Violência contra mulheres na Alemanha.
Gostaria de convidar a todos, homens e mulheres, para refletirem sobre as estatísticas e informações a seguir. Estamos no ano de 2018 e, infelizmente, ainda temos que conversar sobre a violência contra mulheres. Se você, mulher, nunca sofreu algum tipo de agressão, não importando o nível, tente se colocar na posição de quem já passou por isso. Se você, homem, não se interessa pelo assunto, repense sobre sua postura.
Muitas das informações a seguir foram retiradas de artigos do Ministério da Família, Terceira Idade, Mulheres e Juventude (BMFSFJ) e da Organização Frauen Gegen Gewalt (bff) que estão disponíveis online em seus websites.
Às vezes, chegamos a pensar que em países, onde a qualidade de vida e educação são melhores do que estamos acostumados, há menos violência doméstica. Isso é um erro. Aquela capacidade de ser brutal vem de dentro de cada ser, não importando muito as crenças, o status e a região, onde se vive.
Quase a metade das mulheres que vivem na Alemanha (42%), já sofreu violência psicológica. Engana-se quem pensa que a violência psicológica é menos grave. Não sou psicóloga, mas entendo que reduzir a autoestima de uma pessoa é o mesmo que quebrar em mil pedaços sua identidade. É também violência, mas as armas são palavras.
Ainda no mesmo patamar, 40% das mulheres que moram aqui, já passaram por agressões físicas e/ou sexuais. Apenas um terço daquelas que se machucaram, procuraram ajuda médica especializada. Quase a metade (47%) das mulheres que sofreram violência sexual, não contou a ninguém.
Muitas crianças assistem às cenas de violência contra suas mães e carregam as consequências por toda a vida. Nem sempre elas estão presentes na hora da agressão, mas entendem indiretamente o que aconteceu. Infelizmente, estes menores podem apresentar quadros de depressão e pânico, e também acreditar que são responsáveis pelo ocorrido de alguma maneira.
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Em 2002 foi criada uma lei de proteção contra a violência na Alemanha. É uma tentativa de proteger as mulheres e crianças nesta situação, envolvendo uma rede de especialistas como polícia, conselheiros, médicos etc. Basicamente, a lei transforma aquela antes denominada “briga familiar” em delito. O slogan desta lei era “Quem bate que sai” para mostrar que as mulheres que são agredidas não precisam fugir. Aquele causador da violência que deve se retirar, sendo proibido de manter contato e se aproximar da vítima.
Se você que estiver lendo este texto, sofre com alguma violência desses tipos mencionados acima e estiver procurando por ajuda, há duas coisas que pode fazer:
– Ajuda via telefone: o número 08000 116 016 funciona em toda Alemanha de forma gratuita. Não se preocupe se não conseguir falar alemão, pois eles contam com tradutores prontos para ajudar. Clicando aqui é possível acessar ao folheto em diversas línguas. Através desse número, muitas pessoas estão prontas e preparadas para lhe ajudar a sair dessa situação. Não tenha medo se você não estiver em situação regular. A consultoria é gratuita e pode ser de forma anônima.
– Frauenhaus (casa para mulheres): talvez você não saiba, mas na Alemanha há muitas casas para receber e acomodar mulheres vítimas de agressão. Normalmente elas dispõem de um telefone 24h e estão de portas abertas para sua chegada a qualquer momento do dia e da noite. A pesquisa pode ser feita pelo Google, mas também através deste link. Indique seu CEP, nome da cidade, raio de distância aceitável da sua casa, sua língua materna, se a casa de mulheres precisa aceitar crianças e animais de estimação etc. Um exemplo é esta Casa de Mulheres Cocon em Berlim. A maioria das mulheres que procuram este abrigo, é de origem imigrante, e por volta de 20% das mulheres em geral acabam voltando para sua rotina de violência em casa.
Lista de Associações de ajuda às vítimas de violência doméstica pelo mundo
Violência não é amor, mesmo que o motivo seja o famoso ciúme. Algumas pessoas pensam em continuar em um relacionamento abusivo porque já investiram muito tempo nele e acreditam que o outro irá mudar sua forma de comportamento. Raramente isso acontece.
Ninguém pode obrigar uma pessoa a procurar ajuda, podemos apenas indicar os caminhos. Muitas coisas virão à cabeça daquela que sofre, inclusive a vergonha de contar sobre os maus-tratos. Gostaria apenas de lembrar que são muitas mulheres que passam pela mesma situação. Entretanto, apenas como uma palavra de gentileza, estou me permitindo dizer que todas nós temos o nosso valor, e esse não pode ser destruído por quem quer que seja.
