Bucareste me recebeu na primavera. Cheguei numa tarde fresca e ensolarada de abril, depois de umas 20 horas entre voos, aeroportos e conexões. Cheguei cansada e curiosa. Feliz por, finalmente, juntar-me ao meu marido que aqui já estava havia dois meses. Mas cheguei ainda ignorante, sabendo apenas um pouco mais do que o absoluto nada de conhecimento que possuia sobre esta cidade e país, antes de decidir que para cá mudaríamos.
Foi isso mesmo: até a decisão ser tomada, o conhecimento era nulo, nada além do banal: tratava-se da terra do Drácula e também dos ciganos, tinha um passado comunista marcante e se localizava na região pobre da Europa.
Pois é, uma vez mais, mudamos em razão do trabalho dele. Já passamos pela África do Sul, Suíça e Estados Unidos. Por 10 meses, fizemos um pouso no Brasil e agora seguimos para este leste misterioso.
E já que comecei pelas coordenadas geográficas do “mistério”, não custa nos situarmos na enrolada geo-política local. É que a Romênia, penso, tem um perfil híbrido no meio dos tantos tratados de união e cooperação europeia, causando um pouco de confusão para gente que, como eu, não sabe muito sobre o assunto.
Só para situar, eles entraram na UE em 2007, mas não fazem parte do zona do Euro e ainda não foram aceitos como membros do Tratado de Schengen – o que significa que os cidadãos romenos – e vice-versa – precisam de passaporte para sair da Romênia em direção aos outros países europeus que assinaram o tratado. Nós, brasileiros, quando chegamos por aqui como turistas, entrando, como de costume, por um país do Schengen, apesar de não precisarmos de visto prévio, nem no país membro do Schengen, nem aqui, passaremos pela imigração e controle de passaportes duas vezes: uma no país de entrada (já que não existe voo direto ligando a Romênia ao Brasil) e a outra na Romênia.
E como viemos parar aqui? É o que todos nos perguntam, sendo a resposta, uma só: a Romênia cresce e enriquece. E esse crescimento ofereceu uma oportunidade de trabalho que a crise no Brasil tirou. Checamos as fontes e a informação procedia. De fato, a previsão de crescimento econômico para 2016 é de 4.1%, dando continuidade a um período de pujança recomeçado após a crise de 2008.
Cresce e traz para ela certo contigente de mão-de- obra qualificada, muito embora deva ser dito que um bom número de romenos provenientes de diferentes indústrias e níveis de qualificação continue a imigrar para o resto do continente. Mas, voltando à gente que chega, vamos conhecendo, aos poucos, essas figuras. Descobrimos que estão aqui há 5, 10, 15 anos. Eles vêm, sobretudo, do resto da Europa desenvolvida e, quando questionados se querem voltar, a resposta é sempre a mesma: não! Bucareste, parece-me, cativa.
Será que também vai me cativar?
Ainda é cedo para essa resposta, mas, não posso negar, já vejo nela esse potencial envolvente.
É que ainda faço cerimônia, entende?
Sempre que chego em país novo, país onde preciso assentar acampamento, faço uma certa cerimônia. Ajo tal qual visita observando e respeitando os modos dos donos da casa para, só assim, aprender como agir de forma a não agredir nem a mim, nem a eles.
Não, não temos intimidade, eu e Bucareste, mas nesse pouco tempo de acolhida, ela começa a me conquistar com as promessas de seus parques infinitos e verdes, espalhados pela cidade a fora; dos seus terraços regados a limonadas adoçadas com mel e vinhos da terra, rosês e gelados; da inquietude cosmopolita de seus restaurantes recheados por expatriados e locais que já ganharam o mundo, à quietude camponesa dos mais simples, vendendo flores nas esquinas das ruas, amarrando os cabelos com lenços presos atrás do pescoço – pausa para falar da gente de Bucareste, de toda a gente, dos restaurantes às esquinas: como não lembrar dela?, é do tipo calorosa, que olha nos olhos e sorri de volta – da arquitetura – eclética – que conta a quem estiver disposto a ler em suas construções e estilos um tanto da história percorrida por essas ruas.
