Dando continuação as entrevistas com Profissionais Pelo Mundo, o blog vai apresentar a Rose Chamberlain, Terapeuta Nutricional Naturopata. A Rose é paulista e mora na Inglaterra há quase 14 anos, com o marido inglês e um casal de filhos de 12 e 5 anos.
Rose mudou-se para a Inglaterra no final de 2001 onde descobriu sua paixão pela gastronomia e mais tarde pelo poder da cura através dos alimentos. Especializou- se em Culinária Saudável em 2010 fez um curso de terapia Detox. Entre Outubro de 2011 e 2014 atendeu ao curso de Nutrição Naturopata no College of Naturapathic Medicine em Londres. Rose usa a terapia Detox e a Nutrição Naturopata como ferramenta de suporte para prevenir e combater os processos degenerativos do envelhecimento e para preparar e fortalecer o organismo de pacientes com câncer antes, durante e após tratamento quimioterápico e cirúrgico.
BPM – Como tem sido a sua trajetória profissional?
Rose – Eu resolvi mudar de carreira aos 35 anos. Já vinha trabalhando com cinema por 10 anos mas não estava satisfeita. Resolvi investir numa outra área. Eu aprendi o b a ba’ da cozinha ainda muito jovem. Mas assim que comecei a trabalhar fora eu desisti de cozinhar e fiz questão de esquecer isso completamente. Eu só fui voltar a cozinhar aos 28 anos quando engravidei do meu primeiro filho. Já estava morando na Inglaterra e adorava assistir esses programas de chefes como Jamie Oliver, ao mesmo tempo eu comecei a me interessar por comidas mais saudáveis. Me matriculei num curso de chefe profissional e padaria/confeitaria e em 2011 comecei o curso de nutrição. Eu comecei a trabalhar como chefe, mesmo antes de acabar o curso. Comprei um café e um negócio de catering ( buffet?) em Luton, onde moro.
Em 2011 comecei o curso de nutrição e ai fui adaptando minha culinária. Aplicando os novos conhecimentos no meu dia a dia. O curso do CNM- College of Naturopathic Medicine é muito interessante. No primeiro ano você aprende biomedicina. No segundo ano você começa a estudar nutrição, mas também começa a observar pacientes e aprender mais sobre patologia. No terceiro ano começamos a ver pacientes enquanto somo observados por um terapeuta supervisor.
No meu primeiro ano descobri que uma amiga muito querida estava com câncer. Assim que soube fui vê-la e me ofereci para fazer algumas sugestões. Ela estava disposta a encarar uma mudança alimentar e como ainda não podia prescrever suplementos, fiz uma pesquisa e pedi apoio aos meus professores. Montei um programa para ela seguir e por dois anos trabalhamos juntas, dando suporte ao organismo dela para melhor lidar com o tratamento. Ela passou por 3 cirurgias, várias sessões de quimioterapia, mas o organismo dela sofreu muito menos com o processo. Não perdeu o cabelo, perdeu pouquíssimo peso, teve pouca náusea e o mais importante, o corpo dela em combinação com o tratamento médico, ajudou a combater a doença e hoje ela vive sem câncer. Poder ajudar alguém que gosto muito, num momento tão difícil e inserto foi imensamente gratificante e me fez acreditar ainda mais como a nossa relação com aquilo que nos alimenta e a qualidade do que escolhemos comer e fundamental.
Em 2013 comecei a unir meu trabalho como chefe e os conhecimentos de nutrição, então passei a ministrar workshops sobre envelhecimento saudável e alimentação naturopata. Em dezembro de 2013 fui convidada para dar uma palestra em um Simpósio sobre combate ao envelhecimento no Rio de Janeiro e desde março de 2014 trabalho como chefe naturopata num retiro estilo boot camp para pessoas que querem perder peso.
BPM – Como é a sua rotina. A que horas começa a trabalhar e qual é a sua carga horária?
