A vida da mulher expatriada.
A maioria das mudanças internacionais das mulheres brasileiras é em função da família. Seja para a acompanhar um parceiro amoroso seja para buscar melhores condições de sustentar os filhos, geralmente as mulheres estão pensando em outras pessoas quando encaram tamanha mudança. Pensam também nos que ficam.
Vários estudos já mostram que as mulheres assumem majoritariamente a carga de responsabilidade pelo bem estar dos membros mais dependentes da famíla. E, no entanto, algumas ousam se afastar.
Os parentes mais idosos são alvo de preocupação – agora que elas vão morar tão longe, quem se ocupará deles no caso de uma emergência de saúde, por exemplo? As mulheres encaram as cobranças e as torcidas ambivalentes – “mas você vai levar meu neto pra longe de mim?”. Encaram as novas responsabilidades – “não deixe as crianças perderem a língua materna, olha a importância do bilinguismo!”. Encaram as demandas do amor – “essa mudança é muito importante para a carreira dele, tenho que apoiar!”.
Muitas mulheres expatriadas lidam com as ambivalências dessa nova vida, tentando aproveitar as oportunidades pessoais e profissionais que aparecem para si, mas também esforçando-se para corresponder as expectativas dos outros, assumindo o papel de cuidadoras e agregadoras familiares principais.
Essa posição não é fácil. Escutei numa das entrevistas que fiz para minha pesquisa com mães expatriadas que é comum os conterrâneos não entenderem que a expatriação também traz conflitos e sofrimentos nunca antes experimentados. As pessoas geralmente encaram essa mudança como sinal de sucesso, aventura, crescimento, e não entendem que também é um enorme desafio – não é só a saudade que faz sofrer, mas muitas vezes é a dificuldade de recomeçar a vida sem abrir mão das responsabilidades que já tinha no país de origem.
Talvez seja exatamente por esse motivo que não é incomum encontrar mulheres optando por diminuir drasticamente o contato com a família no Brasil após a mudança. Pois, nesses casos, elas sentem-se excessivamente cobradas e incompreendidas por quem ficou do outro lado da telinha do skype…
E se você está nessa posição agora, ou se está sentindo-se muito cansada por tentar conciliar a construção de um projeto pessoal de imigração e manter a família unida (ou o parceiro satisfeito), pare um pouquinho para respirar ao ler esse texto. Antes de entrar em crise e pensar em desistir da sua realização pessoal, ou decidir-se romper de vez os laços que deixou no Brasil, há algumas estratégias que você pode desenvolver para encontrar um caminho mais tranquilo.
A primeira estratégia é perceber quais são os seus limites. A responsabilidade por cuidar e agregar os familiares é advinda não só da necessidade, mas de uma crença machista, aquela que diz que as mulheres nasceram para isso, que homens não sabem cuidar porque são naturalmente egoístas. Infelizmente, há famílias em que os homens realmente se ausentam dessa função. Mas a partir do momento em que você, mulher, deixa claros os seus limites, ninguém poderá exigi-la mais do que realmente pode dar. Nem você mesma.
E não se engane, por mais esforço que você fizer, as exigências alheias podem simplesmente não acabar. Alguns parentes até exigem inconscientemente uma “compensação” por terem ficado enquanto você está vivendo seu sonho. A chegada e a saída de membros da família sempre mexe de alguma forma com a estrutura familiar. Encarar a saída de uma das pessoas mais “agregadoras”, por exemplo, pode gerar uma crise que vai demorar para ser resolvida. E não é você quem vai conseguir fazê-lo de longe.
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Confie nos seus, confie nas pessoas de quem você cuidou e com quem você se importa tanto. Diante das necessidades, elas vão desenvolver sua própria maneira de se reorganizar, e isso pode ser muito positivo. Se você achar necessário conversar sobre isso para acalmar os ânimos, fale, deixe claro que sua nova vida agora demanda uma energia muito grande num outro projeto, outra direção, e que se os limites de cada um forem respeitados, as relações poderão se manter com muito mais amor e longevidade.
A segunda estratégia é a seguinte: dê um tempo para si. A realidade nos impõe prazos, é verdade. Diante de uma grande mudança, os custos financeiros não podem ser ignorados. Mas antes de decidir-se definitivamente sobre seu novo projeto de vida, experimente viver um pouco sem urgências no novo país. Depois de pelo menos um mês de ambientação, pare para refletir sobre aquilo que gosta, que sonha, que poderia fazer a partir de então. Isso inclui a vida profissional, mas também projetos como engravidar e casar, por exemplo.
Uma mudança internacional pode ser também a oportunidade de mudar completamente a carreira ou de assumir um compromisso mais estável com alguém – de definir novos marcos para a vida. Mas, não faça isso por causa de outras pessoas. Antes, tente encontrar sua própria “voz”. Escrever diários, blogs, cartas íntimas pode ser uma ferramenta interessante. Quando escrevemos, muitas vezes, encontramos uma voz interior que ficou adormecida no meio das demandas dos outros.
Muitas pessoas, mesmo homens, precisam de ajuda para se adaptar durante a expatriação. Por mais felizes que estejam, por afinal realizarem um sonho, podem sofrer com os conflitos que aparecem entre a antiga e a nova vida. Atravessar fronteiras é sempre um marco importante, principalmente quando se deixa pessoas queridas para trás. Então, se necessário, não hesite em procurar ajuda de um/a profissional.
1 Comment
Carolina,seu texto veio em otima hora…realmente alterar nossa vida e deixar pessoas,rotinas e habitos para tras nao é tao facil como muitas pessoas acreditam.E voce tem razao,é importante aceitar nossos limites (familiares e pessoais) e dar um tempo para que as coisas se ajeitem.Um abraço.