Comida Halal ou não-halal?
A primeira vez que saí do Brasil, quase uma década atrás – caramba, isso tudo mesmo! -, fomos morar em Houston, Texas. Eu ainda apegada, cheia de saudades da terrinha e como boa carnívora que sou, tratei de saber onde poderia achar a nossa queridinha picanha. Com uma grande comunidade brasileira na região, achar picanha em Houston não foi tarefa árdua. Fui encontrá-la numa parte distante da cidade, num mercado tipicamente árabe, chamado “Jerusalém”. Lá dentro, entre muitos outros produtos típicos, tinha um açougue (coisa não muito comum de se ver nos Estados Unidos nesses dias), e os açougueiros já sabiam quando chegávamos lá pedindo a tal da “p-i-c-a-n-h-a”, assim mesmo em português. Lembro que via na entrada desse lugar uma placa bem grande, em inglês dizendo: “toda carne aqui é halal”. Mas eu não fazia ideia do que era isso. Também na época eu nem queria entender, só queria mesmo era garantir o churrasco de domingo – desde que não fosse hambúrguer e salsichas de hot-dog.
Anos depois, viemos morar no Oriente Médio. E em Dubai de cara reparei que em todos os lugares carne só era a tal “halal”. Aí fiquei curiosa e fui pesquisar. É mais ou menos assim: os muçulmanos comem carne, mas de acordo com a religião, essa carne somente pode ser consumida se for “halal”. Mas então, o que torna uma carne halal?
A palavra halal em árabe significa “admissível”, que implica que as regras do abate do animal se baseiam nas leis islâmicas. Existem várias condições necessárias para uma carne ser reconhecida como halal. A primeira condição é que o animal que vai ser sacrificado precisa estar saudável. O animal deve ser alimentado normalmente, e alguns detalhes devem ser respeitados, como por exemplo dar água ao animal pouco antes do abate. Outra regra é que os outros animais não podem assistir seus iguais sendo abatidos.
Segundo as condições do halal, o abate deve ser feito de forma em que o sofrimento do animal seja o mínimo possível. Para isso os muçulmanos posicionam o animal na direção de Meca (lugar sagrado para a religião, localizado na Arábia Saudita), e usam o método de um golpe único com uma lâmina afiada, que degola o pescoço do animal de uma só vez. Isso vale para bovinos, frangos, cordeiros e ovelhas. Assim, eles acreditam que a morte do animal é menos dolorosa e mais rápida. Mas antes disso, o Alcorão (livro sagrado para os muçulmanos), deve ser recitado em voz alta. O porco é o único animal que é completamente proibido para o consumo dos muçulmanos. Comer porco é considerado um grande “haram”, que quer dizer pecado em árabe. Depois falo um pouquinho mais sobre isso num próximo artigo.
Hoje em dia a maioria das pessoas compra carnes nos supermercados já embaladas e prontas para consumo, mas antigamente era muito comum para as famílias árabes (e inclusive para as crianças) presenciarem o momento em que um animal era abatido para se tornar a próxima refeição. O sacrifício feito de acordo com as regras halal é uma maneira de expressar o agradecimento a Deus e também um ritual de respeito ao animal, que morre para nos dar alimento.
Esse ato é considerado tão importante que mesmo nos dias de hoje, em grandes celebrações como um casamento, por exemplo, ainda é possível presenciar esse momento em que um animal é abatido no meio da festa para o consumo dos convidados.
O Brasil é um dos principais exportadores de carne e frango para os países do Oriente Médio. Tenho alguns amigos que trabalham na área e todos já me comentaram sobre o processo, e que existem trabalhadores muçulmanos no Brasil especializados no abate halal. Essas pessoas estão lá para certificar a conduta desse processo e assim dar o selo halal de qualidade ao produto. Essa qualificação para a carne é de extrema importância para os seguidores da religião islâmica, afinal o consumo de carne só é permitido se a mesma contiver o selo halal.
Eu confesso que tenho calafrios ao imaginar toda essa matança, mas ainda não evoluí o suficiente para abandonar a carne, frango, porco e peixe da minha dieta. Sou apaixonada por um steak, um franguinho, uma linguicinha de porco, um peixe grelhado… Hum…
E você, o que acha do processo conhecido como halal? Você já tinha ouvido falar nesse termo? Compartilhe seus comentários e experiências aqui conosco e mês que vem, maio, eu volto com um tema relacionado ao dia das mães aqui no Oriente Médio.
2 Comments
Eu acho bem bacana esse método halal. Apesar da matança dos animais ainda ser um tópico difícil de aceitar como “correto”, pelo menos você sabe exatamente como é feito, e que o abate foi pensado no conforto do animal, para que ele passe o mínimo de sofrimento possível. Bem diferente da realidade dos abatedouros comuns. Meu padrasto conhece uma pessoa que trabalhou em abatedouros halal, ele me contou exatamente como era, o cara tinha que supervisionar se o Alcorão estava sendo recitado corretamente haha
Olá Byad, realmente o halal é um método muito interessante. Obrigada por compartilhar conosco a história contada pelo seu padrasto. Um grande abraço