Como podemos transformar o lugar onde vivemos?
Recentemente, estava lendo um livro em que o autor me pegou de jeito com uma frase sobre imigração:
“Já sabiam os gregos que o pior castigo não é a morte, e sim o desterro; essa condenação que leva a pessoa a viver em um lugar do qual não faz parte e onde não reconhece a si mesmo” (Encontros, Gabriel Rolón)
Atire a primeira pedra aquela que já se mudou e não sentiu na pele, pelo menos por um momento, essa sensação, essa angústia de estar em um lugar que não sente como sendo seu, onde as coisas não fazem muito sentido, passando pela cabeça a pergunta do “que raios estou fazendo aqui?”.
Para uma outra parcela de pessoas, essa frase começou um pouco antes, talvez na cidade de origem por não se identificar com muitas coisas, ou por haver dentro de si um sentimento de querer conhecer o mundo.
Fico pensando sobre esses sentimentos e questiono se existe a possibilidade de um lugar físico nos proporcionar a sensação de “fazer parte” simplesmente por ele, lugar, existir, sem que haja algo de nós que sinta que faça parte dele, algo de nós que faça com que esse lugar possa nos trazer esse aconchego.
Penso que a vida nos traz o tempo todo um pouco desse sentimento de desterro, de incompletude, de questionamentos. Tenho pra mim que parte do ser gente é se questionar, é olhar pros lados e pensar sobre o que está acontecendo e, através dessa realidade que se apresenta, encontrar motivação e razão para seguir novos planos (ou planos renovados), para a cada dia continuar em frente, tornando as coisas mais interessantes ou, por que não dizer?, deixando as coisas um pouco mais nossas. As coisas com um pouco mais de nós. Por que, cá entre nós, se existisse uma plenitude total, e tudo estivesse 100%, o que faria com que quiséssemos nos movimentar?
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Mas, voltando ao início do post, como podemos transformar onde vivemos em um lugar onde podemos nos reconhecer? Por que essa sensação aparece no momento em que enfrentamos mudanças ou problemas como, por exemplo, quando nos vemos em cidades em que não nos identificamos com muita coisa, com dificuldade de se comunicar e tendo que lidar com problemas que nunca imaginamos? Ou mesmo que as coisas não estejam difíceis a esse ponto, às vezes temos dias complicados e é duro encontrar um sentido no meio do furacão, tornado ou do vendaval.
Um primeiro passo, sem dúvida, é aceitar que da mesma forma como os dias bons vêm e precisam ser apreciados, os dias mais difíceis também chegam, e fingir que eles não estão aí, negar nossa tristeza, lutar contra, controlar ou passar por cima não permite com que a gente verdadeiramente viva o sentimento e possa atravessá-lo. Inclusive, já escrevi esse texto do qual gosto muito, falando mais sobre essa questão.
Penso nisso como se fosse uma ponte ou um caminho, para chegar em outro lugar é preciso passar através, e quando falamos de um sentimento de tristeza é preciso vivê-lo: aceitar que ele existe, nomeá-lo, se permitir chorar e ficar chateada, aceitar que existem coisas que não podemos controlar e assim poder iniciar um novo tempo de conviver com o que nos angustia, para que aos poucos ele possa ir tomando uma outra proporção. Não quer dizer que vamos esquecer ou que não vai doer, mas com certeza passar por esse processo vai permitir que os sentimentos tomem outra dimensão!
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Acho válido lembrar que muitas vezes é preciso falar sobre nossos sentimentos. Acredito que através da fala é que podemos nos escutar e podemos então, de fato, refletir sobre o que sentimos e assim encontrar uma nova forma para enfrentar a situação. Seja no sentido de aceitá-la, seja no sentido de planejar as decisões necessárias para poder mudar nossa realidade! Você pode e deve sempre falar com aqueles que você ama ou também pode procurar um psicólogo. É para isso que existe a Psicologia! Um psicólogo é aquele que pode ouvi-la de uma outra maneira, para ajudá-la a passar por esse caminho. Trabalho com atendimento online para brasileiros e nesse post do BPM falo um pouco sobre como funcionam os atendimentos e como foi a minha decisão de trabalhar o online.
Um segundo passo seria o de ver o que existe à sua volta e ver o que está ao seu alcance para ser transformado. Digo isso na conotação mais ampla, como decisões em sua vida que podem ser adotadas no sentido de mudanças a serem feitas no rumo que as coisas estão tomando, seja no sentido de emprego, aprendizado ou relacionamentos, porque qualquer mudança começa com um pequeno passo. Um exemplo que eu gosto muito é que mesmo o mais grandioso castelo começou com uma pequena pedra ou tijolo!
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No entanto, é bom lembrar que mudanças pequenas e até mesmo físicas contam muito na forma como nos sentimos: suas roupas, os móveis e itens de decoração da sua casa, seus acessórios e até mesmo os utensílios que você usa na cozinha podem influenciar na forma como está o seu ânimo! Por exemplo: se você gosta de cozinhar e está em um apartamento alugado, todo mobiliado, inclusive com apetrechos de cozinha e estes são terríveis, isso pode fazer com que algo simples que poderia alegrar o seu dia se torne uma verdadeira tortura!
Então, pense nas coisas que podem roubar a sua alegria, nem que seja por um pouco, e tente fazer com que a sua casa, seja onde for, tenha um pouco de lar! Que sua vida tenha mais a sua cara!
Pode ser que isso demande algum investimento, mas use a criatividade, não só nos bens materiais, e veja tudo o que você pode transformar ao seu redor para que não se sinta uma estrangeira na sua própria vida!