O tema do post de dezembro ficou rondando a minha cabeça desde o meio do ano. Ficava pensando sobre o que, enquanto psicóloga, eu poderia escrever para nos ajudar a entrar no novo ano com o pé direito. Algo que nos trouxesse não só uma dose de otimismo, mas que pudesse nos fazer pensar sobre a forma como encaramos as situações que, como imigrantes, acabamos vivenciando sempre: os desafios!
A verdade é que, assim como a lista que muitos fazem para um ano novo que se inicia, quando falamos da vida de imigrante, também temos aquela lista de coisas que, com o passar do tempo, alguns itens vão ficando sem o “tique” do check-list, podendo, para muitos, ser motivo de desânimo e decepção, pelo fato das coisas não terem saído como planejado. Mas a verdade é que, mesmo com as coisas não saindo como o planejado, isso não quer dizer, necessariamente, que elas não estejam indo bem, ou que não tenhamos nossas conquistas e sido bem sucedidas em nossas vidas. Acredito que, na realidade, nosso sucesso depende muito mais da forma como enxergamos as situações do que das coisas que efetivamente fazemos ou deixamos de fazer.
Lembro-me que, logo que me mudei pra França, estava conversando com um casal de amigos sobre a decisão de mudar do Brasil e teve algo que eu ouvi que ecoa na minha cabeça até hoje: “Júlia, eu tive que fazer dar certo, fechei todas as portas com o Brasil, pois sabia que se eu deixasse uma frestinha, nos momentos difíceis era pra ela que eu ia olhar e não teria a força para continuar”.
Se a gente parar pra pensar, ouvir essa frase pode ser um pouco chocante, mas, no meu ponto de vista, ela fala muito de como podemos nos colocar diante da vida. Porém, ao contrário do que você pode estar imaginando, eu não vou falar sobre pensamento positivo, que você pode tudo ou sobre atrair as coisas para a sua vida.
O que eu estou querendo dizer é que, muitas vezes na vida, nós precisamos tomar a decisão, precisamos estar firmes com relação ao nosso propósito e isso não quer dizer que precisamos planejar tudo tim-tim por tim-tim e seguir um planejamento, nem que não vamos enfrentar dificuldades, mas que apesar da situação que podemos enfrentar, o nosso desejo está dirigido para alcançar um objetivo que temos.
Pegando o exemplo que esse casal de amigos deu, podemos fazer uma analogia entre a frestinha aberta na porta com uma expressão, em inglês, que meu marido me ensinou e eu achei o máximo que é a “half-hearted decision” – que traduzindo diretamente quer dizer “decisão de meio coração“. Ou seja, vou, mas não vou, me comprometo sem me comprometer; se você pensar em relacionamentos que você tenha vivido, será que isso alguma vez deu certo?
Então, pensando em sua vida, nas decisões que te levaram aonde você está hoje, como será que você tem se relacionado com a sua própria vida? Você tem se doado totalmente a si mesma, ou tem focado muito mais nas coisas que, quem sabe, não saíram conforme o seu planejado ou, quem sabe, ainda está olhando para as portas entreabertas que você deixou? Acredito que esse tipo de atitude faz com que em momentos de dificuldade, ao invés de você juntar as suas energias para fazer com que a situação se transforme em algo que te faça bem, você gaste as suas energias para lamentar pela porta que está aberta mas que, por algum motivo, você não pode entrar.
Procurando por psicólogas brasileiras pelo mundo?
Depois de algum tempo morando fora do país, percebemos que esse é o tipo de decisão que não são todos que conseguem tomar. Passamos por situações difíceis, a saudade aperta, tem dias que gostaríamos de não ter que falar um outro idioma, que a cultura nos irrita e a burocracia, então, nem se fala! Mas, se temos o objetivo (seja lá qual ele for) de fazer o plano imigração dar certo, podemos tentar focar em não termos o ímpeto de comparar com o Brasil (que acredito que, para muitos, pode ser visto como a portinha aberta), de não colocarmos todos os nativos do nosso país de residência em um balaio só, quando sofremos algum tipo de preconceito ou somos destratadas, mas de tentarmos ao máximo fazer com que olhemos as situações a partir de uma perspectiva mais animadora, pois acredito que mesmo no Brasil enfrentaríamos problemas, não é mesmo?