Rose – Desde que terminei o curso de nutrição, divido meu tempo entre atender pacientes pessoalmente ou pelo Skype, dou aulas de culinária saudável e uma vez por mês trabalho por uma semana, no retiro de boot camp na Inglaterra ou em Málaga na Espanha. Tenho trabalhado mais em casa para conciliar minha carreira com a minha vida doméstica. Acordo as 6.30am para arrumar as crianças para escola e tento marcar minhas consultas e compromissos entre 9am e 2.30pm. Três vezes por semana pratico yoga quente e estou planejando fazer o curso para professora daqui um ano.
Em junho desse ano fui aceita pelo Centre for Nutrition Education and lifestyle Management para cursar um mestrado em Nutrição Personalizada, começo o novo curso em janeiro do próximo ano. Fiz a opção por fazer o curso part time. Vou estudar por dois anos, uma vez por semana e pretendo no futuro me dedicar a pesquisa nessa área. Estou ativamente procurando outros trabalhos na área e tentando desenvolver alguns projetos na minha comunidade em Luton. Há dois meses me tornei embaixadora da campanha Food Revolution da instituição criada pelo chefe Jamie Oliver.
BPM – Quais as diferenças da sua profissão, se houverem, entre o Brasil e a Inglaterra?
Passei sete meses no Brasil entre outubro de 2014 e Abril de 2015. Fui fazer uma pesquisa de campo para ver se havia a possibilidade de desenvolver minha prática por lá e eventualmente retornar com a minha família. Vi alguns pacientes e tentei desenvolver alguns projetos, mas infelizmente não obtive muito sucesso. Meu diploma não é reconhecido no Brasil. Aliás, quase ninguém sabe o que e naturopatia por lá. Para completar minha falta de sorte a economia do país estava começando a despencar e pagar uma consulta com uma nutricionista ou fazer um workshop sobre alimentação saudável ainda é visto como artigo de luxo. Também tive muita dificuldade de me reajustar à cultura. Depois de viver tanto tempo no Reino Unido, foi difícil encarar a falta de educação e civilidade que ainda impera no nosso país. Descobri que no Brasil todo mundo além de técnico de futebol e presidente da república, são também nutricionistas. O desrespeito foi geral. Todo mundo acima do peso, pré-diabético ou já diabético, com pressão alta ou com problema de tiróide, mas certos que essa estória de comer saudável é balela. Que criança tem que comer doce sim e que se acabar na cerveja, cigarro e churrasco é recompensa digna para quem trabalha de segunda a sexta.
Não posso tirar a razão de que a vida no nosso país está cada vez mais sofrida, mas comida não deveria ser vista como recompensa e principalmente alimentos que não trazem nenhum ganho nutricional para o nosso organismo. Entretanto, nem tudo está perdido e percebo que existe sim um movimento interessante acontecendo no país. Nos últimos quatros anos aumentou muito o acesso a produtos saudáveis nas redes de supermercados e lojas especializadas. Ser nutricionista e chefe virou moda e figuras públicas como Bela Gil estão fazendo um trabalho admirável. Mas o Brasil é monstruoso de grande e infelizmente as camadas mais pobres acabam sendo, sempre as mais sofridas e hoje as mais doentes.
Na Inglaterra a concorrência também é grande, mas o trabalho de conscientização da população já vem sendo feito a mais tempo e o acesso a uma alimentação mais saudável é bem maior. Por exemplo, tentar comprar uma fruta numa lanchonete ou bar nas ruas do Brasil é quase uma missão impossível. Pela primeira vez, no começo desse ano, vi em São Paulo, uma lanchonete um pouco parecida com um Pret a manger. Mas na sua maioria, se quiser comer na rua, só conseguimos achar empanados e salgados fritos. Essa é uma questão social e cultural que vai levar tempo para ser modificada.
BPM – Que cursos você recomendaria para as brasileiras que queiram ingressar na mesma profissão e seguirem carreira, na Inglaterra?
