Fui convidada pelo BPM a escrever um artigo sobre o tópico mais falado atualmente em medicina: o vírus Zika. Nosso amado Brasil tem sido exposto diariamente pelo mundo através dos mais importantes meios de televisão e internet. O vírus, que foi introduzido durante a Copa de 2014, vem resultando em alarmantes casos de microcefalia em bebês. Ultimamente descobriu-se que também pode causar paralisias em adultos e no Texas, um americano contraiu o vírus através de relacionamento sexual.
Há cerca de 20 anos o Zika vírus foi isolado em seres humanos pela primeira vez na África, mais particularmente em Uganda. O nome Zika é proveniente do nome da floresta onde o vírus foi inicialmente identificado, tendo sido isolado pela primeira vez em primatas não humanos em 1947. De Uganda ele teria se espalhado por diversas áreas do mundo até entrar no Brasil em 2014, durante a Copa. Dizem que o vírus foi introduzido por turistas provenientes da África e da Ásia que vieram assistir aos jogos. Desde então, milhares de casos foram registrados, assim como milhares de bebês nascidos com microcefalia (cérebro menor que o tamanho normal).
Recentemente foi iniciado um alerta a turistas que querem visitar países do Caribe, América do Sul e Central. Até os Estados Unidos já foram afetados, com casos registrados em diversos estados, inclusive na Flórida.
O Zika é transmitido através da picada de mosquito. No Brasil, o Zika vírus encontrou no Aedes aegypti o responsável por sua transmissão. O Aedes aegypti é o mesmo mosquito que transmite a dengue, a febre amarela e a febre chikungunya. Há pouco tempo atrás foi registrado nos Estados Unidos um caso de transmissão do Zika via relação sexual. Desde outubro de 2015 mais de 1.5 milhões de casos já foram registrados no Brasil, contra apenas 150 casos em 2014.
Microcefalia
A relação entre zika e microcefalia foi confirmada pela primeira vez pelo Ministério da Saúde brasileiro no fim de novembro de 2015. A investigação se iniciou depois da constatação de um número muito elevado de casos de bebês nascidos com microcefalia em regiões que também tinham sido acometidas por casos de zika. A evidência fundamental para determinar essa ligação foi um teste feito no Instituto Evandro Chagas, que detectou a presença do vírus zika em amostras de sangue coletadas de um bebê que nasceu com microcefalia no Ceará e que acabou falecendo.
Infelizmente, como os casos são muito recentes, ainda não se sabe como o vírus atua no organismo humano, quais mecanismos levam à microcefalia e qual o período de maior vulnerabilidade para a gestante.
Sintomas principais
Os sintomas do Zika vírus são semelhantes aos da dengue, porém o Zika vírus é mais fraco. Os sintomas surgem cerca de 10 dias após a picada e desaparecem entre 4 a 7 dias. É sempre importante a confirmação médica da doença. Os sintomas mais comuns são o de cansaço, febre por volta de 38 graus, dor de cabeça, dores no corpo e articulações, diarreia, enjoos, conjuntivite, manchas vermelhas na pele (coceira e erupção) e fotofobia.
Bebês e crianças pequenas também podem contrair o vírus através da picada, e a doença pode levar até 12 dias para se manifestar. Em princípio, os médicos consideram que a doença não traz risco de complicações como a dengue. Entretanto, há registros de casos de uma síndrome neurológica conhecida como Guillain-Barré, que causa paralisia, e os casos mais comuns são de microcefalia, que é uma malformação do sistema nervoso em recém-nascidos quando a mãe grávida é picada pelo mosquito.
O zika e a síndrome de Guillain-Barré
A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca parte do próprio sistema nervoso por engano. Isso leva à inflamação dos nervos, que provoca fraqueza muscular. O dano nervoso provocado pela doença provoca formigamento, fraqueza muscular e até mesmo paralisia.
Alguns estados do Nordeste que tiveram a ocorrência do vírus zika têm observado um aumento incomum dos casos desta síndrome, como Pernambuco, Bahia, Piauí, Sergipe, Rio Grande do Norte e Maranhão. Em 85% dos casos há recuperação total da força muscular e sensibilidade. Ela pode afetar pessoas de qualquer idade, mas é mais comum entre adultos mais velhos.
Tratamento
Não existe vacina contra o Zika vírus, apenas prevenção combatendo focos do mosquito Aedes aegypti. O tratamento para aliviar sintomas visa a introdução de analgésicos e antitérmicos como o paracetamol. Remédios anti-inflamatórios como a aspirina e ibuprofeno devem ser evitados por causa do risco de sangramento.
Como a dengue pode causar hemorragia e o zika e a dengue têm semelhanças, é melhor evitar os anti-inflamatórios até que o diagnóstico da dengue seja excluído. Especialistas recomendam que um médico deve ser procurado assim que os primeiros sintomas surgirem.
Prevenção
Como o zika é transmitido pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito que transmite a dengue e o chikungunya, a prevenção segue as mesmas regras aplicadas a essas doenças. Evitar a água parada, que os mosquitos usam para se reproduzir, é a principal medida.
Em casa, é preciso eliminar a água parada em vasos, garrafas, pneus e outros objetos que possam acumular líquido. Colocar telas de proteção nas janelas e instalar mosquiteiros na cama também são medidas preventivas. Vale também usar repelentes e escolher roupas que diminuam a exposição da pele.
O Zika no mundo
Pelo menos 22 países e territórios já confirmaram a circulação do vírus Zika, desde maio de 2015. A maioria está localizado no continente americano. São eles: Brasil, Barbados, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa (França), Haiti, Honduras, Martinica (França), México, Panamá, Paraguai, Porto Rico (EUA), Ilha de São Martinho (França/Holanda), Suriname, Venezuela, Ilhas Virgens (EUA), Samoa e Cabo Verde.
Até o momento mais de 30 casos de Zika já foram registrados nos Estados Unidos e 19 em Porto Rico. O promeiro caso de contágio no país foi através de relação sexual. Os demais casos foram de pessoas que viajaram e contraíram a doença no exterior.
Na Espanha, um caso já foi registrado de uma grávida que voltou recentemente da Colômbia. Este é o primeiro caso de Zika registrado na Europa. Existe uma grande preocupação da circulação e aumento do vírus até a chegada do verão europeu.
Devemos estar alertas para o desenvolvimento e aumento dessa epidemia. É importante reconhecer os sintomas e a praticar a prevenção já que essa é uma doença cuja vacina ainda não foi elaborada.
1 Comment
Ana Paola, muito esclarecedor o seu texto, pois ainda há muita confusão com relação aos casos de microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré, bem como as faixas etárias mais suscetíveis a tais doenças. Parabéns, irei compartilhar. Forte abraço!