Espero ter ajudado com essas informações!
7 Comments
Excelente texto.
Sabe me dizer se existe alguma lei contra assédio moral no trabalho aqui na Alemanha?
Danke!
Hallo, Denise!! Obrigada pela visita e comentário!
O assédio moral (na Alemanha chamado de Mobbing) em empresas não é, a princípio, considerado um delito. A não ser que interfira realmente no bem-estar físico do assediado, em casos extremos de mobbing.
O que fazer? O que especialistas aconselham é:
-Primeiro= Tentar refletir sobre o motivo de os agressores estarem cometendo o assédio.
-Segundo= Conversar diretamente com a pessoa assediadora de modo privado. Tente mostrar que não aceita o papel de assediado e que está ciente do que acontece, esperando por mudanças de conduta. (normalmente, o assediador não espera que o assediado saia do papel de vítima, e muitos casos realmente param por aí)
-Terceiro= Nada funcionou, converse com o chefe. A empresa sim tem obrigação legal (parágrafos 617 – 619 do código civil) de proteger seus trabalhadores. O chefe tem que tentar resolver o problema.
-Quarto= Em casos mais sérios, onde realmente nada ajuda e o assédio fica cada vez mais agressivo e pessoal, aconselha-se juntar provas, como e-mails, bilhetes etc.
Na realidade, o mobbing é encarado como um risco do convívio social pelos tribunais. Apenas em casos que o assédio atinge o bem-estar físico do assediado, que há mais chances de ganhar esse processo na justiça na Alemanha.
No caso dos assediadores, o chefe pode e tem motivos para demití-los caso nada se resolva.
Sou brasileira e moro na Alemanha há 7 anos, e fui vítima de violência psicológica, stalking e assédio por parte do meu ex-namorado alemão. Fui ajudada por uma terapeuta especializada em vítimas de stalking, pela minha médica de família e uma advogada especializada em violência contra a mulher que trabalhava na época em uma Frauenhaus (eu mesma não precisei morar em uma Frauenhaus). Depois de 4 cartas jurídicas oficiais ordenando-o em vão que parasse com seu comportamento ofensivo e violento (ele fazia terror psicológico), eu o levei à Corte da Família por Stalking, terror psicológico e assédio. A juíza então emitiu contra ele uma ordem de proteção, ou seja, ele não pode entrar em contato comigo de nenhuma forma, eletrônica ou não, e tem que se manter a um mínimo de 10m de distância de mim. Foi multado em €1000 e teve que pagar os custos do processo e dos advogados (um total de 4000€), e se ele violar a ordem de alguma forma, ele irá ser fichado pela polícia, a multa irá aumentar e ele pode perder a licença de trabalho dele, causando assim o fechamento de suas 3 clínicas e seu impedimento de trabalhar na área (é fonoaudiólogo).
Apesar de haver violência contra a mulher na Alemanha, e os homens alemães na área onde eu morava (zona rural da antiga Alemanha oriental) ainda terem o sentimento de “posse” em relação à mulher que eles consideram como “suas”, a Alemanha tem um sistema extremamente funcional e muito interessante para proteger essas mulhere! Se alguém precisa de ajuda, vá atrás, você irá ser ajudada! E se alguém está passando por uma situação semelhante à minha e quiser conversar sobre o assunto, estou à disposição, é só me enviar um mensagem. Ninguém tem que aguentar violência de nenhum tipo!
Camila,
Primeiro de tudo, parabéns pela força e coragem! Isso mesmo, ninguém tem que aguentar violência de nenhum tipo.
Muitas mulheres, principalmente as imigrantes, acreditam que nada acontecerá se procurarem ajuda, mas elas serão sim ajudadas!
Segundo, gostaria de lhe agradecer pelo testemunho deixado aqui. Tenho certeza de que encorajará aquelas que vieram até aqui buscando ajuda.
Desejo a você um ótimo recomeço na vida!
Um abraço
Oi Camila eu qria conversar com vc
Oi Débora, desculpe a demora em responder mas o site não me avisa qdo há comentários aqui. Me manda um email no crsouza.teacherinterpreter@gmail.com e a gente então troca telefones de forma mais discreta e bate um papo. Abraço
Oi Débora, desculpe a demora a responder. Pode entrar em contato comigo que a gente bate um papo. Abraço.