Rose – Gosto muito do formato do curso da CNM – College of Naturopathic Medicine. Não somente porque apresenta um curso misto de teoria e pratica, mas principalmente porque seguem os princípios da medicina funcional, integrativa e multidisciplinar. Aprendemos a analisar o paciente como um todo, de forma holística. Somos direcionados a trabalhar em conjunto com outros terapeutas de forma multidiciplinar. O curso nos ensina a investigar as verdadeiras causas por trás de cada sintoma. Os cursos na CNELM também são muito bem vistos e os professores bem-conceituados no campo de nutrição funcional e integrativa aqui no Reino Unido.
BPM – Qual a média de salários, para uma pessoa iniciante e já no topo da carreira?
Rose – Uma nutricionista no começo de carreira pode ganhar entre £19.000 a £28.000 por ano, trabalhando 40 horas por semana. Se tiver outras qualificações, assim como os profissionais envolvidos com pesquisa chegam a ganhar entre £40.000 e £55.000 por ano. Mas essa é uma carreira que lhe dá a possibilidade de ser um profissional liberal e cada um tem a oportunidade de desenvolver sua prática como quiser e começar seu próprio negócio. É uma carreira gratificante e com a possibilidade de bons ganhos. Mas é também uma carreira para quem gosta de estudar, as descobertas na área de nutrição são muito dinâmicas e a cada dia descobrimos novos conceitos ou desmistificamos outros. Assim não dá para ficar parada e temos que estar constantemente nos atualizando, lendo, pesquisando e fazendo novos cursos.
BPM – Qual seria o aspecto mais positivo e o negativo (se houver) de ser profissional na sua área, na Inglaterra?
Rose – O aspecto mais positivo da minha carreira aqui na Inglaterra é o fato deu poder exercer minha profissão e ter acesso a diferentes produtos, culturas, estudos, cursos e tecnologias. O lado negativo, não e assim tão negativo, mas sim irritante, é o fato que uma pessoa pode ir na internet e comprar um curso de £99 que dura 5 horas, receber um certificado, tirar algumas fotos de comida e começar a se intitular nutricionista. Ao mesmo tempo profissionais como eu, que pagaram £15.000, estudaram por 3 anos para obter um certificado, e acabam ficando no mesmo pote.
Esse aspecto do modismo de ser “chefe e nutricionista”, eu não gosto e não acho justo e o Brasil está indo no mesmo caminho. A moda era ter blog sobre fashion, agora é nutrição.
Acho fantástico o fato de que está aumentando a conscientização sobre a importância do que escolhemos como alimento, mas não gosto do modismo. A busca por uma alimentação mais saudável é um desafio diário, um processo para a vida inteira. O alimento saudável não vai somente ter um impacto tremendo no nosso organismo, mas vai e deve refletir e reverberar no planeta inteiro. Na forma como praticamos a agricultura e pecuária, no desmatamento das nossas florestas, na indústria de massificação e industrialização alimentar, no sistema de saúde pública e seu orçamento, na maneira como lidamos com o lixo produzido e no excesso desenfreado de produtos supérfluos. A questão é muito mais ampla que só um corpinho sarado e turbinado de proteína para mostrar no Instagram.
Ser saudável é estar em conexão com seu corpo, mente e espírito. É cuidar do seu ambiente interno e externo. É respeitar o seu corpo e o planeta que habitamos assim como devemos respeitar uns aos outros. Essa é a minha prática e a mensagem que tento passar para os meus pacientes.
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3 Comments
Qual passo a passo para uma nutricionista formada no Brasil trabalhar na Inglaterra? É reconhecido o curso?
Estou me graduando em nutrição pela UFPI, e gostaria de saber se o curso é reconhecido na inglaterra.
Obrigada
Estou terminando minha graduação de nutrição ano que vem ,porém já sei que precisa reconhecer o diploma e fazer uma especialização para atuar no país. Gostaria de saber se informação procede. Obrigado