Sim, é cedo, mas não dá para esquecer de que ela me recebeu com flores. Que outra senão uma anfitriã muito gentil recebe uma recém-chegada com flores? Aos montes, pencas e pencas, mares de rosas, de todas as cores, florescidas nos primeiros dias de calor dessa ainda primavera.
MERSI, pelas flores, é a minha resposta a Bucareste, o meu “OBRIGADA” em romeno, que tem raiz latina, escrito com “S” na mesma palavra que em francês se faz com “C”.
Sigo fazendo cerimônia, sigo observando para saber como agir, mas como percebo que podemos, Bucareste e eu, terminar boas amigas, ja faço, para vocês, um convite: venham comigo tornar-se amigos dela também. Vamos juntos descobri-la, desvendando o que tem por trás dessa terra de gente sorridente.
Vamos aprender o que conta a sua história, quais são suas tradições, seus costumes e modos. Vamos entender o que os enriquece, pelo que lutam e o que desejam.
A Romênia é o meu mais novo – e adorável – mundo novo. Que por trás dessas linhas, ela possa ser o seu também!
19 Comments
Lindo artigo! Mal posso esperar para saber mais sobre Bucareste 🙂
Obrigada, Pollyane! Logo tem mais! Abraço, Cristina
E Criatina Hélcias mais uma vez me encanta com suas palavras, escreve de uma maneira tão maravilhosa que após este texto de hoje a vontade é já ir conhecer esta Bucareste apresentada, breve e extraordinariamente através dessas linhas!
Excelente texto, Cristina! Meu filho também esteve por aí e me falou maravilhas da Romênia. Qualquer dia dsembarco por estas paragens!
Obrigada, Luciana! Tenho certeza que vai adorar!
Adorei o texto prima! Acho que muito em breve estarei comprando numa livraria a coletânea de suas experiências de viagens
Bjs
Sucesso para vocês aí e poste tudo sobre o país para nós hahaha
Pode deixar! 🙂 Obrigada, Brenda!
Cristina
estou indo a passeio em Romenia, em maio/2017, e estou interessada em um guia de turismo com idioma em portugues, Sera que conhece algum ?
obrigada
Darci
Oi Darci, por quais cidades passará?
Muito interessante ler um pouco sobre a Romênia, e muito bem escrito o seu texto! Adorei! Boa sorte pelas terra romenas e sucesso. Abs
Olá Cristina
Estou conhecendo um pouco mais da Romênia com os seus textos. E como pretendo conhecê-la em breve, gostaria de saber se você indicaria algum guia que fale português.
A ideia é chegar em Bucareste, passar por Brasov e Shighisoara.
Fico muito grata se puder contar com sua ajuda
Oi Marcia, fico feliz em saber que tem descoberto mais sobre a Romênia através dos meus textos. É um país lindo que merece ser melhor conhecido. Deixo aqui o e-mail da Madalina Cristina. Ela é romena, fala português e poderá ajudá-la como guia: nidelea.cristina@yahoo.com. Espero que ajude! Abraços, Cristina
Muito, mas muito obrigada mesmo Cristina
um abraço
Estou chegando em setembro para morar aí, muito bom ler suas impressões. Mersi.
Cu plăcere, Tatiana! Seja muito bem-vinda!
Ola meninas!! Estou indo para romenia para 5 dias de viagem e pensei em contratar um guia na transilvania. Voces indicam algum que fale portugues?
estou adorando os posts e estão me ajudando muito no meu roteiro 😉
bjs
Olá Andreia, fico feliz que os artigos estejam ajudando no seu roteiro. Deixo aqui o contato da Nidelea: nidelea.cristina@yahoo.com, elaé romena e fala português. Abraços
Olá Cristina,
Encontrei seu link no blog da Polly e aqui estou! Também sou advogada e estou com viagem marcada entre abril e maio,por 34 dias, e a Romênia é parte do roteiro. Nunca estive aí e, como vc pode imaginar, tenho mil planos e mil e tantas dúvidas pq as informações sobre o país ainda são muito breves e esparsas. Será que vc poderia me dar umas dicas?