A Bélgica é um país pequenino de 30.000 km², basicamente, do tamanho de Alagoas, porém não pensem que por ser pequeno esse é um país simples, nananão! Ele é na verdade bem complicado e nesse texto eu peguei pra mim a tarefa de tentar explicar um pouco como as coisas aqui funcionam.
Para entender o porquê de tanta complicação precisa se entender que a Bélgica é um país dividido. No norte fica a região de Flandres e no Sul a região de Valônia. No meio desses dois tem Bruxelas, a capital. As línguas oficiais do país são o holandês, o francês e o alemão. Você indo pro Norte nem sempre vai encontrar gente que fale francês e indo pro sul, vai ser bem difícil encontrar gente falando holandês e o alemão só é falado num pedacinho ao leste do país. A grande confusão se faz principalmente em Bruxelas e por isso eu vou deixar para explicá-la por último.
Comecemos pelo Norte, a região de Flandres, apesar de cada cidade ter sua especificidade aqui podemos ver uma Bélgica que para além do neerlandês, fala bastante inglês (quase todo mundo). As bicicletas são muito
mais utilizadas como meio de transporte do que nas outras partes do país. Eles também tendem a ser a região com mais recursos financeiros. A principal cidade, considerada a capital dessa região é a Antuérpia, mas também temos outras bem conhecidas como Leuven, Gent e Brugges.
Já no Sul, na Valônia, é uma Bélgica que basicamente só fala francês, porém possui também uma pequena comunidade que fala Alemão. Eles também são menos homogêneos, as cidades tem hábitos e culturas bem diferentes umas das outras. A principal cidade e a capital da região é Namur, mas as outras também importantes são Charleroi, Mons e Liége.
E a região da capital, ficando quase no meio, mas geograficamente dentro do território de flandres é Bruxelas. A cidade é considerada bilíngue, mas na prática a maioria da sua população fala francês. Mas porque, se a
cidade é bilíngue, a maioria fala francês? É porque holandês é mais difícil de aprender? É porque tem mais migrantes? Essas eram as minhas perguntas e é ai também que a coisa por aqui complica.
Apesar de ser uma monarquia parlamentarista constitucional, a Bélgica tem uma maneira bem diferente de se organizar. Dependendo do assunto a lei vai ser federal, então vai valer para todos, regional e ai vai mudar de uma região geográfica para outra, ou comunal e isso vai mudar de uma comunidade linguística pra outra.
Cabe ao Federal cuidar de assuntos como: Direito civil, as empresas públicas, defesa, nuclear, política estrangeira, justiça, seguridade social etc. Já ao Regional cabe: A política econômica de sua região, a política de empregos, planejamento dos territórios e urbanismo, proteção ambiental, políticas de moradia etc.
E as Comunidades cabem todos os assuntos de língua, cultura e bem estar. E nisso está incluído por exemplo Educação, e a língua utilizada nos procedimentos administrativos.
Em Bruxelas, apesar de ser bilíngue, o ensino é dividido entre a sua comunidade específica. Você pode escolher colocar seu filho numa escola que fala holandês ou uma escola que fala francês e muitas vezes escolher uma língua significa não aprender a outra. E isso não te impede de muitas vezes usufruir dos serviços de uma ou outra comunidade, o que vai mudar vai ser somente a língua que o serviço vai ser oferecido. Entenderam o drama né?
Outro problema é que muita gente prefere morar nas cidadezinhas no entorno de Bruxelas, para continuar perto do trabalho e das facilidades da cidade grande, mas ainda assim ter uma vida mais calma de cidade pequena. E como Bruxelas é dentro da região de flandres, isso pode significar ter que lidar com todo o serviço administrativo em holandês. Mesmo você sendo estrangeiro e explicando a sua situação, eles insistem no uso exclusivo do holandês. (Nem inglês aceitam).
E por isso também que muitos procedimentos válidos para a parte francesa não serão os mesmos válidos para parte holandesa (nem para a parte alemã). Junte isso a um certo surrealismo belga e alguns atendentes administrativos incompetentes, você tem cenários propícios para dores de cabeça aguentando burocracia.
Apesar de complicada a gente vai aprendendo aos poucos a desvendar o quebra-cabeça que pode ser a Bélgica. Vai descobrindo histórias irritantes, outras engraçadas e no final, aprendemos que apesar do “jeitinho brasileiro” irritar algumas vezes, poderia ser o “jeitinho belga” (onde a gente nunca sabe onde a regra vai ser exigida ou se vai ser inventada) que é mais caótico e acreditem, pior!