Se eu pudesse te desejar alguma coisa para esse ano novo, seria para você estar com o coração em tudo o que faz! Mas, mais do que isso, que você possa estar com o coração voltado para aquilo que te faz bem em primeiro lugar, que você possa aceitar que você pode fechar algumas portas, deixar de olhar para trás e se focar nas situações que realmente você está vivendo; se redescobrir em meio aos desafios e ver que você pode muito mais do que imaginava! Que você possa olhar para frente e ver que diante de você existem novos caminhos para trilhar e que o ano novo pode ser incrível se você se dedicar ao que fizer com todo o seu coração, construindo o seu feliz ano novo dia após dia!
12 Comments
Júlia, primeiramente, o sul da França é um lugar exuberantemente lindo. Estive de férias em Nice nos meses de julho e agosto desse ano. Amor à primeira vista, que lugar maravilhoso!
Seu texto veio numa hora muito boa, pois tenho passado anos nas frestinhas como você disse: louca para ir embora do Brasil, mas sempre tinha alguma coisa (muito jovem, falta de dinheiro, 05 anos de faculdade, exame da ordem e etc.). Hoje, aos 26, esta vontade está latente e gritando dentro do peito e não posso mais negligenciar isso. Muito obrigada pelo texto.
Oi Indianara! Muito obrigada pelo seu comentário! 🙂 Te desejo um 2018 cheio de realizações! Um beijão!
Amei o texto e super me identifiquei,estou fora do Brasil ha qse 8 meses,na Verdade Fiquei no Canada 1 ano e meio quando conheci meu marido que é americano,fizemos planos de visto de noiva e imigração,Hj ja aqui nos Estados Unidos ha qse 8 meses,muitas coisas diferentes e é bem isso,as vezes bate a vontade de jogar tudo pro alto e então Talvez precise fechar as brexas pra nao voltar atraz…..esse texto super mi incentivou a continuar….Parabéns Julia….e obrigada….
Oi Shirley, obrigada pelo seu comentário! Te desejo um 2018 cheio de coisas boas e forças pra enfrentar os desafios! Um beijão!
Júlia,
Sou sua colega aqui no BPM. Gostaria de dizer que seu texto é lindo, ADOREI!
Feliz 2018!
Beijos,
Lili
Oi Lili, mto obrigada pelo seu comentário! Feliz 2018 pra vc tb! beijos!
Julia, muito obrigada!
Seu texto trouxe para a superfície tudo o que eu precisa entender.
As dúvidas estavam postas. O que eu precisava encarar era o tamanho da fresta. A tão segura zona de conforto. E olha que estou nesse mundão de meu Deus a décadas ?
Que vc tenha um 2018 maravilhoso!
Com muitos artigos iluminados como esse.
Dani
Oi Dani! Muito obrigada pelo carinho! Um 2018 iluminado pra vc tb! 🙂
Oi Julia
Amei o que voce escreveu. Muita coisa bateu firme lá dentro do meu coraçao . Voce está certa, quando diz que devemos colocar o coraçao em tudo que fazemos. Parece que as coisas se tornam mais leve,
tirando o peso das novas e desconhecidas “experiencias ” Um feliz ano 2018 para voce.
Oi Elizabeth! Muito obrigada pelo seu comentário, não tem nada melhor do que receber um feedback desse nesse mundo virtual! Um ótimo 2018! beijos!
Oi Julia,
Somos colunistas da França e “supostas” conterrâneas rsrs. Seu texto é inspirador, parabéns ! 🙂
Eu estou morando na França há quase 5 anos, e tudo o que eu precisava nesse momento era ter lido o seu texto hahaha… “fechar algumas portas e olhar em frente”!
Um Feliz 2018 pra vc! Bjos
Oi Amy! muito obrigada pelo seu comentário!
Também adoro seus posts! Quem sabe um dia desses não nos encontramos não é mesmo? Com certeza teremos oportunidades!
Um otimo 2018! beijos!