Acessibilidade para deficientes físicos nos EUA.
Acessibilidade não é um tema que se discute muito por aí apesar de sua grande relevância. Decidi escrever o texto justamente por esse motivo. Gostaria de dedicar esse texto aos leitores do Brasileiras Pelo Mundo que possuem algum tipo de deficiência física e aproveito o espaço pra dizer que se você tem deficiência, você não é menos que ninguém. Você também pode estudar, trabalhar, viajar, se divertir e ter uma vida digna como qualquer outra pessoa. É seu direito e é dever de toda a sociedade lutar por isso.
O deficiente físico no Brasil vs. o deficiente físico nos EUA…
A grande verdade é que quando não sofremos na pele ou não possuímos um ente querido na família que necessita de um tratamento diferenciado, devido a limitações físicas, a gente nem pensa no assunto. Eu entendo, comigo também era assim. De acordo com dados do Banco Mundial, aproximadamente 15% da população mundial possuem algum tipo de deficiência física. Desse total, quase 90% delas vivem em países em desenvolvimento, e este mesmo percentual também é aplicado aos que estão em idade produtiva, mas vivem sem emprego. Mas apesar das estatísticas, esse não é um tema muito comentado. De acordo com a organização brasileira Rede Mobilizadores, nosso país não possui se quer UMA cidade completamente acessível para pessoas com deficiência visual, auditiva, cognitiva e/ou com mobilidade reduzida.
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Mas deficiência física não é apenas uma condição estatística. A deficiência e seu nível de gravidade estão diretamente relacionadas ao meio em que o deficiente vive. Isto é, se as cidades brasileiras oferecessem condições para uma pessoa em cadeira de rodas sair de casa e chegar, em tempo aceitável, a um ambiente de trabalho digno, e depois do trabalho ir ao teatro, por exemplo, achar um lugar bom para ver a peça, essa deficiência já não seria qualificada como tão grave nos índices de mobilidade. O problema é que quando uma cidade não é acessível, qualquer deficiência se torna mais séria, pois as pessoas em idade produtiva não conseguem chegar no trabalho e crianças e adolescentes acabam, muitas vezes, deixando de estudar, porque não contam com escolas e/ou universidades acessíveis para elas. O fator socialização então, esquece…
Quando mudei para os EUA, o dono da casa onde eu vivia tinha problemas de locomoção. Ele vive em uma cadeira de rodas desde os 17 anos de idade, pois ficou paraplégico após sofrer um acidente. Para a minha surpresa, ele participa de competições de bicicleta, esquia durante o inverno, vai a praia no verão, viaja, dirige, mora sozinho, trabalha e tem uma vida social super agitada. Ou seja, ele faz tudo que uma pessoa sem deficiência física faz e leva uma vida praticamente normal, dentro de suas limitações e com as devidas adaptações. E por que? Porque diferentemente do Brasil, aqui nos EUA pessoas com limitações físicas são respeitadas e incentivadas a terem uma vida digna.
De acordo com os dados do U.S. Census Bureau a cada cinco norte-americanos, um deles possui algum tipo de deficiência física. Eles representam 19% da população dos Estados Unidos. A diferença é que aqui a sociedade não os exclui, não os esconde, não os discrimina e nem os faz sentir diferentes. O Departamento de Justiça dos EUA, criou, através do “Americans with Disability Act”(ADA), uma espécie de guia, delineando os requisitos mínimos de acessibilidade para edifícios e instalações, para que deficientes possam ter acesso a qualquer estabelecimento comercial, hospitais, bancos, escolas e universidades, prédios residencias, igrejas, hotéis, parques, meio de transporte público, aeroportos, rodoviárias, portos, ou qualquer outro lugar.
Aqui é obrigatório que todo estacionamento, público ou privado possua pelo menos 2% de vagas reservadas a deficientes físicos, as calçadas possuem rampa para que os cadeirantes possam se deslocar, os sinais de trânsito emitem sons, para que os deficientes visuais possam atravessar a rua despreocupados, os elevadores possuem números em braille, os ônibus são adaptados para que o cadeirantes possam utiliza-los, as estações de metrô possuem elevadores, os hotéis, por lei, devem ter quota mínima de quartos adaptados para deficientes, hospitais, escolas, universidades, igrejas, e estabelecimentos comerciais devem ser acessíveis em todos os sentidos, desde o estacionamento até os banheiros. E o melhor de tudo isso? Aqui a lei é cumprida e o deficiente é respeitado. O resultado? Temos deficientes físicos incorporados em todos os setores da sociedade, pessoas brilhantes, que trabalham como professores, advogados, juízes, diplomatas, gerentes, CEOs. Aqui nos EUA já tivemos, inclusive, um presidente com deficiência física, Franklin Roosevelt, e ele entrou pra história…
Como é a acessibilidade em Washington, DC?
Aqui, na capital norte-americana, onde fica o Departamento de Justiça e sede do National Network da ADA, temos uma cidade bastante acessível. Recebemos milhares de turistas e pessoas que vem a trabalho todos os anos e a indústria de hospitalidade da cidade está pronta para receber visitantes com necessidades especiais. Em alguns pontos turísticos, como o Memorial da Guerra do Vietnã, há o empréstimo gratuito de cadeiras de rodas sabia? Se você é deficiente e está planejando uma visita, seguem algumas dicas abaixo:
Metrô e ônibus: Washington possui um dos sistemas de transporte público mais acessíveis do mundo. Além de um site abrangente descrevendo serviços disponíveis para visitantes com mobilidade reduzida. Foi compilado, inclusive, guia de opções de transporte acessíveis em toda a região.
A empresa ScootAround oferece aluguel de scooters e cadeiras de rodas por um período mínimo de três dias, semanalmente ou por períodos mais longos, para que você possa se deslocar pela cidade com conforto e facilidade.
Embora todas as atrações e instituições culturais do DC sejam acolhedoras e acessíveis aos visitants deficientes físicos, as seguintes atrações mantêm sítios eletrônicos que descrevem seus recursos de acessibilidade, incluindo rampas, passeios interpretados por linguagem de sinais e cadeiras de rodas:
• Hillwood Museum & Gardens
• International Spy Museum
• John F. Kennedy Center for the Performing Arts
• Biblioteca do Congresso
• National Gallery of Art
• Shakespeare Theatre Company Harman Center for the Arts
• Smithsonian Institution
• Washington National Cathedral
• Casa Branca
• Woolly Mammoth Theatre
Quais são as cidades mais acessíveis nos EUA?
De acordo com a organização Wheelchair Travel, as cinco cidades norte-americanas mais acessíveis são: Seattle, Boston, Washington, DC, Las Vegas e Chicago. Quer saber mais informações sobre essa cidades? Da uma espiadinha nos textos do Brasileiras Pelo Mundo.
Quer visitar outras cidades, mas tem receio pois não tem certeza se são cidades acessíveis ao deficiente físico? Não deixe de fazer nada que você almeja fazer por conta de uma limitação física. Você pode, você merece e você consegue! A Wheelchair Travel tem um guia sobre diversas cidades americanas e suas acessibilidades. Clique aqui para maiores informações.
Continuem acompanhando o Brasileiras Pelo Mundo. Vem muita informação bacana por aí.
2 Comments
Amei o pôster. Eu sou deficiente física (sou amputada na perna direita e uso prótese). Quero muito ir para os EUA mas tenho medo e vergonha pela política da acessibilidade.
Queria muito viver fora e ter um emprego (sou formada em Direito) e estou encontrando barreiras para encontrar um emprego no Brasil(passei varias discriminações por conta de minha deficiência na busca por emprego esse ano); estou vivendo de favores. Fui abandonada pelos meus pais biológicos ao nascer; vivo sozinha em São Paulo. Com muita luta terminei minha graduação em dezembro.
Meu sonho é aprimorar meu inglês e viver uma vida que eu tenho certeza que tenho direito.
Você tem alguma dica de emprego para mim nos EUA ?!
Grata
Amei tudo que li até agora.
Obrigado pelas palavras? Sou PCD, problema de locomoção e penso em ir p/ EUA, mas com muito receio sob aceitação e etc.
Poderia me orientar?
Aqui no Brasil, existem cotas p/ PCD, lá fora eu nao tenho a minima ideia.
Desde Já, obrigado.
Att.,
LUIZ HENRIQUE