Mas como eu gosto de dizer, não há problema na Bélgica que um bom chocolate ou uma boa cerveja belga não ajudem a aliviar no final do dia!
12 Comments
Boas explicações, Bia – parece que morar na Bélgica é um quebra-cabeça infinito! Acho que o que complica mais, no fundo e no meio disso tudo, é esse leque de línguas que a pessoa meio que se obriga a ter que falar pra viver uma vida mais funcional, por assim dizer. No mais, a organização dos serviços e legislativa é bem parecida com a da Dinamarca, com a diferença de que aqui se usa dinamarquês somente (ou inglês, no caso dos expatriados, mas só nas informações eletrônicas – na polícia ou outros serviços, o dinamarquês é a língua). Acho que agora descobri por que meu ex-professor de francês (que é belga da Antuérpia) parecia um ser tão confuso pra mim, deve ser esse monte de mudança que afetou a cabecinha dele, hahaha! Beijos
O texto esta perfeito, realmente quebra cabeças é uma coisa que encaixa o que nao é o caso aqui, parece que esta sempre faltando uma peça. E só para você entender mais um pouquinho Cristiane Leme, é um espanto o que os belgas expats são capazes de fazer para sobreviver.Um belga de Antuérpia ainda por cima, dando aula de Francês para sobreviver, só mesmo no exterior. Anvers que é o outro nome de Antuerpia aqui, é uma das cidades mais racistas, nunca ninguém te responde em francês por lá, nem pedindo pelo amor de deus
A Belgica e a Suica são bem parecidos neste quesito, somente que aqui a briga maior é devido ao fato de nas escolas ser obrigatório aprender alemão HOCH DEUTSCH, mas as Suicos da parte alemã falam dialetos, entao existe uma grande discussão principalmente por parte os francofonos que não gostam/nao se interessam ou sentem dificuldade de aprender línguas estrangeiras. Mas enfim, no final eles aprendem pois não é opcao, os alemos aprendem francês sem problemas e inglês. os italianos coitados aprendem alemão correto, francês, o dialeto alemão, e italiano. Mas no final eles é saem ganhando com tantos conhecimentos de língua, o mercado de trabalho tem suas portas abertas. O problema com a língua é que junto com ela vem a influencia cultural, e em termos políticos isto nem sempre é bem resolvido. Aqui na Suica, a parte francesa quer sempre “mais pelo social”enquanto a parte alemã, pensa mais em produtividade e desenvolvimento, a parte francesa por ser menor, se sente sem voz, pois em eleições nacionais, sempre perdem pra parte alemã que é mais populosa. Sei que na Belgica o problema é ainda mais grave tendo momentos politicos dramáticos em 2010 http://www.euractiv.com/culture/eu-high-court-condemns-flanders-news-519178. Muito interessante seu artigo! Parabens!
Muito esclarecedor seu texto, Bia! A situacao eh mais complexa do que eu imaginava. Fiquei curiosa. Afinal de contas, vc fala o frances ou holandes? Rs bjs
Bem colocado, Bia ! O que eu acho uma pena é que, por causa dessa particularidade da Bélgica, tenho amigos que moram em outra região e parece até que eles moram em outro país. Os assuntos e os problemas deles não são os mesmos que eu conheço e quando eu converso com brasileiros que moram fora de Bruxelas vejo que a gente não conhece o que acontece na região do outro. O que um país dividido pela língua não faz ! Ainda bem que pelo menos a cerveja, o chocolate e as batatas fritas são um bem comum !
Gostei do texto só não concordo com a parte que diz que quase todo mundo fala inglês. Estou a nove semanas na Bélgica, nao falo flamengo e meu francês é básico, assim muitas vezes tenho que me comunicar em inglês. Com excessao da zona do Parlamento em Bruxelas, nas outras cidades – do Sul e do Norte da Bélgica, poucas pessoas falam inglês.
Parabéns pelo texto, bjs.
Pingback: Bélgica – Estudando – Parte I
Alguém poderia indicar um curso de inglês intensivo em Bruxelas?
Olá Denize,
A Bia Noronha parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Bélgica que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
Belo texto.
Já estive na Bélgica, quero voltar esse ano p estudar Inglês em Universidade, mas tbem quero aprofundar meu “Frances” e aprender o Neerlandês no centros sociais belgas, q são mais baratos.
Podem me indicar por onde devo começar, uma escola, universidade em Bruxelas ou/e alguém q possa me dar essa consultoria? Obg.
Olá Ademar,
A Bia Noronha parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Bélgica que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM