada escolha e as suas consequências. Um beijo!
Olá Julia, também sou de acordo que cada experiência vivida nos mostra as consequências das nossas próprias escolhas.Beijo!
Puxa Raquel, que texto! Amei ler cada parágrafo. Vc pôde por em palavras varios sentimentos que são tão reais e verdadeiros…! O que mais me tocou foi esse trecho:
“a sensação de se sentir em casa em um lugar totalmente diverso de onde nasceu é uma bela vitória. Sentir-se parte de uma nova cultura é uma sensação emocionante.”
Muito verdade!! Obrigada pelo texto lindo compartilhado.
Oi Ana Laura,fico feliz que os meus sentimentos sinceros traduzidos em palavras tenham te tocado. Um beijo !